24 agosto, 2008

O Procurado (Wanted)




O Procurado é um daqueles filmes que se assiste com uma sensação de "já vi isso antes". Não que a história seja conhecida - é baseada em um quadrinho que só os mais fanáticos conhecem - mas a forma como ela se apresenta. É um filme de ação, e isso por si só já praticamente impõe algumas recorrências. O diretor, o russo Timur Bekmambetov, estréia em Hollywood, e parece que quis impressionar os novos chefes dando a eles um pouco mais do que eles já têm o bastante.

Timur começou bem, com uma produção bem cuidada e cheia de grandes nomes. Sua estrela é James McAvoy, o ótimo ator escocês que vimos há pouco no excelente Desejo e Reparação. Contracenando com ele estão Angelina Jolie e Morgan Freeman. McAvoy faz um bom papel, mas temos a impressão de que um bom diretor de atores conseguiria algo mais. Jolie praticamente repete sua atuação de Sr. e Sra. Smith, e Freeman, bem, ele está sempre muito bom.

O roteiro tenta se basear em uma história interessante, mas não convence muito. E nem precisa, afinal, é um filme de ação. O problema é que Timur não inova em nada. Dos ângulos às tomadas, dos efeitos especiais às interpretações, o que temos é uma colcha de retalhos de velhas soluções, algumas que em certos momentos nos lembram filmes muito bons - como Clube da Luta e Matrix. A história se perde da metade para o final, os conflitos e descobertas não trazem nada de novo, e o que resta são apenas as sequências de ação.Bom para esquecer o mundo por duas horas, e só.

23 agosto, 2008

Reflexos da Inocência (Flashbacks of a Fool)




"Não se pode fugir do seu passado" é uma frase que o cinema repete insistentemente. Várias produções utilizam o mote de mostrar como o passado de alguém interferiu no seu presente. Reflexos da Inocência é mais um desses. A fórmula é simples: uma série de acontecimentos faz com que o protagonista revisite a sua vida - não raro algo de que ele fugiu. Mesmo sem novidades no tema, há formas e formas de contar a história.

O título original, Flashbacks of a Fool, é como quase sempre mais significativo que a tradução. Uma das boas decisões do diretor e roteirista Baillie Walsh foi a de concentrar a volta ao passado em um longo flashback, que ocupa a maior parte da fita. Nessa parte, lembra um pouco Um Verão para toda Vida, do ano passado, com sua paisagem do litoral inglês e a história girando em torno das decisões da adolescência. Walsh é um diretor novo - tem apenas um documentário e alguns videoclipes no currículo - e não conseguiu aqui colocar uma marca muito forte. Suas influências são facilmente percebidas pelos mais atentos.

Apesar de estar no poster e listado como ator principal, Daniel Craig - é, o atual James Bond - não é a maior atração do filme. Não apenas sua parte é apenas a "moldura" da história, mas também sua atuação não empolga. Sua contraparte jovem, interpretada por Harry Eden, sai-se melhor, como quase todo o elenco da fase do passado. Da forma como foi montado, poderiam ter escalado qualquer ator para a fase adulta. O fato de Craig ser também produtor certamente teve a sua influência. Além de Harry, Olivia Williams, que faz a sua mãe e a amiga Ruth interpretada por Felicity Jones são algumas das boas interpretações, além da ranzinza vizinha de Miriam Karlim.

Walsh tentou imprimir um tom idílico à parte central da produção, explorando as paisagens e a imaginação dos personagens - quase todas as críticas falam da cena em que o jovem Joe e sua pretendente Ruth dublam "If There Is Something", da banda Roxy Music, devidamente caracterizados. Podemos dizer que ele atingiu seu objetivo, mas não conseguiu criar o contraste necessário entre a vida adulta de Joe e o seu passado. A vida do ator decadente é desinteressante, e a interpretação de Craig não ajuda. Talvez por conta disso saiamos do cinema divididos entre o bom e o médio como opinião.

09 agosto, 2008

Quem Disse Que É Fácil? (¿Quién dice que es fácil?)




A Argentina, à parte a nossa rivalidade no futebol, é um país com tanta história de mazelas políticas quanto o Brasil. Quando se ouve falar de um filme argentino, pode-se esperar que, assim como o Brasil, haja lá a mania de colocar a tal política em quase tudo. Se depender do diretor Juan Taratuto, isso vai passar longe. Ele chamou alguma atenção do mundo do cinema há alguns anos com Não É Você, Sou Eu, uma comédia divertida e original. Quem Disse Que É Fácil tem os mesmos elementos básicos - incluindo o nome longo e estranho - e é igualmente divertida e original.

O mote não poderia ser mais simples: duas pessoas, aparentemente opostos em tudo, se encontrar e, claro, se envolvem. Sim, já vimos isso antes. Mas Taratuto consegue dar charme à trama com personagens que, apesar de caricatos, parecem bastante reais. O controlador Aldo consegue ser também simpático, e a charmosa e impulsiva Andrea consegue parecer com alguém que conhecemos há tempos.

