31 março, 2012

A Dançarina e o Ladrão (El Baile de la Victoria)


Algumas vezes a reunião de características de um filme não é suficiente para enxergarmos sua qualidade. Em A Dançarina e o Ladrão, produção de 2010 do diretor espanhol Fernando Trueba que só agora chegou aos cinemas brasileiros, parece à primeira vista uma anti-aula de cinema. É basicamente como se alguém tivesse dado muito dinheiro para que um roteiro de filme B fosse rodado com produção de qualidade. A trama é recheada de clichês - o ladrão arrependido, o talento oculto pelo trauma, o personagem simpaticamente inocente - e também de aspectos técnicos repreensíveis como sentimentos e pensamentos verbalizados apenas para ocupar a cena com diálogo. Como nos filmes B, é uma história que intenciona ser um drama, mas causa risadas na platéia.

E talvez seja isso mesmo que faça, no final das contas, o filme agradar. A inocência aparente de um filme com aspecto amador - que é mentira, além da produção e qualidade, Trueba é um diretor experiente, e Ricardo Darín é um dos mais famosos atores argentinos hoje. Não há muito em que pensar. Como numa novela mexicana, tudo é entregue mastigado. Mas há lugar para algumas surpresas.

Miranda Bodenhofer é uma delas. Interpretando uma órfã muda pelo trauma de ter os pais assassinados pela ditadura chilena, ela consegue impressionar e criar um abismo artístico com seu par, o fraquíssimo Abel Ayala, que não mede bem os extremos entre o alegre e sonhador namorado e a machucada e amarga vítima de abuso sexual. Ela é a dançarina do título em português, e a Vitória do original. Darín, como sempre, está muito bem, também impondo um ritmo que o resto do filme não consegue acompanhar.

O que era para ser um drama, talvez pesado, diverte. E é aí que o filme conquista, quando consegue o que não se esperava dele. Mais ou menos como aquela obra infantil e amadora que não damos muita atenção quando vemos a primeira vez, mas que perdoamos por ser tão inocentemente despretensiosa.

24 março, 2012

Raul Seixas: O início, o fim e o meio

Se você frequentou algum local com música ao vivo nos últimos 20 anos, é bastante provável que tenha presenciado a cena. Em algum momento da apresentação, invariavelmente, alguém vai gritar “toca Raul!”, e provavelmente será seguido por alguns aplausos. E se você é brasileiro e tem um mínimo de conhecimento sobre seu próprio país, você sabe de quem estão falando. Pode ser que só conheça uma música, mas sabe. O soteropolitano que, quando criança, queria ser Elvis Presley, não é uma unanimidade em termos de gosto musical, mas é também impossível de ignorar. O documentário de Walter Carvalho destrincha o mito Raul Seixas com cuidado. Passaram-se 20 anos da sua morte, então por que só agora um filme sobre ele?

A resposta está no próprio filme. Um personagem complexo, recheado de ligações com pessoas em diversos lugares do Brasil e do mundo - só entre esposas e companheiras são cinco, três delas nos Estados Unidos. Polêmicas também não faltaram ao artista. Da contracultura esfregada na cara da ditadura brasileira às ligações com seitas estranhas, do sucesso ao ostracismo, do álcool e cigarros às drogas, Carvalho não poupa os detalhes, todos eles importantíssimos para entender ao menos a ponta do iceberg.

A admiração por Raul é tanta que, face ao que conhecemos através da sua música, todas as atribuladas partes da sua vida parecem justificáveis dentro da sua personalidade. Como uma de suas músicas mais provocativas diz, “faze o que tu queres pois é tudo da lei”. Ele viveu essa realidade intensamente, experimentando e sendo experimentado.

