25 novembro, 2007

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)




Como segurar por quase 3 horas um filme lento, em que já sabemos o que vai acontecer? O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford repete uma história bastante conhecida - pelo menos para os norte-americanos: a do bandido-celebridade que no século XIX realizou ousados assaltos a trens e bancos nos Estados Unidos. Já na época em que estava em atividade suas histórias - verdadeiras ou não - eram contadas nos primórdios da Pulp Fiction, os livros de literatura barata que aqui no Brasil são representados nas bancas por Sabrina e seus similares. Vários livros, filmes e séries fizeram referência ao fora-da-lei, mesmo recentemente. O que há, então, de novo? A história, aqui, não é sobre Jesse James, mas sobre aquele que acabaria por assassiná-lo, Bob Ford. Ávido admirador de James, Ford entra para o bando no último assalto a trem, então com 19 anos, e cerca de dois anos depois mata o seu ídolo. O filme conta essa história.


O diretor Andrew Dominik é um novato, com apenas outro filme no currículo, o ultraviolento Chopper. Aqui ele demonstra um grande domínio da linguagem cinematográfica, imprimindo ao filme um ritmo coerente, bem longe do faroeste que o tema nos levaria a imaginar. Sua fotografia é belíssima, aproveitando muito bem as cenas externas com um interessante efeito de desfoque lateral em algumas tomadas. Autor também do roteiro, Dominik soube utilizar muito bem a história e teve a sensibilidade de trabalhar corretamente o personagem certo para contá-la.

E, provando que é também um bom diretor de atores, temos Brad Pitt em uma ótima performance como Jesse James, contracenando com um competente Casey Affleck - que demonstra aqui superar facilmente o irmão Ben - no papel de Bob Ford. A caracterização de ambos é singular: enquanto Jesse é confiante e centrado, Ford é tímido e agitado. Ambas as atuações conseguem passar muito bem essas descrições, através de todos os artifícios de linguagem corporal tão importantes para a profissão. Todo o elenco atua bem, inclusive sabendo deixar a atenção sobre os personagens que realmente interessam.

Os fatos narrados no filme foram documentados, são parte da história. É a relação íntima entre ídolo e o admirador que segura os espectadores na poltrona, mantendo a tensão de saber como é o começo de uma história que a maioria já sabe. Jesse James pode ser considerado a primeira mega-celebridade, apesar de conseguir viver incógnito como Thomas Howard por anos. Na comparação que os norte-americanos adoram fazer, ele era mais conhecido que o presidente em sua época, e assim foi com Bob Ford depois que o matou. Escolher uma boa história e contá-la de uma boa maneira é o que faz o bom cinema. E é isso que vemos na tela neste filme.

24 novembro, 2007

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited)




Wes Anderson é um daqueles diretores que tem uma marca pessoal muito forte. Seus filmes são sempre algo estranhos, seus temas freqüentemente remetem de alguma forma à figura paterna e à famílias mais ou menos desestruturadas, e ele gosta muito de repetir seus atores. Seu primeiro longa é um remake de seu primeiro curta. Todos os seus filmes até agora encerram com uma cena em slow motion, e suas trilhas sempre são músicas britânicas dos anos 60 e 70. Gosta de visuais extravagantes e sempre está naquele limite indistinguível entre a comédia e o drama. Quase sempre, um dos atores é também o co-roteirista, junto com o próprio Anderson. Sua última produção, Viagem a Darjeeling, possui todas essas características.

Estrelado por Owen Wilson, que só não atuou em um dos 5 longas do diretor, e que mostra neste uma atuação exemplar; Adrien Brody, com quem trabalhou pela primeira vez e que sempre mostra boa forma artística; e Jason Schwartzman, que esteve em seu segundo filme e que aqui é também co-roteirista. Além deles, completam a lista Anjelica Huston com outras duas parcerias, e Bill Murray com quatro. Anderson não é exatamente um diretor de atores, até porque suas histórias não costumam exigir muito deles. Antes disso, ele é especialmente um excelente maestro. É assim que, aparentemente, ele comanda suas produções. Não precisa que todos mostrem sua melhor performance para que a música soe perfeita.

