24 julho, 2010

O Bem Amado




O Bem Amado é uma das obras audiovisuais mais famosas do Brasil. Primeira novela em cores, exibida em um momendo político delicado mas fazendo suas críticas, e pouco depois transformada em série de TV - também uma das primeiras - é daquelas histórias que mesmo os que nunca assistiram conheçem um pouco. Há pouco tempo estreou nos palcos, e agora finalmente chega aos cinemas - com parte do elenco da peça.

O comando ficou com Guel Arraes, uma escolha praticamente perfeita. Depois de dirigir a adaptação para TV de O Auto da Compadecida, do filme original Lisbela e o Prisioneiro e o excelente Romance, sua forma de filmar casa muito bem com o ritmo esperado. E ritmo, aliás, é o que marca o filme. A agilidade cômica já conhecida de Arraes é aqui quase um personagem próprio.

O elenco desfila grandes nomes, começando por Marco Nanini no papel principal, repetindo o sucesso que deu ao personagem no teatro. Ele presta sua homenagem a Palo Gracindo - que interpretou Odorico na novela original e na série - fazendo bem diferente. O desfile de neologismos típico do personagem parece ter ficado ainda melhor nas mãos dele. Matheus Nachtergaele faz um Dirceu Borboleta um pouco mais contido que o da TV, assim como José Wilker faz um Zeca Diabo mais soturno. As Irmãs Cajazeras estão ótimas nas peles de Zezé Polessa, Drica Moraes e Andréa Beltrão. Melhor resumir dizendo que todos estão bem.

A crítica política é tão válida hoje quanto na década de 70, quando a novela estreou, e é incrível perceber no caricato Odorico os políticos que vemos todos os dias nos noticiários - e em breve bem mais no horário político. Mas, afastando-se do cinema de combate, O Bem Amado é acima de tudo um filme muito divertido, gostoso de ver, e que merece seu ingresso.

23 julho, 2010

Shrek Para Sempre (Shrek Forever After)




Quando o primeiro Shrek foi lançado, foi um golpe e tanto na batalha que acontecia então entre a Dreamworks Animation e a Pixar - e de lambuja criticava um pouco de tudo na Disney também. Tinha a graça e o sarcasmo, as referências, o ritmo. O segundo conseguiu manter um pouco disso, mas o terceiro foi uma queda abismal, e muitos acharam que o querido Ogro não mais seria visto. Mas a Dreamworks resolveu dar um final mais apropriado para sua cração mais famosa, e se esforçou na quarta e última parte da história.

Sensivelmente melhor que o terceiro - o que não é difícil - e também um pouco acima do segundo, esta parte consegue trazer de volta um pouco das qualidades que nos fizeram adorar o primeiro. Tem um roteiro bastante trabalhado, e uma modelagem sensacional. E é o segundo Shrek a ser feito em 3D, o primeiro nas telonas.

Mas tivemos recentemente outro capítulo final de uma famosa franquia de animação por computador. E, por mais que o pessoal da Dreamworks tenha se esforçado, não chegam a fazer cócegas na qualidade que Toy Story 3 apresentou. Exceto por um ponto: a Dreamworks soube usar o 3D melhor que a Pixar até agora. Ainda assim, para quem guarda boas lembranças do filme original, vale a pena desdedir-se do ogro verde em grande estilo.

17 julho, 2010

Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works)




Depois de quatro produções fora de Nova York - na verdade, fora dos Estados Unidos - Woody Allen volta à sua amada cidade em Tudo Pode Dar Certo. E é mais que uma volta à Grande Maçã, é também um retorno de Allen ao estilo de filme que o tornou conhecido, a comédia sarcástica. Para quem gosta e conhece a carreira do diretor, é como voltar ao passado na melhor forma.

A temporada fora deu a Allen uma visão levemente diferente do que fazer com uma câmera. Usando os mesmos ângulos básicos que sempre gostou, e evitando clichês paisagísticos como cenário, ele novamente mostra o retrato de um pedaço muito específico da cidade - aquele que reflete o personagem principal e as mudanças pelas quais ele passa durante a história. Que, aliás, é recheada dos diálogos excelentes que Allen sempre consegue encaixar.