O formato do documentário mistura uma pequena narrativa cronológica com opiniões e depoimentos dos famosos e não famosos que cruzaram com ele. Interessante para todos, desde aqueles que não conhecem nada, até aqueles que sabem muito da sua história. Na minha modesta opinião, ele não apenas alcançou, como superou, seu sonho de criança. Elvis Presley, com todos os méritos que possui, é um sucesso fabricado, comandado pelas gravadoras. Raul Seixas, que hoje coleciona covers e “sósias” pelo Brasil como seu ídolo de infância, foi um sucesso autêntico, fazendo tudo que todos diziam ser errado, ao ponto de criar inimizades no meio artístico. É um marco inexorável da música brasileira, e o documentário é obrigatório para entendê-lo.

13 março, 2012

Poder Sem Limites (Chronicle)

O estilo é conhecido: o filme todo acontece como se tivesse sido montado a partir de gravações autênticas, seja de um dos personagens seja de câmeras de segurança ou programas jornalísticos de TV. A Bruxa de Blair fez isso com maestria, e diversos outros usaram o mesmo truque. Mas o que faz de Chronicle - na tradução estraga-prazeres Poder Sem Limites - um filme excelente não é isso. O mais importante aqui é o mergulho profundo na mente de um adolescente socialmente rejeitado.

Josh Trank, o diretor, e Max Landis, o roteirista, ambos estreando em longas, foram habilidosos em tratar a história fantástica de três garotos que ganham poderes da forma mais difícil possível: como se fosse realmente verdade. Eles não se preocupam em explicar como eles adquirem a telecinésia - nada além deles terem encontrado um buraco no chão com um estranho cristal brilhante - nem mesmo mostram os personagens descobrindo os próprios poderes.

Boa parte da história é contada do ponto de vista da câmera de Andrew, adolescente tímido de uma familia problemática - a mãe doente terminal e o pai um ex-bombeiro alcóolatra. Por isso podemos ver porque é nele que os poderes adquirem todo o seu potencial. Andrew está acostumado a passar muito tempo sozinho, à se concentrar em si mesmo. Mas também está cansado de ser o saco de pancadas do mundo. Seu primo, Matt, e o novo amigo Steve estão na ponta da pirâmide social da High School norte-americana: inteligentes, populares e equilibrados, são o extremo oposto de Andrew. Escolher atores desconhecidos para os papéis ajuda na ilusão de um evento real, apesar de inacreditável. E os jovens Dane DeHaan, Alex Russel e Michael B. Jordan conseguem mostrar atuações convincentes.

Há várias cenas marcantes, em que a construção dos personagens é mostrada com eficiência. O crescimento do aspecto sinistro de Andrew é bem marcado, e cenas aparentemente banais como ele “desmontando” uma aranha são muito fortes. Mas há também momentos em que, para manter-se fiel à opção de usar apenas “imagens reais” houve um certo apelo a soluções pouco críveis. Na balança, ganham as vantagens, incluindo o bom uso de referências, entre as mais claras a animação japonesa Akira. Apesar das críticas não terem sido muito favoráveis, e apesar da mistura de poderes e adolescentes em crise afastar parte do público, este filme de heróis consegue entrar na alma humana bem mais que a maioria dos seus pares. Sem usar grandes reviravoltas, sem conspirações, apenas um rapaz problemático aproveitando uma chance bastante atípica de arrumar seu lugar no mundo.

07 março, 2012

Drive (Drive)

 Filmes baseados fortemente em um único personagem são difíceis de fazer. O roteiro tem que estar muito redondo e, especialmente, o ator principal tem que ser dos bons, para segurar a barra. A oportunidade certa para o diretor Nicolas Winding Refn e o ator Ryan Gosling. Usando o ótimo roteiro de Hossein Amini, os dois conseguiram um filme que, se não agrada a todos, tem a excelência estampada.

