26 maio, 2007

Um Crime de Mestre (Fracture)




Nunca é demais repetir: um bom roteiro, via de regra, faz um bom filme. Junte a ele um bom elenco - se possível contando com um veterano - e a direção nem precisa atuar tanto. Claro que, se houver um bom diretor, tudo se encaixa melhor. Um Crime de Mestre é um filme assim, em que tudo se encaixa. Uma mistura de suspense com filme de tribunal, que chega a dispensar o reforço dramático que um homicídio e um suicídio teriam se mostrados "de frente", para focar no que realmente importa, a história do homem que confessa ter matado a esposa, e ainda assim é considerado inocente.

Anthony Hopkins, no papel do acusado Ted Crawford, está totalmente à vontade no papel, unindo um pouco do cinismo e da frieza do seu eterno Hannibal Lecter à sua atuação sempre soberba. Ryan Gosling mostra um bom desempenho, apesar de um pouco abaixo das ótimas atuações que demonstrou em O Caderno de Noah e, especialmente, O Mundo de Leland. O elenco de apoio está todo muito bom, contando com atores do cacife de David Strathaim.

O roteiro teve participação de Daniel Pyne, do ótimo Um Domingo Qualquer, e as peças foram unidas pelo diretor Gregory, do sensacional As Duas Faces de um Crime e do ótimo A Guerra de Hart. Apesar de, como dito antes, um filme com tais características facilitar muito o trabalho do diretor, é sempre bom poder contar com um que saiba como "medir a mão". Afinal, também nunca é demais repetir, maus diretores podem, sim, estragar um filme com tudo de bom para dar certo.

Como sempre, em filmes do gênero, somos levados aos mesmos erros do protagonista e, quase sempre, descobrimos a verdadeira história juntos com ele. Mas o mistério aqui nem é necessariamente o grande trunfo do filme. A história bem montada, que permite que um filme praticamente sem ação não seja cansativo, é o principal. Há outros filmes de mistério melhores, sim, mas este presta muito bem seu papel de nos manter nas poltronas. Mesmo Ted Crawford teria dificuldades em encontrar as pequenas rachaduras e manchas nessa casca.

15 maio, 2007

Homem Aranha 3 (Spider-Man 3)




Da nova safra de filmes baseados em quadrinhos, a franquia Homem-Aranha é a que obteve maior sucesso. O personagem é um dos preferidos do público adolescente desde seu surgimento, justamente por apresentar características mais “comuns” à do público – Peter Parker começa sua vida de herói como estudante em uma escola pública e morando com os tios em uma casa de classe média-baixa. Neste terceiro filme – supostamente o último com o elenco original, uma tendência apontada nos filmes de heróis da Marvel – o herói passa por sua maior provação: suas duas vidas, a pessoal e a, por assim dizer, profissional, entram em conflito, uma com a outra e cada uma por si.

Os dois primeiros filmes construíram muito bem o personagem, e o tema do terceiro tinha tudo para acompanhar a evolução que se viu, em roteiro e em linguagem, nos outros. Mas não o fez. A junção das várias tramas não combinou bem, tudo aconteceu muito rápido e o esquema ação-drama-ação não funcionou como se esperava.

É interessante dizer que, nos aspectos técnicos, o filme é excelente, incluindo aí as atuações – que foram competentemente acompanhadas pelos novatos na história Topher Grace como Eddie Brocker, Bryce Dallas Howard como Gwen e Thomas Haden Church como Flint Marco. James Franco destaca seu Harry Osborn um pouco mais que nos outros filmes. A única ressalva que se pode fazer é ao exagero na transformação psicológica de Parker ao deixar-se levar pela influência do simbionte que se torna seu uniforme negro. Primeiro, o look emo foi uma interferência totalmente desnecessária, e a velocidade com que aconteceu, como no resto do filme, não permitiu a dramaticidade que a situação na realidade possui.

O filme é divertido, claro, e no final das contas é só isso que se espera dele. Mas, para aqueles um pouquinho mais exigentes, havia muito mais a se trabalhar na história, talvez o suficiente para fazer, ao invés de um, dois filmes com uma duração levemente maior, no velho esquema de continua-exatamente-onde-parou. Enfrentar três inimigos poderosos, além dos próprios problemas pessoais, acabou não sendo um desafio tão grande para o Aranha. Para o público, entretanto, fica uma sensação de que faltou um pouco mais de tempo no forno.