Como é difícil filmes argentinos desembarcarem aqui - apesar da proximidade geográfica e da qualidade das produções de lá - todos os rostos no filme são desconhecidos. O par principal, formado por Diego Peretti - também ator principal do Não Sou Eu, É Você - e Carolina Pelleritti, está excelente. Mesmo com um roteiro simples, eles conseguem dar camadas aos personagens. Os amigos de Aldo estão ótimos como suporte cômico também.

O grande trunfo do filme é não ser pretensioso. Poderia elocubrar sobre as divergências da sociedade, sobre modos de vida distintos, mas se atém na estranheza da convivência do casal. Taraturo dirige o filme sem esforço aparente, sem se preocupar em fazer tomadas excelentes e mostrar destreza. A intenção é apenas divertir. E ela é atingida plenamente, ainda que alguns diálogos tenham bastante força. Para quem gosta de saber que bom cinema está em toda parte.

07 agosto, 2008

Ao Entardecer (Evening)




Todos nós tomamos alguma decisão em determinado momento da vida, que depois nos faz questionar onde estaríamos se, naquele momento, tivéssemos escolhido diferente. Com esse tema já foram contadas centenas de histórias, e algumas inclusive caíram na tentação de mostrar o que realmente teria acontecido. Ao Entardecer não usa esse artifício. Pelo contrário, fala justamente de uma mulher que resolve abrir uma parte da sua vida que ela mesma escondeu por muito tempo. Baseado no livro da autora Susan Minot - que escreveu também Beleza Roubada, filmado por Bernardo Bertolucci - o filme é, a exemplo deste, uma viagem sentimental.

O diretor húngaro Lajos Koltai fez várias escolhas certas. O cenário, dividido entre um casarão de subúrbio e uma belíssima paisagem à beira-mar, parece ter sido criado especialmente para a produção. O recurso de alternar presente e passado, apesar de muito utilizado, permitiu uma fluência que se aproxima muito da linguagem poética que o livro provavelmente possui. Há um motivo especial para isso. Apesar do vai e vem, toda a história acontece em um final de semana, no passado e no presente. A ambientação foi muito bem trabalhada, especialmente na iluminação, dando contornos ainda mais suaves às transições.

O elenco também ajudou bastante. É gratificante ver a jovem Claire Danes saindo-se muito bem no papel que, no presente, é de Vanessa Redgrave. Claro, não devemos esperar que Claire mostre a mesma performance que Vanessa, mas no contexto da jovem explosiva versus a senhora madura, temos uma continuidade excelente. Toni Collete, em sem papel coadjuvante, destaca-se levemente sobre Natasha Richardson, como as filhas da personagem principal. Natasha, inclusive, é filha de Vanessa Redgrave na vida real. Outro caso é o de Mamie Gummer, que interpreta a melhor amiga da personagem na juventude, e no presente é vivida pela sua mãe, Meryl Streep - e aqui a semelhança física chama bastante atenção. Infelizmente não há muito o que dizer das interpretações masculinas, exceto pelo bom papel de Hugh Dancy como o problemático Buddy.

Ao Entardecer é o tipo de filme que agrada muito mais as mulheres que os homens. Como todos um dia fazemos escolhas, é difícil não deixarmos o cinema com uma sensação levemente melancólica. Não obstante, é uma bela produção que se oferece como alternativa a algumas das bobagens em cartaz - considerando que você já assistiu às boas produções atualmente nas salas.

03 agosto, 2008

Ensinando A Viver (Martian Child)




Histórias de pessoas problemáticas, mas adoráveis, são quase sempre interessantes. Há alguns anos tivemos nos cinemas a história de Prot, um alienígena vivido por Kevin Spacey enviado à Terra para estudar-nos em K-Pax. Ensinando a Viver lembra bastante o filme de 2001, mas vale-se de um modo mais prosaico para passar a sua mensagem. Aqui acompanhamos David, um escritor de ficção científica que adota um garoto que diz ser de Marte, Dennis.

O diretor, Menno Meyjes, tem em seu currículo mais participações como roteirista - incluindo histórias utilizadas no programa Além da Imaginação e co-autoria da história de Indiana Jones e a Última Cruzada. Ele é inteligente o bastante para não focar tanto nos modos estranhos de Dennis, e trabalhar a relação que David busca estabelecer com ele. A cena em que, para mostrar que não está bravo pelo menino ter acidentalmente quebrado um objeto, ele o incentiva a quebrar outros, é um dos melhores momentos da fita.

John Cusack vive o escritor, com sua boa performance de sempre - é o tipo de ator a quem deviam dar mais atenção. Ele algumas vezes exagera nos maneirismos, mas consegue passar a angústia de cuidar de um pequeno marciano, muito bem interpretado por Bobby Coleman. A irmã de Cusack, Joan, novamente o acompanha fazendo o contraponto cômico - é a 9ª vez que atuam juntos. É difícil encaixar, entretanto, a personagem de Amanda Peet, na pele da amiga que conforta o recém-viúvo e novo pai.

