21 fevereiro, 2010

Quanto Dura o Amor




O cinema político brasileiro já está bastante abatido, e são hoje raros o que abordam o tema e realmente cumprem a tarefa de apresentar uma boa peça. Por isso é sempre bom quando se vence a barreira da tentativa de usar a sétima arte para apontar defeitos sociais no Brasil. Quanto Dura o Amor, nova investida de Roberto Moreira, que alguns anos atrás apresentou o interessante Contra Todos, é um filme simples mas bastante bem cuidado.

Sob o tema mais clichê de todos, o amor, Moreira usa o comum expediente de contar várias histórias levemente entrelaçadas. Ele consegue, entretanto, abordar temas bastante variados nesse pequeno universo, e não perde o ritmo ao pular de uma trama para outra. Usando muito bem São Paulo como cenário, ele aproveita as diversas facetas da cidade para cenas bem fotografadas.

O time principal de atores é desconhecido da maioria do público, exceto talvez por Sílvia Lourenço, que esteve também em Contra Todos. E há algumas atuações muito boas aqui. Já o time secundário, incrivelmente, apresenta Paulo Vilhena e Ailton Graça como bons suportes. Além de Sílvia Lourenço, merece atenção Maria Clara Spinelli, numa performance comedida que faz todo sentido para sua personagem.

Como sempre, é uma pena que filmes assim não cheguem a muitas salas, quase sempre atendo-se ao circuito alternativo e aos festivais - quando muito, aparições tímidas em microcircuitos cult de grandes redes. Para fugir de Hollywood, para prestigiar boas produções locais e para ver bom cinema, assista Quanto Dura o Amor.

20 fevereiro, 2010

Um Olhar Do Paraíso (The Lovely Bones)




Muito antes de ser conhecido pelos épicos Senhor dos Anéis e King King, Peter Jackson já era um bom diretor, com um olhar afiado para aspectos psicológicos dos personagens e da trama. Heavenly Creatures - que aqui ganhou o péssimo título de Almas Gêmeas - é um ótimo exemplo dessa fase, e também uma ótima referência para seu último trabalho, Um Olhar do Paraíso. O uso inteligente de efeitos visuais, claro que bem mais elaborados que os do seu filme de 1994, são um ponto importante em comum.

Mas, mas do que isso, é a forma como ele nos faz entrar na mente dos personagens. Avesso a suspenses em que o público descobre aos poucos o que de fato aconteceu, Jackson joga quase tudo logo nas primeiras cenas, e deixa o trabalho às pessoas em cena. E para isso ele escolheu um time de primeira. A jovem Saoirse Ronan, que já nos impressionou em Desejo e Reparação, volta a mostrar que é um talento a ser observado. Sua contraparte é um quase irreconhecível Stanley Tucci, como o nerd caricato assassino - calma, isso não é segredo em nenhum momento do filme. Completam o time principal a sempre ótima Rachel Weisz e Mark Whalberg, que tem a atuação mais fraca. Rose McIver, a irmã mais nova, também se sai muito bem.

Sem a parte do mistério na trama, Jackson pode se concentrar em algo mais interessante, e o filme fica assim também. É verdade que houve mudanças da história original do livro de Alice Sebold, mas o aspecto psicológico principal está lá - e é suficiente para fazer muita gente permanecer grudada de antecipação na tela. E, também marcando um diretor seguro do seu trabalho, o final não é nada do que se espera para uma trama assim - o que na prática quer dizer que ele não subestima a inteligência da plateia.

Um Olhar do Paraíso é, acima de tudo, muito bem filmado, com seus vários aspectos técnicos - inclusive efeitos visuais - bem encaixados e pertinentes. É um filme que se sustenta no roteiro e nas atuações, o que geralmente significa uma peça excelente. E se confirma aqui.