Tudo gira em torno do Motorista - cujo nome nunca é revelado - e das múltiplas facetas da sua vida espalhadas por uma personalidade simples. Gosling, incrivelmente, tem pouquíssimas falas, considerando-se que faz o personagem principal. O que é mais um exemplo do grande ator que é, apesar de ainda ser um tanto esnobado por Hollywood. A fotografia mostra uma Los Angeles longe das praias, do sol e do glamour - mesmo nos trechos em que mostra um ambiente de produção cinematográfica. Um pouco mais de cenas noturnas e poderíamos considerar este um filme noir. O resto dos ingredientes está todo lá: o clima meio sinistro sempre presente, gângsteres e tramas que se entrelaçam, apimentados por violência gráfica bem colocada. O diretor Refn, no seu primeiro longa em que não é também o roteirista, coloca sua marca na telona.

Gosling contracena com nomes importantes como Carey Mulligan e a queridinha dos seriados Christina Hendricks - que na verdade, apesar de aparecer com destaque nos cartazes, faz apenas uma ponta. Junto a eles estão nomes quase esquecidos ou pouco usados como Ron Perlman, Albert Brooks e Bryan Cranston. Tudo na produção é espartano: elenco enxuto, poucos diálogos, uma trama relativamente simples. Mas não se enganem, estamos na presença da falsa simplicidade, aquela que só é conseguida com muito trabalho.

O estilo do filme, como disse, não vai agradar a todos. Não há grandes cenas de ação, também não há uma história incrivelmente complexa e cerebral. Não há cenas belíssimas, nem diálogos incrivelmente afiados. As qualidades estão todas na forma de tratar os poucos elementos à disposição, em tudo que não é dito nem mostrado, e na força da atuação de Gosling. Aqui, é mais do que suficiente.

06 março, 2012

Era para ser sobre A Dama de Ferro, mas é sobre o Homem de Aço (na verdade é sobre atuação)

Falar sobre A Dama de Ferro é falar sobre Meryl Streep. O filme basea-se profundamente na personalidade marcante da primeira - e até hoje única - mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Reino Unido. E a atuação marcante de Streep é o pilar que sustenta toda a produção. Então, ao invés de falar sobre A Dama de Ferro apenas, resolvi fazer um artigo sobre atuação. O filme ganharia 4,5 estrelas no Parada Crítica, caso estejam curiosos.


Uma produção cinematográfica é um imenso composto, com centenas de partes, e quanto melhor é a mistura de tudo, melhor é o filme. Mas, claro, o aspecto mais marcante do produto final costuma ser a performance dos atores. Dentre os vários ingredientes que compõem um filme, poucos são capazes de sustentar quase sozinhos a história, e a atuação pode ser um deles. É relativamente fácil perceber uma atuação grandiosa como a de Streep no papel de Margaret Tatcher. Meryl Streep é uma grande atriz - 17 nomeações ao Oscar, e 3 estatuetas, não são para qualquer um. A marca de uma boa atuação é a distância que o personagem na tela tem da pessoa real do ator, e de outros papéis que ele já interpretou. A Dama de Ferro de Streep é uma pessoa completamente diferente da Julia Child em Julie&Julia, e diametralmente oposta a Miranda Priestly em O Diabo Veste Prada, que por sua vez não tem nada a ver com a Donna de Mamma Mia - que, aliás, foi dirigido pela mesma Phyllida Lloyd de A Dama de Ferro. A atriz realmente incorporou as personagens, tornou-os realistas. Não é uma tarefa fácil. O mundo da produção audiovisual está cheio de atores que só sabem fazer um único papel - o Brasil, infelizmente, é marcante nesse sentido nas novelas. Claro que aqui também temos grandes exemplos, muitos inclusive. Wagner Moura talvez seja hoje o mais em voga. Conseguiu com seu Capitão Nascimento uma marca exemplar - e, novamente, é uma pessoa diferente do malandro Boca de Ó, Paí, Ó, do Pedro de Romance e do Zero de O Homem do Futuro. Seu conterrâneo Lázaro Ramos é outro bom exemplo, e podemos citar também Selton Melo, Matheus Natchergaele, Fernanda Montenegro, e muitos outros.


