31 dezembro, 2007

A Bússola de Ouro (The Golden Compass)




O homem e geral, e o cinema em particular, parecem ter uma certa fixação pelo 3. É quase inacreditável a recorrência do número em diferentes usos, sempre no sentido de três coisas formando uma outra, maior. A adaptação cinematográfica da série Fronteiras do Universo, de Philip Pullman, foi anunciada como a maior trilogia do cinema desde Senhor dos Anéis. Os livros em que se baseia, assim como os de Tolkien, são fartos de descrições fantásticas e relações profundas. Pullman tem uma vertente um pouco mais metafísica, unindo pitadas de conhecimento científico a simbologias religiosas. O mundo que é base da aventura tem uma interessante peculiaridade: cada pessoa possui um animal que lhe faz companhia constante, compartilhando emoções e até sensações físicas; como apresentado pelo autor, é como uma alma, externa à pessoa, chamada daemon. Além dessa, várias outras referências místicas do gênero estão presentes.

A produção teve uma história longa, com trocas de diretores e roteiros, até que Chris Weitz ficou com os dois. Ele foi um dos roteiristas de Formiguinhaz, o segundo longa de animação de um grande estúdio, e escreveu e dirigiu o simpático Um Grande Garoto. Infelizmente não cheguei a ler o livro em que o filme se baseia antes de assisti-lo - um erro, admito. Mas não é difícil perceber que vários cortes e exclusões foram necessários para que a história coubesse nas curtas quase duas horas da versão final. Havia, certamente, muito a se falar - e isso aparece nos vários níveis em que a história entra de relance em certos momentos.

O que a produtora poupou no roteiro, utilizou no resto. A produção é excelente, a utilização dos efeitos especiais é ótima, e o elenco é grandioso. Uma pena utilizarem tão pouco - pelo menos nessa primeira parte - de nomes como Christopher Lee e Eva Green. Mas é um prazer conhecer Dakota Blue Richards, a garotinha que protagoniza a fita e mostra muita desenvoltura na sua primeira atuação no cinema.

A sensação de que poderia ser algo mais é inevitável. Não são poucos os momentos em que vemos uma história complexa e profunda aparecer na superfície, para logo depois mergulhar novamente. Algo fez com que a New Line não quisesse apostar alto nesse filme - talvez o fiasco Eragon a pouco mais de um ano - mas, aparentemente, há aqui algo que vale muito a pena ser contado da maneira certa. Não há ainda rumores da produção da segunda parte, A Faca Sutil. Esperemos que uma revisão seja feita e que não apenas continuem a trilogia, mas também que explorem nas duas partes que faltam o que esta deixou a desejar.

30 dezembro, 2007

Santos e Demônios (A Guide to Recognizing Your Saints)




Vez por outra no cinema somos surpreendidos por um nome desconhecido e uma história envolvente. O filme Santos e Demônios é a estréia na direção de Dito Montiel, que assina também o roteiro e o livro em que se baseou, sua autobiografia. A história em si não é tão desconhecida: o rapaz que mora em um bairro pobre de Nova York e consegue escapar do círculo vicioso que já estava preparado para ele.

O que impressiona é como Montiel filma. Suas imagens, fortes sem precisar chocar, e a sua montagem são dignas de um cineasta experiente. O filme interpõe muito bem o pensamento do jovem Dito, ainda em Astoria e sonhando para sair, com o do personagem já maduro, que retorna para tentar cuidar do pai - e retomar a linha do seu passado. É muito fácil concordar com a vontade do autor de se livrar daquele ambiente hostil e nocivo, ainda que nele estejam suas raízes e que haja aspectos positivos. Quando todos vão contra o desejo de ir embora, sentimos a empatia habilmente trabalhada pelo novato diretor, que tem ainda a sensibilidade de dizer apenas o mínimo necessário, apenas o que nos fará compreender a história.

A produção foi muito bem ancorada com um excelente elenco. O jovem Shia LaBeouf, o astro do momento, representa o jovem Dito, e não deixa nada a dever para o experiente e eficiente Robert Downey Jr no mesmo papel, como adulto. Chazz Palminteri e Diane West são coadjuvantes no papel dos pais, e ajudam o jovem astro a conduzir sua atuação na medida. Outros rostos conhecidos aparecem, mas o brilho do filme está nesses quatro.

Uma boa surpresa, é como podemos chamar Santos e Demônios. Uma excelente estréia de Dito Montiel, mostrando boa mão no roteiro e na direção, e manipulando muito bem o estilo "filme de bairro de Nova York". Há na película momentos realmente soberbos, como quando os personagens se apresentam falando não apenas os nomes, mas também dando um resumo da sua personalidade - e indiretamente dizendo como isso afeta o personagem principal. Pena que a tradução do nome perca um pouco essa característica, da busca do personagem pelo que havia de bom nas raízes que abandonou. O diretor novato já tem uma nova produção em andamento, com estréia prevista para 2008. Vale conferir se a qualidade que mostrou aqui se mantém e, quem sabe, colocá-lo como candidato a um posto entre os melhores diretores da nova geração.

26 dezembro, 2007

O Sobrevivente (Rescue Dawn)




Werner Herzog é um dos maiores cineastas vivos. Sua importância supera Spielberg, Scorcese e mesmo Copolla. Seu currículo possui 54 produções, sendo que em 44 delas assina também o roteiro. Tem um apreço especial por histórias reais, e é nelas que estão suas obras mais conhecidas, como a de Kaspar Hauser e, recentemente, do homem-urso Timoty Treadwell. É sabidamente o único diretor que foi capaz de controlar o explosivo ator Klaus Kinski, que foi também um dos melhores amigos de Herzog e fonte de um documentário do diretor. Uma apresentação dessas faz com que assistir a um filme dele seja, por si só, um acontecimento.

O Sobrevivente é, como bem gosta o alemão, uma história real, de um piloto alemão naturalizado norte-americano que cai na sua primeira missão na guerra do Vietnã, e é capturado. Herzog tem a habilidade de nos colocar na pele dos seus protagonistas, e aqui ela é usada com primazia. Em diversos momentos no filme temos rápidas incursões em primeira pessoa, mostrando como o soldado Dieter Dengler vê o ambiente hostil em que está perdido. Também passamos vários minutos sem ouvir uma palavra inteligível - ou seja, os diálogos na língua vietnamita não são legendados, e o personagem principal nada fala. Essa combinação nos transporta muito facilmente para a floresta tropical que é cenário do filme, e cria uma empatia única com o protagonista.

Alguém capaz de trabalhar seguidamente com Kinski só pode ser um bom diretor de atores, e Herzog demonstra isso a cada cena no filme. O tenente retratado por Christian Bale é ousado e bem humorado, mesmo nos momentos mais difíceis. Bale é experiente em estar perdido no meio de uma guerra. Um dos seus primeiros filmes, ainda criança, foi o excelente Império do Sol de Spielberg. Aqui ele contracena com Steve Zahn, que demonstra uma excelente atuação, finalmente saindo das comédias bobinhas em que costuma atuar. E é preciso também elogiar Jeremy Davies no papel do perturbado Gene. Alguns dos soldados vietnamitas estão tão bem retratados que quase sentimos que são reais.

