29 janeiro, 2010

O Fim da Escuridão (Edge of Darkness)




Atrasado na onda de filmes baseados em séries dos anos 80, O Fim da Escuridão chega às telonas trazendo como principal força o primeiro papel principal de Mel Gibson desde Sinais, de 2002, e sua primeira aparição no cinema desde a ponta que interpretou em Paparazzi, de 2004. A história de tons conspiratórios segue o estilo de vários outros, em que pedaços de informação vão sendo revelados sem que, no final, a trama fique de fato esclarecida.

Martin Campbell, que dirigiu a série original, comanda esta produção aproveitando-se bastante do nome para um filme escuro, rodado nas sombras, mas sem nada da utilização primorosa de fotografia que vimos em O Bom Pastor. O ritmo varia entre cenas de ação e alguns diálogos realmente bons, mas sem que se perceba uma intenção clara do diretor em balancear o andamento da história. Na verdade, a culpa é dos produtores, que pediram mais cenas de ação - que foram feitas depois que o filme já estava todo rodado, atrasando o lançamento previsto para 2009.

Gibson escolheu para sua volta à frente das telas - nos anos em que não atuou, dirigiu e produziu seus próprios filmes - um personagem sem profundidade, e assim o interpretou. Por mais que começasse a entender o fio oculto da conspiração que envolve o assassinato da filha, o que mais o interessava era vingar-se do homem que puxou o gatilho. Por isso alguns personagens interessantes, como o agente Jedburgh - papel que chegou a ser oferecido a Robert DeNiro, mas ficou com Ray Wintstone - destoam-se numa pseudo-profundidade de conflitos internos. O papel de Danny Houston também sofre do mal da superficialidade, e inclusive suas falas parecem automáticas.

E no final, a história que parece realmente interessante - como sempre, a conspiração - é deixada de lado em troca de alguns tiros e perseguições, que nem são dos melhores. Em um período de lançamentos vistosos como o musical Nine, é um risco e tanto para a produtora. Uma curiosidade: Martin Campbell já foi escalado para dirigir o filme sobre o super-herói Lanterna Verde, a ser lançado ano que vem. Sabe-se que a pré-produção já está em andamento, e as filmagens começam em março. Talvez O Fim da Escuridão tenha sido apenas um passatempo.

22 janeiro, 2010

Amor Sem Escalas (Up In The Air)




Jason Reitman é um diretor novo, com apenas três longas metragens no currículo. Mas sua curta história é excelente. Seu primeiro filme, Obrigado por Fumar, agradou a crítica, apesar de ter sido esnobado pelas distribuidoras. Seu segundo, Juno, ganhou um Oscar e foi indicado a vários outros. Seu novo Amor Sem Escalas - péssima tradução que dá a falsa impressão de ser uma comédia romântica - é novamente uma bela peça cinematográfica, que já chama a atenção inclusive de grandes prêmios, sendo um dos nomes considerados certos para a nova lista de 10 concorrentes a Melhor Filme - que não vai ganhar já que, infelizmente, Avatar vai monopolizar o palco quase com certeza.

As curiosidades sobre Up In The Air dizem que Reitman começou a escreve-lo em 2002. Se realmente é verdade, a crise econômica casou perfeitamente com o seu mote principal, e deu um contorno novo ao roteiro. Como eu seus outros filmes, o cuidado com a história é impressionante. Um olhar um pouco mais cuidadoso consegue perceber as descrições seguidas à risca, ao mesmo tempo em que pequenas liberdades artísticas apimentam uma cena aparentemente banal. Os diálogos ótimos sucedem-se com tal facilidade que é difícil um cinéfilo não sair da sala com a sensação de ar totalmente novo nos pulmões.

Excelente com atores, aqui ele consegue uma performance excelente de George Clooney, perseguindo a distância segura de usar um galã da forma mais apropriada. Sua atuação não supera seu Michael Clayton, mas não faz feio. Especialmente nas ótimas cenas que compartilha com Vera Farmiga, especialmente charmosa. A novata Anna Kendrick é o único ponto destoante, perdendo às vezes um pouco o peso para um tipo de comédia que não é nada do que o diretor pretende. Aparições especiais muito bem vindas como Jason Bateman e J. K. Simmons - que participaram também de Juno - completam o elenco bem escolhido.

Não se engane pelo nome. Você vai rir, certamente, mas pelos diálogos primorosos e pela forma excelente como Reitman trabalha cada tomada e diálogo. Up In The Air é o típico filme do qual não esperamos muito, mas recebemos bem mais do que a expectativa. Vale ficar de olho em Jason Reitman. Até agora, ele vem acertando.

15 janeiro, 2010

Sherlock Holmes (Sherlock Holmes)




Quando ouvi falar de um novo filme do Guy Ritchie, fiquei empolgado. Depois, quando soube que o personagem seria Sherlock Holmes, passei à leve preocupação. Por fim, conforme as primeiras imagens e trailers apareciam, percebi que não poderia deixar-me levar por nenhuma das duas expectativas: a de um filme de Ritchie e de um filme de Sherlock Holmes. Seria, como tantas outras histórias de herói, uma forma de apresentar um nome conhecido a um público que, de fato, não o conhece. Filmar sherlock Holmes tal qual nos livros de Sir Arthur Conan Doyle não resultaria em peças agradáveis ao grande público.

Ritchie mostra um pouco do estilo que o tornou conhecido em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e no sensacional Snatch. A edição peculiar foi um pouco mais "controlada", mas o visual, por outro lado, foi aprimorado. A Londres apresentada no filme é soturna e suja, apesar de atraente, e a fotografia com uma leve pendência para o alto contraste ajudou o diretor a equilibrar o suspense necessário às histórias do detetive com a ação que é o talento narrativo do cineasta.

A escolha do elenco levou em consideração mais as necessidades do roteiro do que as semelhanças com as descrições do livro. Robert Downey Jr. é uma escolha excelente, atualmente, para praticamente qualquer coisa em que o coloquem para fazer. Jude Law é um ótimo ator, que mostrou saber também se mexer em cenas de luta aqui. Não combinam com o Holmes menos atlético e mais alto, e com o Watson mais cauteloso. Rachel McAdams como Irede Adler, no entanto, foi uma bela escolha, e Mark Strong e Eddie Marsan como os contrapontos de Holmes estão também muito bem.

A história é recheada tanto de referências aos livros - como a bebida "para os olhos" que Holmes toma, uma referência ao hábito, legal na época, de consumir cocaína - quanto de liberdades criativas. No final, temos um filme bastante divertido, que mistura bem um pouco da personalidade do detetive com o ritmo mais apropriado para atrair público. A capacidade dedutiva poderia ser melhor explorada, mesmo no meio da ação. Quem sabe no segundo filme, que o final, numa impressionante falta de habilidade de Ritchie, anuncia precocemente.