Sem tirar o mérito, grandioso, desses artistas, arrisco dizer que a marca de uma grande interpretação está em fazer dois papéis diferentes na mesma obra. O primeiro grande papel de Edward Norton foi em As Duas Faces de um Crime, fazendo um papel duplo de um jovem atordoado com dupla personalidade. Ele conseguiu retratar duas pessoas, muito diferentes, ao mesmo tempo, uma dentro da outra, em um efeito que fica ainda mais forte com a surpreendente revelação final. É isso que faz um filme basicamente de ação como A Outra Face ser muito interessante. Nicolas Cage e John Travolta fazem cada um o personagem do outro em boa parte do filme. O tempo é curto para que cada personalidade seja marcada antes que sejam trocados os rostos. Como também foi curtíssimo o tempo que Paul Dano teve para criar os irmãos Sunday em Sangue Negro - o primeiro irmão aparece rapidamente no começo do filme apenas.


Agora, numa opinião ainda mais arriscada, ouso dizer que talvez o melhor exemplo de uma dupla atuação seja Christopher Reeve na série Superman. Explicando: ele deu à dualidade Clark Kent/Superman uma sutileza de nuances muito difícil de ser atingida - e o que explica porque, depois dele, nenhum outro Homem de Aço foi tão marcante. Nós sabemos que Kent é o Superman, desde o começo, e ainda assim eles são pessoas diferentes na tela. Não é apenas o óculos - é aqui que os outros atores erram. Reeve mudava tudo ao passar de um para o outro. Dos trejeitos mais identificáveis como o falar com o canto da boca como Kent, à linguagem corporal única de cada personagem. Superman é confiante, consciente de que deve transmitir essa confiança, sabedor do poder e das responsabilidades que possui. Ele adota sempre uma posição ereta, com o peito estufado, anda como alguém com total controle do seu corpo, tem os olhos que emanam bondade e justiça. Clark Kent, ao contrário, é desengonçado, mal acostumado ao seu tamanho, tem os ombros levemente pra frente e as costas levemente curvadas, os olhos tímidos e muitos cacoetes. Por isso, em uma cena marcante no primeiro filme, quando Kent está prestes a se revelar como Superman para Lois Lane, Não há mudança de roupa, nem mesmo o óculos é tirado. De um segundo para outro, Kent torna-se Superman, mas ainda vestido de Kent. Fazer essa marca aparecer dessa forma exige um ator com muita preparação, e muito ensaio. E é apenas isso que torna praticamente crível que o disfarce de um herói possa resumir-se a um par de óculos. Na verdade, o disfarce é transformar-se totalmente em outra pessoa, com linguagem corporal. Isso acontece várias vezes - sempre que Kent deve transformar-se em Superman - mas normalmente a roupa faz essa sutileza se perder. É aí que uma grande atuação fica marcada, quando não são apenas expressões faciais e voz, quando o corpo todo atua, quando a pessoa muda por completo. É nisso que falhou Brandon Routh no último filme, e esse será o grande desafio de Henry Cavill no novo. Se você ainda não viu a quadrilogia original do Superman - ou se viu mas não reparou nessas nuances, recomendo que assista ou reveja, com olhos críticos na atuação de Christopher Reeve. Da próxima vez que você estiver diante de uma atuação grandiosa, certamente vai poder medir melhor a força que o artista colocou no papel.


26 fevereiro, 2012

Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close)


Ninguém que não seja um estadunidense pode sentir de fato o abalo que foi os ataques de 11 de setembro de 2001. E, dentre eles, ninguém que não fosse um habitante de Nova York na época pode descrever o terror de ver um de seus marcos ser reduzido a escombros. O autor Jonatham Safran Foer resolveu ir ainda mais longe, passando a visão disso tudo a partir dos olhos de um menino com problemas de relacionamento interpessoal - não fica claro, como o próprio personagem fala, se ele possui de fato a Síndrome de Asperger. O menino, cujo único contato com o mundo vinha das aventuras que o pai criava especialmente para que ele vencesse todos os diversos medos que possui - medos ainda mais marcantes tratando-se de uma metrópole - perdeu seu principal pilar de sustentação quando o pai morre em uma das torres. Mas, felizmente, o filme é sobre o menino, não sobre a tragédia.