Infelizmente, como muito do bom cinema, Herzog não é para todos. A sua utilização da linguagem cinematográfica espanta muitos - especialmente aqueles mais afeitos a piadas escatológicas, efeitos especiais e roteiros óbvios. Ao contrário dos nomes a quem o comparei no primeiro parágrafo, ele filma muito pouco para a massa, e seus filmes são sempre densos. Para quem tem algum apreço pelo cinema como arte, todos os títulos do diretor são obrigatórios, e este não é diferente.

20 dezembro, 2007

Bee Movie - A História de uma Abelha (Bee Movie)



O começo do século XXI marca a passagem das animações computadorizadas para um novo patamar na indústria de cinema. Antes os nomes famosos restringiam-se às vozes dublando os personagens; agora, grandes personalidades do cinema aventuram-se na era digital. Já tivemos produções em 3D dirigidas por gente de peso como Robert Zemeckis e Luc Besson. A equipe da Aardvark Animation deixou seus bonecos de stop motion para filmar no computador. Bee Movie avança um pequeno passo, colocando o famoso comediante Jerry Seinfeld não apenas dublando o personagem principal, mas também escrevendo e produzindo. A própria idéia do filme saiu de Seinfeld, numa conversa informal com Steven Spielberg e depois de longas insistências de Jeffrey Katzenberg - presidente da Dreamworks Animation - para que aquele participasse de um filme de animação.

O comediante de Nova York conta a história de uma abelha recém formada que descobre que os humanos lucram com o mel que aqueles insetos produzem, e decide processar toda a humanidade por isso. Em meio às tradicionais confusões esperadas de uma animação e às piadas com referências diversas, a fita caminha bem. Era de se esperar um humor um pouco diferente de quem assina o roteiro. Seinfeld, aparentemente, ficou receoso de caprichar tanto no seu habitat e tornar o filme inapropriado para o seu público principal, as crianças.

Há o aspecto levemente inusitado de transformar o filme em uma história de tribunal, a boa utilização das características próprias das abelhas, e a animação sempre bela e fluída, mas já não é um roteiro que encante - é preciso lembrar que este ano tivemos a obra-prima Ratatouille. Passada a primeira fase do 3D, estamos em um interlúdio - como o que o cinema já passou sempre que uma nova tecnologia era apresentada - e o estúdio de Spielberg, que antes concorria nariz a nariz com a Pixar, agora está bem atrás, fazendo apenas o "feijão com arroz". Simpático e divertido, sim, mas faltou aquela pitada de algo mais que Jerry Seinfeld poderia acrescentar.

15 dezembro, 2007

Across the Universe (Across the Universe)




A própria idéia já é de certa forma genial: um musical utilizando canções e referências dos Beatles. E como ninguém pensou nisso antes? Bem, ninguém tinha, e Julie Taymor pensou. A diretora conhecida pelo excelente Frida concebeu a história, e nos presenteou com uma peça audiovisual memorável. Mais do que simplesmente utilizar as músicas, o filme é repleto de outros pontos de contato, desde o nome dos personagens até pequenos gestos - como alguém lendo o jornal enquanto ouve-se A Day In The Life em versão instrumental ao fundo, e a garota que entra pela janela do banheiro. Tudo isso mesclado com a história de um rapaz de Liverpool que se aventura nos Estados Unidos, bem a tempo de acompanhar a loucura dos anos 60.

O único rosto mais ou menos conhecido entre o elenco principal é Evan Rachel Wood, que protagonizou o forte Aos Treze. Todos os demais são atores que até então só fizeram pontas ou filmes para a TV. Essa escolha deve-se não apenas pela composição do clima do filme, como também para poder aproveitar um talento que nem todos os atores possuem. As canções - como agora já é padrão - são cantadas pelos próprios atores. Neste, com um tempero a mais: boa parte das músicas foram gravadas em cena, e não em estúdio. Apesar de não ser a voz mais bonita, o inglês Jim Sturgess é o tom de Across the Universe, com seu sotaque e timbre rouco.

E o que poderia ser uma colcha de retalhos sem muito nexo foi muito bem costurado por Taymor, em um roteiro que aproveita com primor a vasta fonte de inspiração que escolheu. A história flui bem, utiliza corretamente os momentos históricos reais e, apesar da psicodelia na metade da fita - até ela bem encaixada - não se perde. A duração é quase perfeita, o final acontece no momento certo, do jeito certo.

Quem conhece bem os Beatles vai se deliciar com a maneira como a própria história da banda é mesclada à do filme. Quem só conhece um pouco vai acompanhar com prazer as eternas músicas muito bem executadas. E quem não conhece - alguém? - tem uma ótima oportunidade para ser apresentado. Infelizmente o próprio gênero do filme vai espantar muitos, além do fato da sua distribuição no Brasil ter ficado restrita às poucas salas com vertente mais alternativa. Se você é um dos privilegiados que podem assisti-lo no cinema, não perca.

08 dezembro, 2007

Conduta de Risco (Michael Clayton)




Tony Gilroy é conhecido no meio cinematográfico como o roteirista da trilogia Bourne e do intenso Advogado do Diabo, entre outros. Sua estréia na direção acontece com um roteiro inédito de sua própria autoria, que conta a história de Michael Clayton - o título original - um advogado cujo trabalho é controlar crises e livrar os poderosos clientes do grande escritório onde trabalha. Como sempre em trabalhos assim, sua consciência será testada, em uma história que lembra um pouco o caso real que inspirou o filme Erin Brockovich - cujo diretor, Steven Soderbergh, é um dos produtores deste.

Apesar do tema envolver intimamente advogados e causas processuais, não há quase nada de linguajar jurídico e nem uma cena de tribunal sequer. A vantagem de ser um roteirista experiente está a favor de Gilroy, que mantém a história no foco exato - os questionamentos que os episódios recentes causarão ao personagem principal, e as escolhas que fará a partir disso. A fotografia cinzenta e levemente texturizada combina perfeitamente com o clima do roteiro.

Gilroy mostra-se confortável atrás das câmeras, e revela-se um excelente diretor de atores. Tom Wilkinson está excelente como o advogado que resolve mudar de lado, e Tilda Swinton é bastante competente ao interpretar uma executiva da poderosa companhia produtora de defensivos agrícolas que Wilkinson deveria defender. Mas os holofotes estão, como não poderia ser diferente, sobre George Clooney, no papel principal. Quando fez suas primeiras incursões fora da série E.R. - Plantão Médico no Brasil - chegou-se a considerar que seria mais um dos muitos que não conseguem fazer a carreira afastar-se do papel que os tornou famosos. Clooney fez seu caminho lentamente e, especialmente, fez os amigos certos. A série "Onze Homens" marcou definitivamente o afastamento da sua imagem do pediatra da série, e agora seu Michael Clayton é a coroação da sua maturidade artística. Sua atuação sóbria, sem deixar escapar para o "charme de galã" que normalmente usa, é o melhor do filme.

Não é um dos melhores filmes da temporada, nem um que agrade a muitos, mas é uma bela estréia na direção, que mostra um bom potencial, o suficiente para acompanharmos a carreira do agora diretor Tony Gilroy em suas próximas produções - uma já engatada, inclusive. Quem imagina que vai assistir a um suspense dos bons pode se decepcionar - e o trailer leva de certa maneira a essa impressão. Não é também um filme obrigatório. Os que possuem mais opções de filmes para assistir no cinema podem deixar este para o DVD.

