22 dezembro, 2010

Tron: O Legado (Tron Legacy)




Para muitos adultos hoje na faixa dos 30, Tron, o original de 1982, é uma agradável lembrança da primeira experiência com efeitos digitais no cinema. O que hoje parece arcaico era na época extremamente inovador - não apenas o visual do filme, mas o próprio conceito de se usar computadores para criá-lo. Por isso, virou cult para muitos, um marco indissolúvel que já teve diversas histórias de continuações. Quando Tron Legacy foi finalmente confirmado e teve sua data de lançamento anunciada, muitos correram às locadoras para assistir o original novamente antes de ir ao cinema. Infelizmente, revelou-se que não é tão simples assim encontrar o Tron original - e nem a TV aberta o transmite com a frequência com que fazia nos anos 80. Felizmente, para a história do novo Tron em si, não há grandes perdas. Cita-se nomes do filme original - ou sobrenomes que revelam ligações familiares - mas o resto é uma história completamente nova.

O filme original tinha uma ligação com o medo ainda grande da humanidade na época de que a inteligência artificial dominaria o mundo. A IA ainda hoje não foi bem resolvida e a raça humana está em paz com seus eletrônicos, então o roteiro usou só um pouco daquele medo, e focou mais na busca de um filho por seu pai. Infelizmente, não resistiram à tentação de apelar para a temática religiosa, e muitas vezes ouvimos palavras como “criador” e “enviado” usadas para tornar Kevin Flynn e seu filho figuras endeusadas na história. Junte isso aos poderes especiais que o pai já tinha no filme original - por ser um usuário e não um programa - e temos a perfeita transcrição de um deus virtual.

O filme é a estreia na direção de Joseph Kosinski. Ele sai-se bem dando à trama coerência e ritmo, e comandando os jovens Garrett Hedlund - que foi o primo mais novo de Aquiles em Tróia - e Olivia Wilde - a Thirteen da série House. Ela está um pouco melhor que ele, mas nenhum dos dois chega perto do veterano Jeff Bridges, bastante confortável no papel que mistura um pouco do Flynn original com famoso Dude Lebowski. Sua versão mais jovem, apesar de impressionante, não conseguiu alcançar a qualidade de Benjamin Button, que usou a mesma tecnologia. Vale um destaque para a participação especial de Michael Sheen.

Os produtores foram espertos em não fazer uma continuação propriamente dita, mas os que conheçem e se lembram do Tron original podem ficar um pouco desapontados com a falta de novos paradigmas deste. Resistindo à tentação de fazer essa comparação, é um filme de ação muito bom com um roteiro interessante, e um visual fantástico.

12 dezembro, 2010

A Rede Social (The Social Network)




Na era das grandes fortunas criadas rapidamente por ideias geniais, não é de espantar que algumas histórias bastante interessante estejam acontecendo nos bastidores. Quando soube que iriam adaptar a história da criação do Facebook para o cinema, confesso que não tive uma boa reação. Pareceu-me algo a ser criado apenas para “pegar a onda” e, especialmente, ganhar dinheiro. Sim, as duas coisas estão corretas, mas há outras, que começaram a ficar claras com os nomes envolvidos no projeto, e que me ganharam de vez nos primeiros trailers.

David Fincher está nas prateleiras de qualquer cinéfilo colecionador que se preze. Depois de Seven, sua fama só cresceu, especialmente pela qualidade das suas produções. Com Benjamin Button, anterior a este, ele sedimentou de vez sua posição. E aqui faz por merecer com uma transcrição ótima do roteiro de Aaron Sorkin, cheia de movimento e tensão em uma história que poderia facilmente cair na chatice.

O elenco foi muito bem escolhido, com o cool & cult Jesse Eisenberg no papel principal, atuando muito bem como sempre, e vários rostos não tão conhecidos nos papéis secundários. Andrew Garfield saiu-se muito bem no não muito visto Leões e Cordeiros, e está preste a chegar ao estrelato como o próximo SpiderMan, para ficar em apenas um exemplo. Mesmo a atuação de Justin Timberlake, quem diria, é bastante boa.

É preciso dizer que, como qualquer história, há mais de um lado, e o filme, como o livro em que se baseou, apresenta apenas um deles. É bastante provável que o Mark Zuckerberg real não seja tão antisocial, e sabemos que o programador Dustin Moskovitz teve um papel bem maior na criação do Facebook do que o filme leva a crer. E, claro, no cinema temos que fazer alguns exageros para aumentar o efeito dramático. Ainda assim, feitas todas as concessões, é um grande filme, que merece ser visto mesmo por quem nem sabe o que é o Facebook.