Foer, que escreveu o autobiográfico e excelente Uma Vida Iluminada - que também virou um ótimo filme - consegue entrar com muita habilidade na cabeça de Oskar, e nos faz viajar com ela. Ao tentar encontrar sentido num mundo desprovido dele, o garoto percorre uma travessia inimaginável mesmo para muitos adultos. Stephen Daldry deu um tratamento excelente ao roteiro de Eric Roth. O primeiro tem no currículo filmes profundos como As Horas, Billy Elliot e O Leitor, e o segundo escreveu obras rimas como Forrest Gump, Munique, O Bom Pastor e O Curioso Caso de Benjamin Button. O tratamento técnico é também bastante cuidadoso, ao explorar, nos sentidos que o cinema permite transmitir ao público, tudo que causa medo ao pequeno Oskar, e nos levar um pouco do seu desconforto com o mundo.

De novo, temos um exemplo de um provável garoto prodígio da sétima arte. Thomas Horn, em seu primeiro papel, já encara não apenas um personagem difícil como Oskar, como contracena em pé e igualdade com estrelas como Tom Hanks, Viola Davis e Max Von Sydow - numa interpretação exemplar. Tão Forte e Tão Perto tem todos os riscos de cair em um filme piegas e sentimentalóide, mas escapa deles com habilidade. O final, surpreendente, mostra também a habilidade do escritor Foer em conseguir sair de tudo que poderíamos pensar. A própria motivação do filme muda quando conhecemos seu desfecho. Isso, por si só, já vale o seu ingresso.

25 fevereiro, 2012

O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball)

Antes deste, o diretor Bennett Miller só tinha dirigido mais um longa. Este fato poderia não dizer qrande coisa, não fosse esse outro longa ser o excelente Capote, que finalmente fez juz ao grande talento do ator Philip Seymour Hoffman. E a primeira opção para a direção de O Homem Que Mudou o Jogo - uma tradução esquisita, mas necessária, o original Moneyball - foi um certo Steven Soderbergh, que inclusive já tinha iniciado o trabalho filmando algumas entrevistas com atletas de verdade, e escalado Brad Pitt e Demetri Martin - que fez o papel principal no também excelente Aconteceu em Woodstock. De qualquer forma, o filme teve um bom começo.

É verdade que, por se tratar de um esporte praticamente desconhecido aqui, não há o mesmo apelo de história real que os estadunidenses provavelmente sentiram. O baseball é praticamente uma instituição lá, e apesar de ser basicamente uma versão mais organizada do bats - ou bets, ou ainda, em algumas regiões, taco - que muitos de nós jogou quando criança, entender um pouco mais das regras e detalhes do jogo ajudaria a aproveitar melhor a trama. Mas nada que impeça a apreciação - eu mesmo só sei do baseball que ele se parece com o bats.

Um dos feitos do filme pode ser ter dado a chance a Jonah Hill, ator gordinho frequente em comédias tolas, de interpretar um papel mais profundo. É verdade, ao saber que Demetri Martin poderia ter feito o mesmo papel, fiquei pensando se não seria uma escolha mais acertada. Hill sai-se muito bem. E está ancorado de perto por nomes como o próprio Hoffman, e Brad Pitt em uma atuação centrada e eficiente - muito parecido, em estilo e fisicamente, com Robert Redford nos anos 80.