02 dezembro, 2007

Eu e as Mulheres (In the Land of Women)




Filmes bobinhos sempre existiram, e têm o seu lugar. Com seus roteiros cheios de fórmulas e quase sempre ambientados em apartamentos ou nos subúrbios norte-americanos, são aqueles filmes que poderíamos perfeitamente passar sem, mas que preenchem bem aquela hora e meia em que você não tem nada para fazer e quer descansar inclusive a cabeça. Eu e as Mulheres cai em cheio no perfil. O primeiro trabalho como diretor de Jon Kasdan, que também assina o roteiro, é apenas um exercício.

Sem grandes pretensões, a história do jovem roteirista de pornô light que é deixado pela namorada até que nem é tão bobinho quanto parece. Aborda - superficialmente, claro - assuntos que poderiam ir bem mais fundo, mas inteligentemente mantém-se apenas no drama leve. Os personagens foram um tanto além na estereotipização, e há algum exagero no misto de maturidade e sensibilidade do personagem principal, mas de certo modo funciona. Poderiam ter utilizado mais e melhor a pequena e esperta Paige, e evitado um ou outro beijo gratuito.

A marca principal de filmes assim é que tudo sempre acaba bem no final, e aqui não é diferente. Nada de grandes histórias ou aprendizados, nem surpresas. O papel desse tipo de produção, além de exercitar atores, diretores e equipe de produção, é dar ao público um tempinho para esquecerem de tudo, mostrando muito pouco.

01 dezembro, 2007

A Lenda de Beowulf (Beowulf)




Robert Zemeckis foi o primeiro dos bons diretores já conhecidos a aventurar-se no universo das animações em 3D. Em 2004 ele estreou a animação O Expresso Polar, que apresentava uma requintada técnica de animação por captura de movimentos reais, além de usar atores de verdade - no caso, Tom Hanks, em diversos papéis. O filme chamou pouca atenção, mas a técnica foi aplaudida - e utilizada novamente no ótimo A Casa Monstro, que Zemeckis produziu. Agora o diretor de De Volta para o Futuro, Forrest Gump, Contato e Náufrago, para citar alguns dos seus maiores sucessos, volta à animação para trazer às telas uma versão do épico inglês Beowulf.

A história é mais antigo poema escrito em língua moderna - o inglês - datando de mais ou menos 1500 anos. É um marco na literatura pelo estilo da história, pelo uso intenso de aliteração, e foi a inspiração de diversos outros textos, incluindo o Senhor dos Anéis de Tolkien. Não é a primeira vez que ele é filmado. A primeira é uma animação em "tradicional 2D" de 1981 que se chamou Grendel Grendel Grendel. A segunda, uma bobíssima adaptação ambientada em um futuro estranho e estrelada pelo highlander Christopher Lambert. A terceira, lançada a apenas dois anos, é uma desconhecida versão canadense, com ninguém menos que o Rei Leônidas Gerard Butler no papel principal. A versão de Zemeckis tem a vantagem de ter o escritor de quadrinhos Neil Gaiman como um dos roteiristas, e o fato de ter sido feito em uma ultra realista animação por computador, usando novamente atores de verdade.

A modelagem está soberba. Há mesmo alguns momentos em que podemos confundir com uma cena filmada, inclusive em alguns closes - que normalmente mostrariam a excessiva perfeição dos modelos, causando a impressão de algo irreal. A técnica dos movimentos, que parecia ter progredido muito em A Casa Monstro, aqui aparentemente deu um passo atrás. Em alguns momentos o filme é bastante fluído, com ótimas expressões corporais, mas na maior parte do tempo guarda aquela certa dureza das primeiras animações por computador. O tempo curto da fita para uma história tão longa e complexa causa algumas confusões em certos trechos - mas é preciso ressaltar que, da forma em que está, não suportaríamos um tempo muito além do utilizado. Fica bastante claro que o roteiro ficou limitado às capacidades técnicas da animação, apesar do patamar alto que foi perseguido.

Provavelmente teríamos um filme bem melhor se ele fosse feito filmando os atores reais e utilizando a computação gráfica para os efeitos especiais. Mas o Beowulf de Zemeckis deve ser reverenciado não pela qualidade cinematográfica, que deixa um pouco a desejar, mas pela quebra de paradigmas que pode ter iniciado. Muito do que acontece no filme é inédito na animação para o grande público e, repetindo, a modelagem está fantástica. Por hora, funciona melhor como uma curiosidade que como exemplo de um filme excelente.

25 novembro, 2007

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)




Como segurar por quase 3 horas um filme lento, em que já sabemos o que vai acontecer? O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford repete uma história bastante conhecida - pelo menos para os norte-americanos: a do bandido-celebridade que no século XIX realizou ousados assaltos a trens e bancos nos Estados Unidos. Já na época em que estava em atividade suas histórias - verdadeiras ou não - eram contadas nos primórdios da Pulp Fiction, os livros de literatura barata que aqui no Brasil são representados nas bancas por Sabrina e seus similares. Vários livros, filmes e séries fizeram referência ao fora-da-lei, mesmo recentemente. O que há, então, de novo? A história, aqui, não é sobre Jesse James, mas sobre aquele que acabaria por assassiná-lo, Bob Ford. Ávido admirador de James, Ford entra para o bando no último assalto a trem, então com 19 anos, e cerca de dois anos depois mata o seu ídolo. O filme conta essa história.


O diretor Andrew Dominik é um novato, com apenas outro filme no currículo, o ultraviolento Chopper. Aqui ele demonstra um grande domínio da linguagem cinematográfica, imprimindo ao filme um ritmo coerente, bem longe do faroeste que o tema nos levaria a imaginar. Sua fotografia é belíssima, aproveitando muito bem as cenas externas com um interessante efeito de desfoque lateral em algumas tomadas. Autor também do roteiro, Dominik soube utilizar muito bem a história e teve a sensibilidade de trabalhar corretamente o personagem certo para contá-la.

E, provando que é também um bom diretor de atores, temos Brad Pitt em uma ótima performance como Jesse James, contracenando com um competente Casey Affleck - que demonstra aqui superar facilmente o irmão Ben - no papel de Bob Ford. A caracterização de ambos é singular: enquanto Jesse é confiante e centrado, Ford é tímido e agitado. Ambas as atuações conseguem passar muito bem essas descrições, através de todos os artifícios de linguagem corporal tão importantes para a profissão. Todo o elenco atua bem, inclusive sabendo deixar a atenção sobre os personagens que realmente interessam.

Os fatos narrados no filme foram documentados, são parte da história. É a relação íntima entre ídolo e o admirador que segura os espectadores na poltrona, mantendo a tensão de saber como é o começo de uma história que a maioria já sabe. Jesse James pode ser considerado a primeira mega-celebridade, apesar de conseguir viver incógnito como Thomas Howard por anos. Na comparação que os norte-americanos adoram fazer, ele era mais conhecido que o presidente em sua época, e assim foi com Bob Ford depois que o matou. Escolher uma boa história e contá-la de uma boa maneira é o que faz o bom cinema. E é isso que vemos na tela neste filme.