Viagem a Darjeeling é precedido pelo curta Hotel Chevalier, que há alguns meses causou frisson na internet por mostrar a inédita nudez - rápida e lateral - de Natalie Portman. Aqui ele serve como uma espécie de contraponto para a história dos três irmãos que partem em uma busca espiritual pela Índia. Como sempre nas histórias de Anderson, o que eles encontram não é necessariamente o que procuraram, e todos os momentos cômicos são muito bem engendrados. Aproveitando muito bem todo o colorido e todo o choque cultural que a Índia pode causar aos ocidentais, somos levados também na busca dos irmãos Whitman. Divertido no ponto certo, é uma peça que faz jus à curta, porém cheia de personalidade, carreira desse cineasta.

18 novembro, 2007

A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium's Wonder Emporium)




Zach Helm estreou no cinema como roteirista do excelente Mais Estranho que a Ficção - pelo qual foi comparado ao atual mestre dos roteiros nonsense Charlie Kaufmann, de Quero Ser John Malkovich. Mal fez seu nome escrevendo, já passou para a direção, comandando seu próprio roteiro em A Loja Mágica de Brinquedos. Dessa vez não é tanto o nonsense que impera mas, como o título brasileiro diz, a magia. O Sr. Magorium viveu plenamente seus 243 anos e deseja partir. É realmente necessário. Afinal, o último dos vários pares de sapato pelo qual se apaixonou em Toscana, e do qual comprou o suficiente para durar por toda a sua vida, já está em seus pés, e surrado. Mas isso não o incomoda. Ele vai deixar a sua maravilhosa loja para sua gerente, a pianista Molly Mahoney, cuja primeira grande obra ainda está em composição.

Não há como não lembrar de outras produções com temas similares, como A Fantástica Fábrica de Chocolate - especialmente na versão de Burton - e A Revolta dos Brinquedos. A Loja Mágica encaixa-se com perfeição no segmento, remetendo àqueles mas mostrando bastante personalidade. A história criada por Helm tem as doses certas de humor, sensibilidade e magia. E é auto-explicativa; cada movimento é separado em capítulos, que marcam o final da história do Sr. Magorium e, conseqüentemente, o início da de Mahoney. A fotografia, colorida como deve ser, e o ótimo cenário da loja, marcam muito bem o clima e o tom.

E Helm mostra-se também competente com seus atores. É bem verdade que contou com um excelente elenco. O veterano Dustin Hoffman - que estava no filme anterior do ainda apenas roteirista Zach - está totalmente à vontade no papel do excêntrico Sr. Magorium. Interpretando a insegura Molly Mahoney, pianista de grande potencial mas que ainda não descobriu o seu brilho, a excelente Natalie Portman, em uma atuação singular. Fazendo o contraponto infantil com uma atuação memorável está Zach Mills como Eric, o garoto que tem o chapéu certo para cada ocasião, mas não tem amigos. Completando o elenco principal como o contador mutante, Jason Bateman mostra-se competente no seu papel.

Assim como Molly não está confortável com a partida do Sr. Magorium, também a loja mostra-se incomodada. E a forma como cada pequeno ponto no filme completa seu ciclo, cheio das simbologias que também são características dessa classe de filmes, mostra que Helm tem também uma boa mão para a direção. Ele tem o equilíbrio suficiente para encerrar a história no ponto exato, quando Molly descobre que sim, tem a magia necessária para dirigir a loja. Adoraríamos que a produção fosse um pouco mais além e mostrasse os primeiros momentos depois da epifania de Mahoney mas, como bem explicado no começo, essa é uma outra história.

17 novembro, 2007

O Búfalo da Noite (El Bufalo de la Noche)




Em 2000 fomos apresentados a uma dupla de cineastas mexicanos que, com poucos movimentos, deixaram sua marca indelével na produção cinematográfica atual. O filme era Amores Brutos, dirigido por Alejandro González Iñarritú e escrito por Guillermo Arriaga. O estilo tenso e a história de várias partes entrelaçadas agradou a crítica em cheio. A dupla realizaria mais dois projetos juntos, os excelentes 21 gramas e Babel, além de participarem nos curtas da BMW. Conta-se que, durante a produção de Babel, houve uma rixa entre os dois. Aparentemente Arriaga não gostou do comportamento do seu parceiro diretor quanto a certas declarações para a imprensa. O fato é que temos agora o primeiro longa do roteirista depois de Babel, sem Iñarritú na direção. O novato Jorge Hernandez Aldana comanda a história baseada em um livro do próprio Guillermo.