A grande sacada do filme é contar a história de como uma ideia, à época, totalmente estranha mudou a história de um dos esportes preferidos dos EUA. Seria como passar a selecionar os jogadores de futebol da Seleção Brasileira usando apenas dados estatísticos como porcentagem de passes certeiros, finalizações, preparo físico e afins - dados que, segundo me contaram, ratificam sem espaço para dúvidas Pelé como o melhor jogador de todos os tempos até hoje, mas esta não é uma discussão para um blog de cinema. Faz sentido, mas soa ridículo aos amantes do esporte - que lá são muitos e, antes disso, eram os mesmos que mandavam nos times, baseados apenas em observações subjetivas e paixão. Achei um exagero a indicação ao Oscar de Melhor Filme - contando que J. Edgar, por exemplo, ficou de fora - mas é sem dúvida uma boa obra.

23 fevereiro, 2012

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)

Sabe aquela história de “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”? Pois é, ela é válida também para o conhecimento em torno de um determinado assunto. Quando se passa a saber muito, passa a ser necessário o cuidado com que se usa esse conhecimento. Martin Scorsese entende de cinema. Pegue qualquer lista de melhores filmes de todos os tempos, e sempre há pelo menos um do cineasta lá. Normalmente mais. E este parece já ter entrado em algumas listas por aí. Scorsese, desta vez, usou seu conhecimento para o “mal”. Ele apelou, por assim dizer, à paixão dos cinéfilos pelo próprio cinema. Ele enganou crianças para que assistam um filme de adulto. Ele disfarçou um drama num filme de aventura. E deixou tudo irresistível.

Olhe para o poster, veja o trailer, e tudo parece uma produção feita para alegrar as tardes da criançada: tons de dourado, uma criança como protagonista, muita ação, alguns personagens engraçados, e 3D. Um elenco primoroso chama a atenção dos mais velhos. Ben Kinglsey, Christopher Lee, Jude Law e Sacha Baron Cohen - que quando não está tentando empurrar um de seus filmes bobagem com ridículas aparições personificadas e pegadinhas à la Pânico, pode ser bem utilizado. Alguns, como eu, podem achar que mesmo Chloë Moretz entra nessa lista. O protagonista Asa Butterfield é conhecido dos adultos pelo excelente O Menino do Pijama Listrado, e das crianças pelo divertido Nanny McPhee - mais uma prova do conhecimento de Scorsese usado para, no bom sentido, enganar a todos.

Por dentro da aventura, uma trama complexa, com vários aspectos baseados em fatos reais, e intimamente ligada à história do cinema. Uma fotografia exemplar, e um ótimo uso do 3D, um filme tecnicamente excelente como os prêmios do Oscar que levou denotam. E um roteiro bem trabalhado e realmente divertido. Um filme inspirado, profundo, e gostoso de assistir. Não é sempre que se consegue algo assim.

22 fevereiro, 2012

A Árvore do Amor (Shan zha shu zhi lian)

Lembro-me de ter assistido, ainda criança, a um filme excelente chamado Lanternas Vermelhas. Nem sei como esse filme foi parar nos cinemas em Cuiabá, que à época contava menos salas de cinema que dedos em uma mão. Pensando bem, acho que assisti no Rio de Janeiro, em uma das férias que costumava passar lá. Faz mais sentido. Já amava o cinema no longínquo 1992, mas ainda não tinha conhecimento e experiência suficientes para saber o que me fascinava em algumas obras. Nesse caso, além da língua nada familiar, acredito que o ritmo diferente e os detalhes de fotografia tenham chamado a minha atenção. Só bem mais tarde, mais de 10 anos mais tarde, fui assistiu outro filme do diretor Yimou Zhang. Dois, na verdade. Sabe-se lá por que, mas Herói, de 2002, e O Clã das Adagas Voadoras, de 2004, chegaram juntos aos cinemas brasileiros em 2005. E aí eu já entendia um pouco mais. É o tal do detalhe que Zhang trabalha como poucos. Herói é um espetáculo visual, com cenas deslumbrantes que incluíram façanhas como coletar, catalogar e separar por tom mais de um milhão de folhas amarelas. O Clã é um espetáculo auditivo, imagino que os chineses cegos deleitem-se com um filme que não podem ver. Não tive ainda a oportunidade de assistir A Maldição da Flor Dourada, que dizem ser também muito bom. Mas pude riscar da minha lista uma das suas últimas produções, A Árvore da Vida.

