29 abril, 2007

Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising)



Hannibal Lecter é um dos personagens mais fascinantes do cinema. Fruto dos romances de Thomas Harris, ele surgiu nas telonas em 1983, no desconhecido Caçador de Homens, na pele do ator Bryan Cox. Não, não foi Anthony Hopkins o primeiro Hannibal, apesar de ter sido ele quem o eternizou com suas extraordinárias atuações. Foi em Silêncio dos Inocentes, de 1991, que o mundo realmente conheceu o inteligentíssimo e refinado psiquiatra canibal. O vimos novamente na continuação Hannibal, de 2001, e no "prequel" Dragão Vermelho - este uma refilmagem do Caçador de Homens - no ano seguinte. Agora, já quase íntimos, somos apresentados à sua origem.

Este filme tem uma pequena vantagem sobre os outros: o roteirista é o próprio autor, Thomas Harris. É preciso ressaltar, entretanto, que todos os outros contaram com excelentes times de diretores e roteiristas, e também ótimos elencos. A presença do autor no roteiro serve, entre outras coisas, para validar quaisquer alterações entre o livro original e o filme - como aconteceu no final de Hannibal, bastante diferente do romance original, e fruto de muitas reclamações dos críticos. Mas, claro, críticos são críticos, e certamente há opiniões bem ruins a respeito dessa produção.

Hannibal teve uma infância difícil, com um trauma especialmente forte da guerra, e uma adolescência idem, morando no castelo dos seus pais transformado em escola reformadora para jovens órfãos. Sua passagem de um jovem calado e revoltado para o frio e calculista canibal é brusca, um ponto que poderia ser melhor trabalhado. Como nos outros filmes, quase não conseguimos tratá-lo como um vilão. Hannibal é demasiado sofisticado e fino, educado e inteligente, e nesta película está em busca de uma vingança que pode até ser considerada justa. O trabalho de construir um personagem tão complexo coube ao jovem ator francês Gaspard Ulliel, desconhecido fora do eixo cinematográfico do seu país, mas que consegue atingir uma performance notável no papel. Além dele, podemos destacar o verdadeiro vilão do filme, Grutas, na pele do inglês Rhys Ifans, que nem de longe lembra o caricato e engraçado Spike de Notting Hill.

Origens de personagens complexos são especialmente fruto de críticas negativas. Entretanto, analizando-se - como faria Hannibal - friamente e objetivamente, temos uma ótima produção, em que os detalhes do roteiro se destacam na fotografia e no cenário, na bela execução dos personagens e, também, na explicação do fascínio que o canibal desperta em nós. As cenas fortes são esperadas e estão lá, com poucos meandros. Quem nunca viu os outros filmes, não deve se atrever a começar por este. É preciso conhecer o olhar particular do Hannibal já maduro para compreender como, neste, ele evoluiu até seu apogeu.

28 abril, 2007

A Estranha Perfeita (Perfect Stranger)




Bons filmes de suspense são aqueles que mantém o mistério até o último minuto. Os melhores conseguem, incusive, fazer com que você pense que já desvendou a trama para, nos minutos seguintes, te levar a outras conclusões, e no final você descobre que aquela sua primeira impressão, que depois você achou ser bobagem, era de fato a correta. Mocinhos e bandidos são uma definição volátil, e o grande barato desse tipo de roteiro é tentar juntar as peças para descobrir o final, antes do final. A sensação de, na última cena, descobrir algo totalmente novo e ter vontade de assistir novamente, é o que quase todos os suspenses tentam alcançar.

A Estranha Perfeita, de James Foley, é bastante competente nesse segmento. A trama da jornalista que se disfarça para trabalhar com o possível assassino de uma amiga, ao mesmo tempo em que o seduz através de conversas na internet, foi bem conduzida. Foley tem uma certa experiência no assunto. Seu último filme, que passou despercebido por muitos, é uma excelente trama de roubo, O Golpe Perfeito. Nada parecido com o "sessão da tarde" Quem É Essa Garota, com Madonna. Para a sua Estranha, Foley escolheu um bom time de atores, um bom roteiro, bons cenários e uma boa fotografia. Faltou chegar ao ótimo.

É bem verdade que o elenco está, sim, muito bem. O trio principal, Halle Berry, Bruce Willis e Giovanni Ribisi, segura a trama com competência e consegue ótimas cenas no decorrer da fita. Há alguns pontos no roteiro que poderiam ser melhor amarrados, e talvez o desfecho pudesse ter um pouco mais de dramaticidade se fosse deixado mais para o final, mas nada que desabone o conjunto. O filme consegue o principal: fazer com que você siga até quase o final achando que a trama é uma, para descobrir depois que olhou para o lado errado da história.

Mesmo não sendo dos raros que conseguem fazer com que você queria assistir novamente logo depois de "descobrir" o final, vale o tempo na poltrona. Os mais atentos não sairão muito satisfeitos, se conseguirem detectar alguns erros na história, mas também não sairão desapontados. Os que entrarem no cinema procurando o que foi alardeado como um "thriller erótico", entretanto, ficarão sem entender o que, afinal, há de erótico na película. A cena de poucos segundos em que Halle Berry aparece tomando banho, de costas e em plano médio? Bem, isso é o mais perto que se chega de nudez no filme, se é que pode-se chamá-la assim. Alguns meses a mais trabalhando o roteiro - e aproveitando melhor o elenco - fariam deste filme um ótimo suspense. Da forma como ficou, podemos chamá-lo de muito bom.