Ao contrário dos filmes com seu antigo parceiro, aqui temos apenas uma história. Como nos outros, entretanto, temos o estilo tenso e as informações dadas a conta-gotas. Um jovem esquizofrênico comete suicídio e deixa para seu melhor amigo - que havia tomado-lhe a namorada enquanto o outro estava no hospital - uma caixa. É o início de uma perseguição lenta e paulatina, que não deixará que Miguel livre-se do fantasma de Gregorio nem que aproveite a companhia de Tania, a namorada. Indo e vindo, o filme nos mostra um pouco do que aconteceu no passado e outro pouco do que acontece agora.

O estilo de Arriaga é o de seus outros roteiros, ocultando o que é interessante saber, e revelando o que talvez não gostaríamos de ver. O diretor recebeu de presente um excelente roteiro, e soube aproveitá-lo muito bem, compondo um elenco exemplar. Diego Luna, no papel principal, é um rosto conhecido para aqueles que deram uma olhada no cinema mexicano da última década. Muito bem acompanhado por Liz Gallardo, cuja semelhança com a espanhola Penelope Cruz está não apenas nas feições mas também na atuação, e pelo competente Gabriel González.

O México tem mostrado-se uma fonte de cinema de muito boa qualidade. De lá já saíram ótimos filmes, excelentes diretores, atores primorosos, tudo que pode-se esperar da sétima arte quando bem feita. Uma pena que, ainda assim, filmes como este permaneçam restritos ao circuito alternativo. Na desavença entre os antigos parceiros, pelo jeito o roteirista levou a melhor. Depois deste, já tem mais dois roteiros anunciados, enquanto Iñarritú fez apenas uma participação em um filme coletivo sobre cinema.

11 novembro, 2007

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs)




Robert Redford é um dos poucos atores que se tornaram diretores da atualidade que tem um estilo muito particular de contar uma história. Ele dirigiu pouco, apenas 7 vezes, comparado com as mais de 6 dezenas de produções em que atuou e outras tantas que produziu. No comando, seu estilo se traduz em ótimo ritmo, roteiros profundos e temas moralizantes. Valoriza os diálogos e aproveita bem a fotografia. Suas experiências na direção normalmente não causam estouros de bilheteria, mas obtém boa resposta dos críticos. Em seu mais recente filme ele dirige e atua, e sustenta uma opinião sobre a política de "segurança" dos Estados Unidos.

Ao contrário da maioria dos outros filmes sob a batuta de Redford, a fotografia aqui não conta. Há basicamente três cenários: o gabinete de um senador, o escritório de um professor universitário, e a guerra do Afeganistão - aquela que eles começaram seis anos atrás com a desculpa de prender Osama Bin Laden e acabar com o terrorismo. Os três cenários representam os três diálogos básicos da história: o senador tenta vender sua próxima campanha militar a uma jornalista veterana; o professor tenta dar direções a um jovem talentoso mas perdido; e dois soldados patriotas tentam provar para si mesmos que tudo aquilo vale à pena. Essa estrutura valoriza a multiplicidade do discurso, mas também ajuda o filme a navegar muito bem até quase o final, quando praticamente se perde.

Redford leva a história em rédeas curtas, fazendo, a exemplo dos discursos de Sócrates, longas espirais antes de colocar sua opinião. Cada núcleo do filme é excelente, mas o mesmo não se pode dizer da relação entre eles. Um bom time de atores segura a qualidade das cenas, que infelizmente não levam a um lugar muito claro. Como diretor, os méritos são grandes. Os diálogos são fortes como pouco se viu em filmes mais comerciais, e seu elenco trabalha muito bem. Mas algo falta.

A opinião que o filme expressa é clara, desde o início: contra a presença norte-americana no Afeganistão, não importam os motivos que os levaram até lá. Durante todo o filme, temos a impressão de que uma alternativa muito melhor vai ser colocada. Temos a impressão que a jornalista vai defender a verdade e a sua classe e negar o pedido vil de apoio do senador, e que o aluno brilhante vai perceber o que deveria estar fazendo e não faz, e talvez que os soldados percebam que o país pelo qual tanto prezam não preza tanto assim por eles. E o filme chega ao final deixando todas essas impressões no ar, sem dar o seu devido fechamento. Sem ser um filme alternativo o suficiente para nos inferir maiores reflexões, acaba também não sendo comercial o suficiente para dizer a que veio.