Mais que um belo filme, Zhang faz aqui um retrato bastante competente da revolução cultural chinesa, entremeando-a com uma comovente história de amor. E, como sempre, manteve sua marca pessoal de uma estética impecável. A fotografia, belíssima, dessaturada um ou dois tons, e as interrupções com as “fichas narrativas” fazem do filme uma espécie e livro de histórias ilustrado, um conto de fadas. E, ao contrário de Herói e O Clã, aqui tudo se apoia no roteiro. E o roteiro se apoia na inocência de um amor proibido, mas irresistível.

O casal principal, formado por Dongyu Zhou e Shawn Dou, está excelente. A interpretação de Zhou como a jovem Jing é fantástica, com trejeitos e detalhes típicos de uma adolescente temerosa de quase tudo, mas que ainda assim é incapaz de não se entregar ao seu sentimento. As muitas cenas sem diálogo são uma demonstração não apenas da força do roteiro, mas da escolha acertada do elenco.

O ritmo diferente, e a edição não linear sem conexões óbvias tornam o filme ainda mais atraente - é sempre bom experimentar estilos diferentes do que estamos acostumados. Depois de estrear no Brasil nos festivais de cinema, infelizmente nunca fez a transição para as salas comerciais, mas deve chegar às locadoras em breve. Coloque na sua lista.

17 fevereiro, 2012

O Artista (The Artist)

Estamos tão acostumados com algumas tecnologias que muitas vezes elas se tornam transparentes para nós. É por isso que casos como o de O Artista, que nos lembra que a arte não precisa depender de tecnologia, são tão marcantes. O cinema já tem mais de 100 anos e, assim como a música, bons filmes de então tendem a continuar bons filmes hoje, tal como as ótimas comédias de Charles Chaplin. Pois Michael Hazanavicius resolver abandonar, em grande parte, duas das maiores revoluções tecnológicas do cinema desde sempre: o som, que começou a ser usado em 1927, e a cor, de 1935. Abandonou também a hoje quase universal proporção widescreen, filmando no clássico 1,33:1 - a proporção das hoje antigas TVs de tubo. Lendo uma descrição assim, muita gente já deve pensar que é um filme chato, pseudo-artístico e pedante. Enganam-se. O Artista é uma peça muito cuidadosa, feita para mostrar justamente o que disse no começo do parágrafo: arte não precisa depender de tecnologia.

O diretor francês talvez seja conhecido por seus dois filmes satirizando a série James Bond, com o agente OSS 117 - que, aliás, usou a mesma dupla de protagonistas, Jean Dujardin e Bérénice Bejo. Hazanavicius preocupou-se em, além de não usar o som, a cor, e a proporção, de também evitar outras técnicas atuais, e abusar da estética dos filmes antigos. Não há uso de zoom, há pouco movimento de câmera, muitos cortes com íris, e a fotografia quase sempre em foco infinito.

E há a atuação, talvez o ponto mais trabalhado para não apenas mimetizar a estética antiga, mas também para mostrar a transição dos personagens. o francês Jean Dujardin começa a fita fazendo jus ao seu papel de galã dos filmes mudos. Suas expressões são exgeradas, feitas para marcar bem o sentimento do personagem quando a fala não poderia fazer isso. Sobrancelhas sempre arqueando-se, lábios em grandes sorrisos ou comprimidos de preocupação, corpo sempre em movimento, quase sempre com a frente voltada para os espectadores. A argentina Bérénice Bejo também começa assim, mas como depois assume o posto de estrela dos novos filmes falados, torna-se mais sutil. Até um ponto em que ambos já não precisam mais do exagero para transmitir ao público suas emoções. É um trabalho difícil, de sutilezas não percebidas, que merece a indicação recebida para a dupla principal. Some-se a esse excelente trabalho um elenco de apoio exemplar, que inclui John Goodman, James Cromwell e Penelope Ann Miller, e temos um belo conjunto.