24 novembro, 2007

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited)




Wes Anderson é um daqueles diretores que tem uma marca pessoal muito forte. Seus filmes são sempre algo estranhos, seus temas freqüentemente remetem de alguma forma à figura paterna e à famílias mais ou menos desestruturadas, e ele gosta muito de repetir seus atores. Seu primeiro longa é um remake de seu primeiro curta. Todos os seus filmes até agora encerram com uma cena em slow motion, e suas trilhas sempre são músicas britânicas dos anos 60 e 70. Gosta de visuais extravagantes e sempre está naquele limite indistinguível entre a comédia e o drama. Quase sempre, um dos atores é também o co-roteirista, junto com o próprio Anderson. Sua última produção, Viagem a Darjeeling, possui todas essas características.

Estrelado por Owen Wilson, que só não atuou em um dos 5 longas do diretor, e que mostra neste uma atuação exemplar; Adrien Brody, com quem trabalhou pela primeira vez e que sempre mostra boa forma artística; e Jason Schwartzman, que esteve em seu segundo filme e que aqui é também co-roteirista. Além deles, completam a lista Anjelica Huston com outras duas parcerias, e Bill Murray com quatro. Anderson não é exatamente um diretor de atores, até porque suas histórias não costumam exigir muito deles. Antes disso, ele é especialmente um excelente maestro. É assim que, aparentemente, ele comanda suas produções. Não precisa que todos mostrem sua melhor performance para que a música soe perfeita.

Viagem a Darjeeling é precedido pelo curta Hotel Chevalier, que há alguns meses causou frisson na internet por mostrar a inédita nudez - rápida e lateral - de Natalie Portman. Aqui ele serve como uma espécie de contraponto para a história dos três irmãos que partem em uma busca espiritual pela Índia. Como sempre nas histórias de Anderson, o que eles encontram não é necessariamente o que procuraram, e todos os momentos cômicos são muito bem engendrados. Aproveitando muito bem todo o colorido e todo o choque cultural que a Índia pode causar aos ocidentais, somos levados também na busca dos irmãos Whitman. Divertido no ponto certo, é uma peça que faz jus à curta, porém cheia de personalidade, carreira desse cineasta.

18 novembro, 2007

A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium's Wonder Emporium)




Zach Helm estreou no cinema como roteirista do excelente Mais Estranho que a Ficção - pelo qual foi comparado ao atual mestre dos roteiros nonsense Charlie Kaufmann, de Quero Ser John Malkovich. Mal fez seu nome escrevendo, já passou para a direção, comandando seu próprio roteiro em A Loja Mágica de Brinquedos. Dessa vez não é tanto o nonsense que impera mas, como o título brasileiro diz, a magia. O Sr. Magorium viveu plenamente seus 243 anos e deseja partir. É realmente necessário. Afinal, o último dos vários pares de sapato pelo qual se apaixonou em Toscana, e do qual comprou o suficiente para durar por toda a sua vida, já está em seus pés, e surrado. Mas isso não o incomoda. Ele vai deixar a sua maravilhosa loja para sua gerente, a pianista Molly Mahoney, cuja primeira grande obra ainda está em composição.

Não há como não lembrar de outras produções com temas similares, como A Fantástica Fábrica de Chocolate - especialmente na versão de Burton - e A Revolta dos Brinquedos. A Loja Mágica encaixa-se com perfeição no segmento, remetendo àqueles mas mostrando bastante personalidade. A história criada por Helm tem as doses certas de humor, sensibilidade e magia. E é auto-explicativa; cada movimento é separado em capítulos, que marcam o final da história do Sr. Magorium e, conseqüentemente, o início da de Mahoney. A fotografia, colorida como deve ser, e o ótimo cenário da loja, marcam muito bem o clima e o tom.

E Helm mostra-se também competente com seus atores. É bem verdade que contou com um excelente elenco. O veterano Dustin Hoffman - que estava no filme anterior do ainda apenas roteirista Zach - está totalmente à vontade no papel do excêntrico Sr. Magorium. Interpretando a insegura Molly Mahoney, pianista de grande potencial mas que ainda não descobriu o seu brilho, a excelente Natalie Portman, em uma atuação singular. Fazendo o contraponto infantil com uma atuação memorável está Zach Mills como Eric, o garoto que tem o chapéu certo para cada ocasião, mas não tem amigos. Completando o elenco principal como o contador mutante, Jason Bateman mostra-se competente no seu papel.

Assim como Molly não está confortável com a partida do Sr. Magorium, também a loja mostra-se incomodada. E a forma como cada pequeno ponto no filme completa seu ciclo, cheio das simbologias que também são características dessa classe de filmes, mostra que Helm tem também uma boa mão para a direção. Ele tem o equilíbrio suficiente para encerrar a história no ponto exato, quando Molly descobre que sim, tem a magia necessária para dirigir a loja. Adoraríamos que a produção fosse um pouco mais além e mostrasse os primeiros momentos depois da epifania de Mahoney mas, como bem explicado no começo, essa é uma outra história.

17 novembro, 2007

O Búfalo da Noite (El Bufalo de la Noche)




Em 2000 fomos apresentados a uma dupla de cineastas mexicanos que, com poucos movimentos, deixaram sua marca indelével na produção cinematográfica atual. O filme era Amores Brutos, dirigido por Alejandro González Iñarritú e escrito por Guillermo Arriaga. O estilo tenso e a história de várias partes entrelaçadas agradou a crítica em cheio. A dupla realizaria mais dois projetos juntos, os excelentes 21 gramas e Babel, além de participarem nos curtas da BMW. Conta-se que, durante a produção de Babel, houve uma rixa entre os dois. Aparentemente Arriaga não gostou do comportamento do seu parceiro diretor quanto a certas declarações para a imprensa. O fato é que temos agora o primeiro longa do roteirista depois de Babel, sem Iñarritú na direção. O novato Jorge Hernandez Aldana comanda a história baseada em um livro do próprio Guillermo.

Ao contrário dos filmes com seu antigo parceiro, aqui temos apenas uma história. Como nos outros, entretanto, temos o estilo tenso e as informações dadas a conta-gotas. Um jovem esquizofrênico comete suicídio e deixa para seu melhor amigo - que havia tomado-lhe a namorada enquanto o outro estava no hospital - uma caixa. É o início de uma perseguição lenta e paulatina, que não deixará que Miguel livre-se do fantasma de Gregorio nem que aproveite a companhia de Tania, a namorada. Indo e vindo, o filme nos mostra um pouco do que aconteceu no passado e outro pouco do que acontece agora.

O estilo de Arriaga é o de seus outros roteiros, ocultando o que é interessante saber, e revelando o que talvez não gostaríamos de ver. O diretor recebeu de presente um excelente roteiro, e soube aproveitá-lo muito bem, compondo um elenco exemplar. Diego Luna, no papel principal, é um rosto conhecido para aqueles que deram uma olhada no cinema mexicano da última década. Muito bem acompanhado por Liz Gallardo, cuja semelhança com a espanhola Penelope Cruz está não apenas nas feições mas também na atuação, e pelo competente Gabriel González.

O México tem mostrado-se uma fonte de cinema de muito boa qualidade. De lá já saíram ótimos filmes, excelentes diretores, atores primorosos, tudo que pode-se esperar da sétima arte quando bem feita. Uma pena que, ainda assim, filmes como este permaneçam restritos ao circuito alternativo. Na desavença entre os antigos parceiros, pelo jeito o roteirista levou a melhor. Depois deste, já tem mais dois roteiros anunciados, enquanto Iñarritú fez apenas uma participação em um filme coletivo sobre cinema.