10 novembro, 2007

Noel - Poeta da Vila




Nos últimos anos vimos o gênero das cinebiografias ser revitalizado com uma onda de ótimas produções. De Cazuza a Truman Capote, passando por Ray Charles e Johnny Cash, esses filmes nos apresentam facetas não muito conhecidas de pessoas famosas, o que por si só já é um grande trunfo. Quando temos como tema um músico, há ainda suas melhores composições na trilha. Em Noel - Poeta da Vila, há ainda a curiosidade de saber mais sobre um personagem muito presente, já que suas músicas continuam a ser eternamente regravadas e ouvidas. Mas algo ficou faltando na fita.

Ricardo van Steen, o estreante diretor, baseou-se na melhor biografia escrita sobre o boêmio para o seu filme, um projeto pessoal antigo. Talvez tenha ficado tão atento às facetas do personagem que deu menor atenção ao ambiente e às várias possibilidades que sua leitura sobre um dos maiores marcos do samba nacional poderia alcançar. A Vila Isabel, berço do poeta e palco das suas maiores obras, é pouco ou nada aproveitada, como também algumas passagens interessantes da vida de Noel Rosa. A fotografia calibrada para simular uma fotografia antiga é desnecessária e afasta o espectador da contemporaneidade das suas canções.

Não sei as limitações de orçamento que a produção enfrentou, mas faltou um pouco mais de cenas externas, mostrando a Vila no início do século passado, e também faltou tempo. Os 99 minutos do filme são poucos, muito poucos, para explorar um personagem tão interessante. Como no caso de Olga, mas por outros motivos, podemos ver o potencial de um excelente filme que acaba por não acontecer. Não apenas o potencial da história, mas o potencial do diretor e especialmente do ótimo elenco. O também novato Rafael Raposo como o poeta não chega a impressionar - a não ser pela sua semelhança com o seu personagem da vida real - mas percebe-se que tem talento.

Pode parecer injusto não dar uma nota alta para uma produção que tem, sim, várias qualidades. Mas talvez essa seja a maneira de apurar o cinema brasileiro, que possui tudo o que é necessário para produzir ótimos filmes, menos o incentivo. Nesse caso, como já disse, tudo está lá. O que falta é provavelmente o apoio - financeiro inclusive - que faria com que saíssemos extasiados da poltrona, cantando os sambas que todos sabemos de cor. Ainda assim, é um filme que deve ser visto, especialmente porque a melhor maneira de melhorar o nosso cinema é dando crédito às produções que tem potencial.

04 novembro, 2007

O Passado (El Pasado)





Hector Babenco é um diretor que costuma dividir os poucos brasileiros que o conhecem. À parte o fato dele ser argentino, suas produções brasileiras geram opiniões quase sempre opostas. Ele filma pouco, foram apenas 11 peças desde 73, mas sempre o faz intensamente. Sua penúltima obra, o brasileiro Carandiru, foi filmado no mesmo prédio em que se passam as histórias, às pressas, antes que o complexo carcerário fosse demolido. Para que os atores pudessem entrar melhor em seus personagens, Babenco fez com que todos passassem uma noite nas celas, nas mesmas condições dos detentos. Sua nova película traz também algo em comum entre a realidade e a ficção, mas desta vez é algo um tanto mais prosaico. Seu ator principal, Gael Garcia Bernal, envolveu-se com quase todas as mulheres da produção, incluindo atrizes.

O filme é a história de Rímini, desde a separação da sua primeira esposa Sofia até sua reunião com ela. O estilo mais intimista que Babenco imprimiu à obra transparece em diálogos curtos e atuações fortes, em que Bernal é um indiscutível destaque, mostrando sua força como um dos melhores atores da sua geração. Mas o elenco feminino que faz o contraponto ao galanteador mexicano não deve em nada. É preciso apontar as qualidades mostradas por Analía Couceyro, a Sofia, que demonstra uma grande capacidade de produzir um sentimento com sutis mudanças de expressão.

Babenco filma O Passado com a experiência de quem já teve sob sua tutela ótimos atores e excelentes roteiros, e sabe como usar a cena a seu favor, seja na intimidade revelada, seja no silencio que quase tudo conta. Como das outras vezes, é bastante possível que as opiniões dividam-se nos extremos, já que é difícil passar as quase duas horas de projeção inócuo ao roteiro forte. Possivelmente a Argentina tentará levar o filme ao Oscar, entre outros grandes prêmios do cinema, e nesse fator o nome Hector Babenco pode dar alguns pontos a mais. Uma curiosidade: Paulo Autran, um dos maiores atores brasileiros, fez neste filme sua última participação nos cinemas, em uma ponta como um professor francês.