23 abril, 2007

As Tartarugas Ninja - O Retorno (TMNT)




Quando as Tartarugas Ninja surgiram nos quadrinhos, no auge das discussões sobre energia atômica, trouxeram uma mistura de ambiente soturno com ação e comédia, em traços fortemente estilizados. A primeira adaptação, para desenho animado, retirou o tom sombrio para se adaptar melhor às crianças pequenas. A segunda, para o cinema, transformou-se numa paródia B, com fantasias exageradas e deslocadas. Agora, uma nova incursão dos quelóides na telona aparece, utilizando, como não poderia ser diferente, a animação em 3D. Desta vez, o casamento de ação e comédia com a Nova York noturna foi bem feito.

Mas não passa muito disso. Preocupados em tentar continuar as histórias que os filmes começaram, o roteiro elimina os inimigos tradicionais e conhecidos das tartarugas, e apresenta uma nova série de vilões com uma história profética. Levam um bom tempo introduzindo a trama no início do filme, e seguem a passos rápidos o resto do filme, cortando, justamente, a ação tão esperada. Para tomar o lugar dela, um breve e descuidado drama familiar que não convence.

A animação alterna-se entre o ótimo e o básico. Nos closes e em certas tomadas de ação, vemos toda qualidade que tantos outros já dominam. Mas, em certos momentos, especialmente nas tomadas mais amplas, parece que estamos diante de um daqueles curtas do início da animação por computador. Uma pena, já que o aspecto visual foi o grande acerto do filme.

Quando soube que fariam um novo filme com os personagens, usando uma técnica nova para eles, imaginei que fariam um novo começo, a exemplo do que foi feito com Batman. A opção por tentar continuar uma trama que foi interrompida quase há 15 anos torna bastante difícil a conquista de um público muito especial: as crianças pequenas. Elas iriam gostar de conhecer a origem das tartarugas, e voltariam ávidas aos cinemas para as previsíveis continuações. Para elas, ainda que divertido, o filme deve ter ficado um tanto confuso. Para os grandes, nada que uma sessão da tarde não pudesse oferecer.

15 abril, 2007

300 (300)




Robert Rodriguez prestou um grande serviço ao cinema em 2005. E não estou falando aqui do excelente Sin City, mas sim do fato de conseguir trazer Frank Miller para o mundo do cinema novamente. Sim, novamente. Miller, um dos - senão o - maiores escritores de histórias em quadrinhos, foi convidado em 1990 a fazer o roteiro da continuação de Robocop, e em 1992, do terceiro também. Algumas diferenças criativas e imposições do estúdio desagradaram Miller, que afastou-se completamente da sétima arte, respondendo com um "não" pronto a qualquer investida de qualquer pessoa que quisesse qualquer coisa dele nos cinemas, inclusive suas maravilhosas histórias em quadrinhos. Para quem não o conhece, ele é o autor de pelo menos três HQs que figuram entre as 10 melhores de todos os tempos na percepção dos fãs da nona arte, incluindo a história que é considerada a melhor de todas: O Cavaleiro das Trevas. Quando se desligou do cinema, nenhuma de suas obras tinha ganhado as telas. Rodriguez, em uma manobra arriscada mas certeira, conseguiu atrair Miller para as telas novamente, inclusive dividindo a direção do Sin City - que, ainda hoje, é a melhor adaptação de uma HQ para o cinema. O resultado foi tão bom que já há duas continuações "no gatilho".

Enquanto isso, outra das grandes obras de Miller ganha agora sua versão na tela grande. Pelas mãos de Zack Snyder, um novato com apenas um outro filme no currículo, o terror-trash Madrugada dos Mortos. Snyder adaptou o roteiro dos quadrinhos de Miller, e arquitetou um esquema para conseguir produzir um épico com orçamento de comédia romântica. Foi tão bem sucedido que já começa a ser usado como modelo para as futuras produções do gênero, e sendo aclamado como um "divisor de águas". Exageros à parte, seu 300 é realmente espetacular.

O que se vê na tela é uma tradução muito fiel não apenas da estética do quadrinho, mas também da força narrativa. A fotografia com contrastes extremamente realçados, com cores como o vermelho e o amarelo sobressaindo, a utilização de câmeras de alta rotação - resultando em belíssimas cenas em um perfeito slow motion - é um deleite para os olhos. A história, por sua vez, é um deleite para a mente. Antes que um historiador queira argumentar, vale lembrar que a origem é a história em quadrinhos, e não os fatos históricos em si.

Os atores escolhidos, todos do "segundo escalão" de Hollywood - e nisso fica a marca do brasileiro Rodrigo Santoro, num papel pequeno mas importante na fita - demonstram boa desenvoltura em ótimas atuações. O cenário digital foi muito bem aplicado, e todo o resto se encaixa com exatidão.

Mais importante do que isso, é a manutenção da linguagem. As primeiras adaptações de quadrinhos levavam em conta apenas os personagens para contar histórias novas. Agora começamos a ver histórias inteiras traduzidas fielmente para as telas, e isso fez toda a diferença. Para a maioria que não leu os quadrinhos, é a chance de conhecer histórias tão boas como a dos melhores livros, contadas em conjunto com o que, nas HQs, também conta muito, que é o visual. Snyder já tem preparado outro projeto envolvendo os quadrinhos: Watchmen, outro dos que figuram entre os 10 melhores. Se o resultado for parecido com o de 300, será também imperdível.