Ensinando a Viver não é um título à altura do filme. Mesmo podendo ser encarado como uma versão mais açucarada de K-Pax, tiraríamos melhor proveito do título original, chamando-o de O Garoto de Marte. É daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto quase o tempo todo, entre uma risada e outra. Divertido, sensível e simpático, deveria merecer mais atenção das exibidoras brasileiras. Nos poucos lugares em que estreou, ficou limitado a poucas salas e espremido entre horários de outros filmes. Para uma produção essencialmente comercial, bem feita e com potencial, é uma pena.

Meu Irmão É Filho Único (Mio Fratello È Figlio Unico)




Quem já assistiu a uma boa comédia italiana das antigas logo associa um nome como esse, e a sua origem, às histórias divertidíssimas em que todos falam ao mesmo tempo, brigando uns com os outros, mas sem se separarem. O diretor Daniele Luchetti - um dos principais cineastas italianos hoje - usou o estilo para vestir um pedaço muito particular da história recente da Itália. O filme é contado do ponto de vista de Accio, o filho do meio de uma família operária, que mora em uma pequena cidade do interior em que as coisas demoram a chegar. Deslocado, ele tenta ser padre, depois facista, indo sempre ao contrário do que todos pensam.

Accio é interpretado na adolescência por Vittorio Emanuele Propicio, muito bem em sua primeira investida no cinema. Adulto, é vivido por Elio Germano, em uma interpretação que lhe valeu a indicação ao Prêmio Europeu de Cinema, e o prêmio de melhor ator no David di Donatello, o equivalente do Oscar na Itália. Ele expressa tão bem a confusão de não se encaixar em lugar nenhum - e ainda assim não ter para onde ir - que chega a ser difícil perceber que ele na verdade interpreta. Seus companheiros na tela também estão ótimos, com destaque para o irmão mais velho e comunista vivido por Riccardo Scamarcio. A mãe vivida por Angela FInocchiaro, apesar de aparecer pouco, está também excelente.

Luchetti filma levando-nos à quase total intimidade com o personagem e com a sua vida. Ângulos muito próximos em diversos momentos da fita causam estranhesa no início, mas rapidamente nos acostumamos a ver tudo aquilo de muito perto. Sem poupar os trejeitos do seu país, o diretor consegue misturar um tema delicado e potencialmente perigoso - a divisão política pós Segunda Guerra - a um intenso drama que é, ao mesmo tempo, uma divertida e típica comédia italiana.

02 agosto, 2008

A Múmia - Tumba do Imperador Dragão (The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor)




Pegando carona nos revivals deste ano, uma série nem tão antiga assim volta às telonas. A Múmia estreou com sucesso em 1999, tendo uma sequência em 2001, e um filme baseado na série em 2002, utilizando o personagem do Escorpião Rei. O tempo não foi suficiente para as crianças e adolescentes que o assistiram sentirem saudades das aventuras de Rick O'Connel, e ao mesmo tempo é um tempo muito grande para uma sequência. Grande o suficiente para que uma das principais atrizes, Rachel Weisz, recusasse voltar ao seu pape.

Stephen Sommers, diretor dos dois primeiros, passou aqui a batuta para Rob Cohen, assinando apenas a produção - e, dizem, também alguns pitacos no roteiro. Essa troca reflete-se, na fita, em uma leve mudança de estilo. Enquanto Sommers é o típico diretor de filmes de aventura, Cohen já tem um certo apreço por cenas com alta velocidade - como Velozes e Furiosos, Triplo X e Stealth. Em compensação, não faz muita questão de tirar muito dos seus atores.

Falando em atores, a falta de Rachel Weisz é sentida. Maria Bello, que a substitui no papel, é uma boa atriz, mas nem de longe à altura de Rachel. Descobrimos que um pouco do charme dos dois filmes anteriores deve-se à ela, capaz de unir sua performance artística sempre excelente à cenas bastante físicas. Bello não se sai mal, mas coloca na tela uma Evelyn totalmente diferente. Brendan Fraser e John Hannah repetem seus papéis sem dificuldades. Uma boa novidade é Michelle Yeoh, que quase compensa a falta de Rachel. Os jovens Luke Ford e Isabella Leong não erram, mas também não se destacam, como Jet Li, o vilão da vez.

Como um filme de aventura, não há muita expectativa. Logo, nenhuma surpresa também. É divertido o suficiente para nos fazer esquecer o mundo real por quase duas horas. Se fosse uma volta às telas depois de um tempo longo - como Indiana Jones - precisaria ser muito mais bem feito para causar uma impressão positiva. Em uma semana de poucas estréias realmente interessantes - considerando que você ainda não assistiu os obrigatórios como Batman - é uma opção válida.