Ele trocou também sua musa dos últimos filmes por Evan Rachel Wood. Perdeu um pouco em exuberância, mas não perdeu nada em beleza e, especialmente, ganhou um pouco em qualidade da atuação, que foi aqui essencial. A interiorana quase inocente é um papel falsamente fácil, especialmente quando confrontado o tempo todo com o gênio ranzinza interpretado por Larry David - um rosto pouco conhecido aqui, mas que cai como uma luva na história. O embate entre os atores é excelente, e melhorado e apimentado com os personagens que complementam a trama.

Ácido em cada crítica não velada, com longos diálogos complexos e a ironia bem aparada pelos anos de experiência, esta volta de Woody Allen às suas origens nos presenteia com um filme muito divertido - ao menos para aqueles com disposição a compartilhar de algumas das opiniões do diretor. Infelizmente, como nas suas origens, é um Allen bem mais restrito, e por isso mesmo com bem menos chances de chegar às salas comerciais. Se tiver a chance, não perca.

16 julho, 2010

Encontro Explosivo (Knight and Day)




Verão no hemisfério norte é significado de grandes estreias de cinema e blockbusters enlatados. Tom Cruise e Cameron Diaz em um filme de ação/romance é praticamente a descrição de um blockbuster enlatado. Feito para pescar espectadores ansiosos por mais do mesmo, Encontro Explosivo é o que podemos chamar de filme de passagem. Para os atores, é a passagem entre uma produção melhor e outra, uma forma de manterem-se no foco dos holofotes. Para o público, uma forma de passar duas horas numa poltrona sem nada na cabeça.

E, ao que parece, também é um filme passageiro para o diretor. James Mangold tem em seu currículo o denso Garota Interrompida, o intenso Identidade e a ótima cinebiografia Johnny & June. Aqui, ele pega os vários clichês e tempera só de leve com um pouco de humor.

Cruise e Diaz não se esforçam nos seus papéis. Ele chega a incomodar um pouco com o espião eternamente calmo e controlado, e ela usa e abuza da beleza e dos olhos azuis. Há um ou outro bom momento na fita, mas é só. Mas, claro, a história é feita sob medida para pendurar-se na fama do casal principal.

Encontro Explosivo não tem a pretensão de ser um novo Missão Impossível ou um James Bond - fontes nas quais bebe indiscriminadamente - ou qualquer outra pretensão, na verdade. Bem feito apenas o suficiente para não ser ruim, é daqueles filmes que não se perde nada se for trocado por outro um pouco mais promissor.

01 julho, 2010

Toy Story 3 (Toy Story 3)




Que a Pixar está anos à frente dos demais estúdios de animação por computador é um fato sabido há tempos. Mas mesmo assim, ao ouvir que estavam planejando um terceiro Toy Story, muitos lembraram do fraco terceiro Shrek, pensando se não seria um movimento errado da Pixar. Os primeiros detalhes da história apareceram, mas não convenceram. E, ainda assim, eles conseguiram novamente. Arrisco-me a dizer que o terceiro é o melhor dos 3 Toy Story.

Claramente focado no público um pouco mais velho, mas sempre sem deixar de lado os pequenos, a história é forte no ponto certo, divertida e com a aventura de sempre. Tem uma ou outra cena de mais tensão, mas é um roteiro extremamente bem resolvido, que faz jus aos filmes anteriores e não deixa a dever para as últimas excelentes produções da Pixar. Apenas o uso do 3D que, como em Up, não encanta tanto quanto poderia.

O festival de referências está mais presente do que nunca, e o trabalho na personificação dos brinquedos é especialmente bom. Com o que já conhecíamos de Woody, Buzz e sua turma, eles conseguem aprofundar a forma como o relacionamento entre eles acontece, mesmo com a introdução de vários personagens novos. Lee Unkrich assumiu a direção de John Lasseter sem deixar a bola cair.

Numa avaliação puramente técnica, a alternância entre a aventura e o humor fazem com que o filme seja atraente o tempo todo, quase sem pontos baixos. O que marca mais uma vez aquela que é a principal característica da Pixar, o trabalho intenso de roteiro. Se você por acaso não assistiu aos outros, corra para a locadora mais próxima e corrija logo isso. E então não perca o terceiro.