11 novembro, 2007

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs)




Robert Redford é um dos poucos atores que se tornaram diretores da atualidade que tem um estilo muito particular de contar uma história. Ele dirigiu pouco, apenas 7 vezes, comparado com as mais de 6 dezenas de produções em que atuou e outras tantas que produziu. No comando, seu estilo se traduz em ótimo ritmo, roteiros profundos e temas moralizantes. Valoriza os diálogos e aproveita bem a fotografia. Suas experiências na direção normalmente não causam estouros de bilheteria, mas obtém boa resposta dos críticos. Em seu mais recente filme ele dirige e atua, e sustenta uma opinião sobre a política de "segurança" dos Estados Unidos.

Ao contrário da maioria dos outros filmes sob a batuta de Redford, a fotografia aqui não conta. Há basicamente três cenários: o gabinete de um senador, o escritório de um professor universitário, e a guerra do Afeganistão - aquela que eles começaram seis anos atrás com a desculpa de prender Osama Bin Laden e acabar com o terrorismo. Os três cenários representam os três diálogos básicos da história: o senador tenta vender sua próxima campanha militar a uma jornalista veterana; o professor tenta dar direções a um jovem talentoso mas perdido; e dois soldados patriotas tentam provar para si mesmos que tudo aquilo vale à pena. Essa estrutura valoriza a multiplicidade do discurso, mas também ajuda o filme a navegar muito bem até quase o final, quando praticamente se perde.

Redford leva a história em rédeas curtas, fazendo, a exemplo dos discursos de Sócrates, longas espirais antes de colocar sua opinião. Cada núcleo do filme é excelente, mas o mesmo não se pode dizer da relação entre eles. Um bom time de atores segura a qualidade das cenas, que infelizmente não levam a um lugar muito claro. Como diretor, os méritos são grandes. Os diálogos são fortes como pouco se viu em filmes mais comerciais, e seu elenco trabalha muito bem. Mas algo falta.

A opinião que o filme expressa é clara, desde o início: contra a presença norte-americana no Afeganistão, não importam os motivos que os levaram até lá. Durante todo o filme, temos a impressão de que uma alternativa muito melhor vai ser colocada. Temos a impressão que a jornalista vai defender a verdade e a sua classe e negar o pedido vil de apoio do senador, e que o aluno brilhante vai perceber o que deveria estar fazendo e não faz, e talvez que os soldados percebam que o país pelo qual tanto prezam não preza tanto assim por eles. E o filme chega ao final deixando todas essas impressões no ar, sem dar o seu devido fechamento. Sem ser um filme alternativo o suficiente para nos inferir maiores reflexões, acaba também não sendo comercial o suficiente para dizer a que veio.

10 novembro, 2007

Noel - Poeta da Vila




Nos últimos anos vimos o gênero das cinebiografias ser revitalizado com uma onda de ótimas produções. De Cazuza a Truman Capote, passando por Ray Charles e Johnny Cash, esses filmes nos apresentam facetas não muito conhecidas de pessoas famosas, o que por si só já é um grande trunfo. Quando temos como tema um músico, há ainda suas melhores composições na trilha. Em Noel - Poeta da Vila, há ainda a curiosidade de saber mais sobre um personagem muito presente, já que suas músicas continuam a ser eternamente regravadas e ouvidas. Mas algo ficou faltando na fita.

Ricardo van Steen, o estreante diretor, baseou-se na melhor biografia escrita sobre o boêmio para o seu filme, um projeto pessoal antigo. Talvez tenha ficado tão atento às facetas do personagem que deu menor atenção ao ambiente e às várias possibilidades que sua leitura sobre um dos maiores marcos do samba nacional poderia alcançar. A Vila Isabel, berço do poeta e palco das suas maiores obras, é pouco ou nada aproveitada, como também algumas passagens interessantes da vida de Noel Rosa. A fotografia calibrada para simular uma fotografia antiga é desnecessária e afasta o espectador da contemporaneidade das suas canções.

Não sei as limitações de orçamento que a produção enfrentou, mas faltou um pouco mais de cenas externas, mostrando a Vila no início do século passado, e também faltou tempo. Os 99 minutos do filme são poucos, muito poucos, para explorar um personagem tão interessante. Como no caso de Olga, mas por outros motivos, podemos ver o potencial de um excelente filme que acaba por não acontecer. Não apenas o potencial da história, mas o potencial do diretor e especialmente do ótimo elenco. O também novato Rafael Raposo como o poeta não chega a impressionar - a não ser pela sua semelhança com o seu personagem da vida real - mas percebe-se que tem talento.

Pode parecer injusto não dar uma nota alta para uma produção que tem, sim, várias qualidades. Mas talvez essa seja a maneira de apurar o cinema brasileiro, que possui tudo o que é necessário para produzir ótimos filmes, menos o incentivo. Nesse caso, como já disse, tudo está lá. O que falta é provavelmente o apoio - financeiro inclusive - que faria com que saíssemos extasiados da poltrona, cantando os sambas que todos sabemos de cor. Ainda assim, é um filme que deve ser visto, especialmente porque a melhor maneira de melhorar o nosso cinema é dando crédito às produções que tem potencial.

04 novembro, 2007

O Passado (El Pasado)





Hector Babenco é um diretor que costuma dividir os poucos brasileiros que o conhecem. À parte o fato dele ser argentino, suas produções brasileiras geram opiniões quase sempre opostas. Ele filma pouco, foram apenas 11 peças desde 73, mas sempre o faz intensamente. Sua penúltima obra, o brasileiro Carandiru, foi filmado no mesmo prédio em que se passam as histórias, às pressas, antes que o complexo carcerário fosse demolido. Para que os atores pudessem entrar melhor em seus personagens, Babenco fez com que todos passassem uma noite nas celas, nas mesmas condições dos detentos. Sua nova película traz também algo em comum entre a realidade e a ficção, mas desta vez é algo um tanto mais prosaico. Seu ator principal, Gael Garcia Bernal, envolveu-se com quase todas as mulheres da produção, incluindo atrizes.

O filme é a história de Rímini, desde a separação da sua primeira esposa Sofia até sua reunião com ela. O estilo mais intimista que Babenco imprimiu à obra transparece em diálogos curtos e atuações fortes, em que Bernal é um indiscutível destaque, mostrando sua força como um dos melhores atores da sua geração. Mas o elenco feminino que faz o contraponto ao galanteador mexicano não deve em nada. É preciso apontar as qualidades mostradas por Analía Couceyro, a Sofia, que demonstra uma grande capacidade de produzir um sentimento com sutis mudanças de expressão.

Babenco filma O Passado com a experiência de quem já teve sob sua tutela ótimos atores e excelentes roteiros, e sabe como usar a cena a seu favor, seja na intimidade revelada, seja no silencio que quase tudo conta. Como das outras vezes, é bastante possível que as opiniões dividam-se nos extremos, já que é difícil passar as quase duas horas de projeção inócuo ao roteiro forte. Possivelmente a Argentina tentará levar o filme ao Oscar, entre outros grandes prêmios do cinema, e nesse fator o nome Hector Babenco pode dar alguns pontos a mais. Uma curiosidade: Paulo Autran, um dos maiores atores brasileiros, fez neste filme sua última participação nos cinemas, em uma ponta como um professor francês.