03 novembro, 2007

Tá Dando Onda (Surf's Up)




Há uma estranha onda de coincidências nas animações por computador. O segundo filme do gênero feito por um grande estúdio, Formiguinhaz, foi logo seguido pelo Vida de Inseto da pioneira Pixar, também trazendo formigas como personagens. O sensacional Shrek antecipou o também excelente Monstros S.A., ambos protagonizados por criaturas estranhas. Tivemos ainda Procurando Nemo antes de Espanta Tubarões, e Madagascar por Selvagem, com animais de zoológico. Agora, pouco depois da pequena obra prima que foi Happy Feet, temos mais uma animação com pinguins. Espionagem industrial? Não importa, até porque, nesse caso, ganham todos: produtores, animadores e, especialmente nós, o público. Como cada um deles tenta ser melhor que o outro, o nível das novas produções em 3D espanta a cada lançamento, e o roteiro quase sempre acompanha.

Tá Dando Onda traz um novo recurso interessante no segmento, a metalinguagem. O que vemos é uma mistura de filme com produção de um suposto documentário sobre a 10ª edição do Campeonato de Surf Big Z da Ilha Pingu. Imagens simulando uma captação em 16 milímetros, perdas de foco e trepidações na câmera, personagens interagindo com a equipe de produção, está tudo lá, vestindo a divertida história do garoto que sonhava ser um campeão no surf. Qualquer um que já assistiu a algum dos vários filmes de surf percebe facilmente as marcas do gênero, incluindo a câmera na ponta da prancha e as gotas d'água na lente.

Não há uma explicação sobre o motivo de os personagens principais serem pinguins, além da habilidade natural dessas aves na água, mas isso também não é importante. A história, como sempre, agrada grandes e pequenos. Tem lá os seus defeitos e clichês, mas é bastante atraente e bem trabalhada, e conta com o apoio de vários personagens interessantes. A presença de "personagens reais" como Kelly Slater e Rob Machado, faz parte das referências que divertem os cinéfilos e curiosos de plantão. Um filme simpático para uma tarde agradável.

02 novembro, 2007

Um Verão Para Toda Vida (December Boys)




Vez por outra, no cinema, somos apresentados a uma produção feita especialmente para que lembremos com nostalgia de uma época mágica em que tudo parecia possível. Não raro, tais filmes apresentam algum acontecimento marcante, que é o ponto com o qual compararemos o resto de nossas vidas. Quase sempre narrados pela versão adulta do personagem principal, são frequentemente belos exemplos de bom cinema, ancorados em roteiros poderosos. Um Verão Para Toda Vida preenche todos os requisitos, e merece seu posto entre os bons do gênero.

Um grupo de órfãos são escolhidos para passar as férias de verão - sempre elas - no litoral da Austrália, em uma pequena vila. Esse mote simples é a base para uma maneira profunda e delicada de mostrar, na visão de dois dos órfãos, a passagem para a vida adulta por um, e o reconhecimento da família por outro. O diretor Rod Hardy, que até então quase só havia dirigido produções para a TV, mostra uma mão muito boa para o drama, aproveitando com muita propriedade o belo cenário, o elenco de quase desconhecidos e o roteiro. O filme tem o ritmo e o nível de emoção certo, daqueles que poucos dramas conseguem alcançar.

Entre o elenco de quase desconhecidos há um rosto muito familiar: Daniel Radcliff, o Harry Potter. O segundo jovem mais rico da Inglaterra - perde apenas para o príncipe Harry - sai-se muito bem sem o uniforme de Hogwarts, mostrando que tem bastante talento para ser descoberto. É verdade que seu melhor papel ainda é o do bruxinho no terceiro filme da série, sob a batuta do mexicano Alfonso Cuarón, mas conseguir estar nas telas sem que lembremos de que ele é o eterno Harry Potter é um grande feito. Basta lembrar que outros atores jamais conseguiram sair de seus personagens mais famosos, como Mark Hammil - o Luke Skywalker - e William Shatner - o Capitão Kirk de Jornada nas Estrelas.

Um Verão Para Toda Vida é daquelas produções em que a simplicidade pode fazer com que não chegue a ser aclamado. Mas películas como essa não precisam disso. Alcançando um patamar que o coloca em pé de igualdade com clássicos como Conta Comigo e Lições Para Toda Vida - uma coincidência apenas de "tradução" do título - é um filme que será revisto várias vezes, em várias épocas, e nunca perderá seu charme.