03 novembro, 2007

Tá Dando Onda (Surf's Up)




Há uma estranha onda de coincidências nas animações por computador. O segundo filme do gênero feito por um grande estúdio, Formiguinhaz, foi logo seguido pelo Vida de Inseto da pioneira Pixar, também trazendo formigas como personagens. O sensacional Shrek antecipou o também excelente Monstros S.A., ambos protagonizados por criaturas estranhas. Tivemos ainda Procurando Nemo antes de Espanta Tubarões, e Madagascar por Selvagem, com animais de zoológico. Agora, pouco depois da pequena obra prima que foi Happy Feet, temos mais uma animação com pinguins. Espionagem industrial? Não importa, até porque, nesse caso, ganham todos: produtores, animadores e, especialmente nós, o público. Como cada um deles tenta ser melhor que o outro, o nível das novas produções em 3D espanta a cada lançamento, e o roteiro quase sempre acompanha.

Tá Dando Onda traz um novo recurso interessante no segmento, a metalinguagem. O que vemos é uma mistura de filme com produção de um suposto documentário sobre a 10ª edição do Campeonato de Surf Big Z da Ilha Pingu. Imagens simulando uma captação em 16 milímetros, perdas de foco e trepidações na câmera, personagens interagindo com a equipe de produção, está tudo lá, vestindo a divertida história do garoto que sonhava ser um campeão no surf. Qualquer um que já assistiu a algum dos vários filmes de surf percebe facilmente as marcas do gênero, incluindo a câmera na ponta da prancha e as gotas d'água na lente.

Não há uma explicação sobre o motivo de os personagens principais serem pinguins, além da habilidade natural dessas aves na água, mas isso também não é importante. A história, como sempre, agrada grandes e pequenos. Tem lá os seus defeitos e clichês, mas é bastante atraente e bem trabalhada, e conta com o apoio de vários personagens interessantes. A presença de "personagens reais" como Kelly Slater e Rob Machado, faz parte das referências que divertem os cinéfilos e curiosos de plantão. Um filme simpático para uma tarde agradável.

02 novembro, 2007

Um Verão Para Toda Vida (December Boys)




Vez por outra, no cinema, somos apresentados a uma produção feita especialmente para que lembremos com nostalgia de uma época mágica em que tudo parecia possível. Não raro, tais filmes apresentam algum acontecimento marcante, que é o ponto com o qual compararemos o resto de nossas vidas. Quase sempre narrados pela versão adulta do personagem principal, são frequentemente belos exemplos de bom cinema, ancorados em roteiros poderosos. Um Verão Para Toda Vida preenche todos os requisitos, e merece seu posto entre os bons do gênero.

Um grupo de órfãos são escolhidos para passar as férias de verão - sempre elas - no litoral da Austrália, em uma pequena vila. Esse mote simples é a base para uma maneira profunda e delicada de mostrar, na visão de dois dos órfãos, a passagem para a vida adulta por um, e o reconhecimento da família por outro. O diretor Rod Hardy, que até então quase só havia dirigido produções para a TV, mostra uma mão muito boa para o drama, aproveitando com muita propriedade o belo cenário, o elenco de quase desconhecidos e o roteiro. O filme tem o ritmo e o nível de emoção certo, daqueles que poucos dramas conseguem alcançar.

Entre o elenco de quase desconhecidos há um rosto muito familiar: Daniel Radcliff, o Harry Potter. O segundo jovem mais rico da Inglaterra - perde apenas para o príncipe Harry - sai-se muito bem sem o uniforme de Hogwarts, mostrando que tem bastante talento para ser descoberto. É verdade que seu melhor papel ainda é o do bruxinho no terceiro filme da série, sob a batuta do mexicano Alfonso Cuarón, mas conseguir estar nas telas sem que lembremos de que ele é o eterno Harry Potter é um grande feito. Basta lembrar que outros atores jamais conseguiram sair de seus personagens mais famosos, como Mark Hammil - o Luke Skywalker - e William Shatner - o Capitão Kirk de Jornada nas Estrelas.

Um Verão Para Toda Vida é daquelas produções em que a simplicidade pode fazer com que não chegue a ser aclamado. Mas películas como essa não precisam disso. Alcançando um patamar que o coloca em pé de igualdade com clássicos como Conta Comigo e Lições Para Toda Vida - uma coincidência apenas de "tradução" do título - é um filme que será revisto várias vezes, em várias épocas, e nunca perderá seu charme.

28 outubro, 2007

Renaissance (Renaissance)




É muito comum que novos estilos, especialmente visuais, quando habilmente aplicados, gerem réplicas no mundo do cinema. À primeira vista, Renaissance pode parecer uma réplica em animação do excepcional Sin City de Robert Rodriguez e Frank Miller. Mas não é. Claro que não ajudam as críticas mundo afora referindo-se ao filme como uma fantástica mistura de quadrinhos com cinema - o que ele também não é. O filme nasceu ainda no século passado, em 1999, quando Rodriguez ainda nem pensava em convencer Miller a filmar sua história em quadrinhos. Naquela época, o diretor francês Christian Volckman já trabalhava na história e no conceito visual da sua produção.

Visualmente, apesar de lembrar muito Sin City, há também duas diferenças básicas: primeiro, este é uma animação, feita com uma técnica excelente de captura de movimentos; segundo, a fotografia utiliza muito mais o preto e branco puro, quase sem escalas de cinza. Esta característica, por si só, já restringe muito o público - e de fato atrai mais os leitores de quadrinhos. A história, nem tanto. Não há nada espetacular na ficção científica, e há muitos clichês.

Assim como Capitão Sky e o Reino do Amanhã, há aqui muito mais preocupação com a fotografia que com o roteiro. Volckman nos apresentou uma possibilidade nova na forma de contar uma história, mas não a utilizou em um bom texto. Muitas vezes previsível e com alguns problemas de ritmo, nem mesmo chega a utilizar o visual a seu favor. O filme não perde sua validade como novidade, mas também não avança além do circuito cult. Pelo menos ele nos mostra que as possibilidades de inovação estilística ainda existem.

20 outubro, 2007

Stardust (Stardust)




O cinema felizmente descobriu a fonte dos quadrinhos alternativos. Aproveitando ou não a onda de adaptações da nona para a sétima arte, os títulos menos conhecidos, aqueles que nem sempre vão parar nas bancas, começam a aparecer nos cinemas. Já tivemos de tudo, desde a melhor proposição já feita para o misterioso Jack o Estripador - sim, a graphic novel "Do Inferno" é considerada a mais provável história do famoso assassino, e já esteve nas telonas - até a melhor transcrição entre as duas linguagens, o excepcional Sin City. Stardust não chega a alfinetar um posto de "melhor", mas merece as suas estrelas.

A história não é muito conhecida aqui no Brasil, mas os fãs do gênero sabem que a sua grife não engana. Neil Gaiman, o autor, faz parte da atual tríade sagrada dos escritores de quadrinhos, junto com Frank Miller, de Sin City e 300, e Alan Moore, de V de Vingança - um caso raro dos que não foram muito bem adaptados, tanto que Moore tirou seu nome dos créditos - e "Do Inferno". Ou seja, a história é certamente muito boa. Para referência, Gaiman é o autor da melhor série longa dos quadrinhos, Sandman.

E o diretor Mattew Vaughn soube aproveitá-la. Iniciante, com apenas outro filme desconhecido no currículo, já podemos ver que tem potencial. A narrativa, com todas as adaptações que normalmente são necessárias à transcrição, utiliza muito bem o tema central dos quadrinhos, e tudo corre na medida. Temos o humor contornando toda a trama, a aventura na dose certa, e a beleza visual muito bem fotografada. Sem falar no ótimo elenco. Tão bom que pode colocar grandes nomes apenas como coadjuvantes, como Peter O'Toole e Rupert Everett - aliás, o time dos príncipes fantasmas é particularmente hilário. O protagonista Charlie Cox foi bem escolhido entre nomes não muito famosos, e conseguiu mostrar um bom serviço ao lado de "gente grande" como Robert DeNiro e Michelle Pfeiffer. Claire Danes mostra também muita desenvoltura no papel da estrela cadente Yvaine.

Muitas vezes um bom filme perde-se porque prolongou demais a história ou fez cortes excessivos. Stardust não padece de nenhum desses problemas. Com suas pouco mais de duas horas, tem o tempo exato para desenvolver a trama, não deixa nós desatados e diverte bastante. Um filme que tem potencial para agradar uma faixa de público maior do que o quadrinho que o inspirou conseguiu - o que pode fazer com que a peça original volte às prateleiras, o que não seria nada ruim. Uma produção que transita bem dos festivais que freqüentou para o circuito comercial, o que por si só já é um bom atestado de qualidade. Para ver sem medo de errar.

13 outubro, 2007

Hairspray (Hairspray)





O gênero dos musicais ficou um bom tempo quase abandonado. Apenas algumas poucas produções se aventuravam, sem muita projeção. Felizmente, resolveram reaproveitar as imensas qualidades da categoria, acrescentando ainda uma boa e renovada utilização das suas características. Podemos citar entre os bons musicais recentes os excelentes Chicago, Moulin Rouge e Dreamgirls, para não estender muito a lista. A mais recente produção consegue também se valer do que há de melhor, acrescentando ainda um ingrediente que os outros utilizaram menos, a comédia. Hairspray, como vários outros, é baseado em um show de sucesso da Broadway, que já tinha sido filmado antes, em 1988. E, como vários outros, faz lá as suas licenças poéticas, quase todas com muita propriedade.

O diretor Adam Shankman começou sua carreira recentemente, dirigindo o bobinho The Wedding Planner, o sensível Um Amor para Relembrar, e os bastante tolos A Casa Caiu e Operação Babá. Desta vez, ele finalmente conseguiu passar uma mensagem importante para qualquer diretor: ele tem estilo. Sua versão é divertida, enérgica, colorida e, claro bastante musical. Algumas escolhas foram essenciais para reunir na medida todos esses pedaços: escolher um homem para interpretar a mãe da protagonista foi uma grande jogada, e escolher John Travolta para isso foi ainda melhor; a novata Nikki Blonksy é ótima, conseguindo atuar muito bem e cantar ainda melhor - novatas gordinhas estão em alta, vejam a excelente Jennifer Hudson de Dreamgirls; Michelle Pfeiffer como a "vilã" foi também uma grande jogada, até porque ela andava meio sumida. Todo o elenco está bem. Para costurar tudo isso, o tratamento dado ao roteiro, e especialmente ao contexto histórico, foi bastante adequado.

Musical com comédia e uma mensagem moralizante pode, sim, funcionar, e Hairspray é prova disso. Sem muito esforço, você vai rir bastante, apreciar as músicas e passar agradáveis minutos na poltrona, e ainda vai querer passar na loja de CDs mais próxima para comprar a trilha sonora. Um filme bom para assistir com a família, ou com a namorada, ou mesmo sozinho. Mas, certamente, um filme para assistir.

07 outubro, 2007

Tropa de Elite




É difícil falar sobre um filme que já foi amplamente comentado. Talvez o maior trunfo de Tropa de Elite seja ter sido vítima de um crime que em certa medida se relaciona com vários outros mostrados na produção. Se o "lançamento" da versão pirata várias semanas antes do oficial foi ou não uma jogada de marketing, já não importa. O fato é que, jogada ou não, o marketing deu certo, e na semana em que ele chega oficialmente aos cinemas, muita gente já viu. Mas ainda assim muitos vão conferir o que agora é chamado de "versão original". E então é também difícil não escapar à comparação com o seu irmão mais velho, Cidade de Deus. Mas apesar de serem o principal cenário as favelas, aqui, não são o foco.

O filme incomoda, e não sabemos o que nele nos deixa mais revoltados, se a rápida visita pela corrupção já intrínseca à polícia, se o triste papel das classes média e alta na manutenção do crime organizado, ou se os métodos desumanos do BOPE. São três tapas na cara, bem dados como os que o Capitão Nascimento aplica àqueles que interroga e aos seus recrutas. Nada é novidade, mas ver tudo tão bem mostrado é como se nunca soubessemos. E tudo como pano de fundo para a história de um único personagem, o Capitão que precisa encontrar um substituto à altura para seu posto na corporação, e assim poder dar a devida atenção à família.

José Padilha aproveita muito bem os cenários, e também os atores. Se as últimas boas produções brasileiras foram a glória de Lázaro Ramos, esta pode ser o início para Wagner Moura. De todas as boas atuações - e também das medianas - do filme, ele sobressai, e não apenas por ser o personagem principal, mas por estar muito bem incorporado no papel. Como já parece ser comum em produções desse gênero, o elenco responsável pelos papéis de traficantes e bandidos sai-se muito bem. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito dos jovens que fazem os estudantes, e aí podemos incluir André Ramiro, que poderia ter mostrado um pouco mais de esforço, mesmo no papel difícil que teve.

A pergunta que não quer calar: teria Tropa de Elite feito tanto sucesso se não houvesse acontecido a pirataria precoce? O filme seria o mesmo, possivelmente o espaço nas salas de exibição também, mas os comentários provavelmente ficariam restritos ao público mais afeito ao cinema brasileiro de "não comédia", que ainda não é muito. As cópias não autorizadas atiçaram a curiosidade de todos que souberam do caso, e comentou-se mesmo antes de ter-se visto, já que o enredo foi para as ruas, e mesmo que não viu já sabia. Tenha você visto ou não a versão pirata das ruas, vá ao cinema. Pode não ser exatamente agradável, mas é essencial.

30 setembro, 2007

Deserto Feliz




Mais um filme sobre o retrato de um Brasil não tão pujante e belo quanto o dos cartões postais. Como sempre, focado no nordeste mas, dessa vez, não utilizando o batido tema da seca. A história gira em torno de uma garota de 15 anos que vive com a mãe e o padastro no vilarejo que dá nome ao filme. Em um certo ponto da história ela é estuprada pelo padastro, e a mãe não apenas não toma atitude alguma como nem mesmo se surpreende. Ela então começa a se prostituir, até sair de casa e ir para Recife, onde conhece um jovem alemão que se apaixona por ela e a leva do Brasil.

A trama simples é marcada por muitos supercloses, muito silêncio e muitas cores frias. Há também um leve abuso de cenas com longos takes sem corte em plano linear. Na maior parte das vezes, a cena deveria dizer algo por si só, mas nem sempre acontece. O diretor Paulo Caldas estréia neste filme dirigindo sozinho. Seu primeiro longa-metragem, dividido com Lírio Ferreira, foi o aclamado e premiado Baile Perfumado, que de fato é muito bom. Aqui ele encontrou um bom tema, tinha um bom roteiro, e em várias vezes deixa entrever o filme que poderia ter sido.

O bom elenco - com um destaque merecido para Nash Laila, que interpreta Jéssica, a personagem principal - poderia ser melhor aproveitado, como também o roteiro. A solidão que o filme passa é imensa, e um dos pontos mais favoráveis da produção, que de maneira geral é muito boa. A forma como a história é trabalhada, visual e verbalmente, poderia ser melhor implementada. Pode-se dizer que o diretor teve a faca e o queijo na mão, mas cortou só até a metade.

16 setembro, 2007

O Vigarista do Ano (The Hoax)




Boas histórias têm que ser contadas, mesmo que não sejam verdadeiras. Nada de mais até aí, mas e quando você tem uma história que seria boa demais se fosse verdade, e a vende como se de fato fosse? Esse é o mote de uma das mais incríveis publicações que o mundo jamais viu: a autobiografia do excêntrico milionário Howard Hughes. Para quem não o conhece, ele é o personagem interpretado - muito bem, diga-se de passagem - por Leonadro DiCaprio em O Aviador. Mas aqui a história é sobre outro excêntrico, Clifford Irving, que nos anos 70 foi do inferno ao céu, para voltar logo depois, com uma das maiores mentiras já contadas.

Richard Gere interpreta o notório enganador, que quase levou um milhão de dólares com sua farsa. Não se via uma atuação tão boa de Gere desde Chicago em 2002, bem longe das comédias românticas e dramas melosos que lhe deram fama. Ele aqui dispensa seu charme natural para encarnar Irving em uma atuação notável. Alfred Molina, seu comparsa na trama, está como sempre muito centrado em seu papel, que aqui é de coadjuvante. Molina é um dos raros grandes atores que podem ser escalados para papéis menores e ali sentirem-se confortáveis. À frente da trama está Lasse Hallström, que também dirigiu os ótimos Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador, Regras da Vida e Chocolate - este também com Alfred Molina - entre outros muito bons.

A forma como a mentira se construiu, e a dimensão que ela ganha a cada movimento que Irving é obrigado a fazer para garantir sua credibilidade, são o ponto mais interessante da história. Mas é igualmente interessante a sugestão da forma como o autor foi consumido pelo monstro que ele mesmo criara, às vezes quase acreditando de fato no que dizia, a ponto de alucinar sobre alguns acontecimentos que legitimariam a farsa que começou. E é interessante, também, notar a fragilidade que uma personalidade tão forte como era a de Hughes pode ganhar face à sua extravagância - a suposta maior autoridade sobre o milionário, o último jornalista a conseguir entrevistá-lo, parabenizou Irving pelo excelente trabalho, garantindo que via claramente nas palavras o próprio Howard.

E tudo isso interligado a um dos maiores escândalos políticos norte-americanos, o caso Watergate. Enquanto uma mentira ganhava vida, outra era escondida nos não tão indevassáveis arquivos do governo. A nova onda de filmes baseados em fatos reais - ou contando histórias de personalidades - tem gerado frutos muito bons. Este é um deles.

08 setembro, 2007

O Grande Chefe (Direktøren for det hele)




Lars Von Trier é um diretor que gosta de simplicidade. Suas produções têm como marca evitar a maioria das assim chamadas "perfumarias", como efeitos especiais, edição de som e afins. Ele chegou a fundar um movimento cinematográfico chamado Dogma95, em que o mote básico era o que nosso Glauber Rocha já fazia por necessidade, uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Apenas uma das suas produções seguiu à risca as regras do Dogma, mas foi o suficiente para alçá-lo à fama. Desde então, ele já ganhou uma Palma de Ouro - depois de ser indicado várias vezes - e lançou dois filmes da sua trilogia sobre os Estados Unidos, sem nunca ter posto os pés lá. Ele também inventou uma técnica de filmagem chamada Automavision, em que a câmera é controlada por um computador, que decide os ângulos e movimentos. Além de simples, Von Trier é também estranho.

Sua mais recente produção é algo que se pode chamar de comédia para refletir - apesar do próprio diretor avisar que suas reflexões são inválidas. A história de um dono de uma empresa de tecnologia que, por medo de tornar-se impopular, inventa um grande chefe, que nunca está presente mas toma todas as decisões, e se vê obrigado a contratar um ator para representar o papel do tal chefe para concretizar a venda da empresa com um intransigente islandês que só aceita negociar com o dono, é típica do diretor. Seu humor, como seus filmes, não é para todos.

As variações quase absurdas na luz e na captação do som - algo como uma maneira de Von Trier provar que dispensa as perfumarias - dão ao filme um aspecto de quase realidade. Os diálogos estranhos - o ator que interpreta o chefe não chega a ser devidamente brifado sobre o que o personagem que interpreta fez ou disse no passado - têm um quê de pastelão, mas, no conjunto, é um dos filmes mais "palatáveis" do cineasta dinamarquês. Para assistir com a mente aberta.

07 setembro, 2007

A Hora do Rush 3 (Rush Hour 3)




Filmes de ação com artes marciais que são também comédias são uma criação chinesa, que abusava da criatividade - e das chamadas "lutas com fios", aquelas em que os personagens voam - para produzir um cinema popular que não desafiasse as regras rígidas do comunismo. Jackie Chan, depois de ser dublê e parceiro de Bruce Lee, foi quem praticamente inventou o gênero nos anos 80, e também quem praticamente fez com que ele sobrevivesse até chamar a atenção de Hollywood. Provavelmente o sucesso que a combinação faz hoje não foi esperado. Como também uma terceira continuação para o despretensioso A Hora do Rush.

Chan parece ter encontrado em Brett Ratner o parceiro perfeito como diretor, e o mesmo se aplica a Chris Tucker na frente das câmeras. Desde o primeiro filme, há algo no ritmo desses três que outras produções do gênero - algumas inclusive com o mesmo Jackie Chan - não conseguem alcançar. Apesar do tema parecer meio batido, eles conseguem fazer com que o filme funcione muito bem.

As cenas rápidas têm o timing perfeito da comédia, e as risadas se sucedem com facilidade. O roteiro não chega a ser muito bem trabalhado quanto à história em si, que é um tanto confusa e termina sem explicar muito. Mas nesse caso isso realmente não importa. A diversão é garantida pelas pequenas cenas cm muito bom humor. Chineses que falam francês - em uma impagável cena em que uma freira serve de intérprete, obrigando os protagonistas a camuflarem seus palavrões -, uma recepção nada calorosa na França e a excelente abertura em que Tucker, dançando como Michael Jackson, tenta organizar o trânsito de Los Angeles são alguns dos bons momentos do filme. Como de praxe nas produções em que Chan participa, erros de gravação e pequenos acidentes nas coreografias mantém as gargalhadas até os créditos. Programa leve para o feriado.