É impressionante como em poucos minutos o filme vence em nós o estranhamento de um filme mudo e preto e branco, e nos envolve completamente. Falantes de inglês aproveitarão um pouco mais a fita, lendo os lábios nos diálogos que não são transcritos em cartela, e também lendo-as no inglês original - as cartelas são rápidas e a legenda em português nem sempre está bem visível. O que o diretor conseguiu aqui não é um trabalho simples. A preocupação com os detalhes de edição, montagem e enquadramentos é primorosa. Hazanavicius fez uma bela homenagem ao cinema clássico, que merece ser vista.

12 fevereiro, 2012

Românticos Anônimos (Les Emotifs Anonymes)

É uma pena que o cinema europeu não tenha tanta visibilidade aqui quanto o estadunidense. Filmes excelentes, e agradáveis para todos, como este Românticos Anônimos, ficam restritos à lançamentos tardios em salas alternativas. Esqueça o estigma de filmes-cabeça, de produções com roteiros profundos e muitas vezes melancólicos. O cinema europeu, como todos, também tem as suas produções só por diversão, inclusive comédias românticas como esta.

Lançado originalmente em 2010, só foi chegar aqui no finalzinho do ano passado, nem sei como ainda está em cartaz. Mas felizmente está. A fita de Jean-Pierre Améris é completamente deliciosa, daqueles filmes em que quando você não está gargalhando, está sorrindo. Usando uma combinação levemente diferente das comédias românticas tradicionais de Hollywood, ele consegue um resultado excelente.

Tudo é centrado na emotiva anônima - um grupo de ajuda para tímidos crônicos inspirado no AA - Angélique, uma chocolatiére tão talentosa quanto socialmente medrosa. Ela consegue um emprego na chocolateria de Jean-René, mas por conta da timidez de ambos, ela acaba como vendedora. A interpretação de Isabelle Carré é bastante eficiente, fazendo com que o público rapidamente se apaixone por ela. Mas Benoît Poelvoorde como Jean-René está estupendo. Não é fácil manter o nervosismo constante do personagem, com trejeitos como a leve e rápida tremida de bochechas, o tempo todo. O encontro amoroso dos dois, como se pode esperar, é mote para diversas cenas cômicas.

Como sempre digo, se tiver a sorte de ter este filme em cartaz por perto, assista. Se não tiver, é bastante possível que ele já esteja nas locadoras mais completas. Vença sua resistência ao cinema não-estadunidense, se tiver. É diversão garantida.

08 fevereiro, 2012

Histórias Cruzadas (The Help)

O Brasil tem um certo orgulho de ser um país mixigenado, e ter feito uma abolição da escravatura cheia de confetes, igualando de uma hora para outra brancos e negros. Claro, não houve qualquer tipo de suporte aos negros então libertos, e na vida real a escravidão durou bem mais do que com a Lei Áurea. O preconceito existe até hoje. Nos Estados Unidos, a escravidão já tinha sido abolida, mas a segregação oficial permaneceu por muito mais tempo, até meados do século XX, com diversos estados em que leis proibiam a convivência de brancos e negros. Pode parecer espantoso para nós, mas é apenas a forma explícita do que aqui era, e ainda é, praticado de forma velada. O filme Histórias Cruzadas acontece em um dos momentos mais quentes da discussão racial nos EUA, mas ainda assim consegue ser um filme divertido e cativante.

Olhar o currículo do diretor Tate Taylor chega a ser curioso. Muito mais ator que diretor, Taylor não chega a ser um astro, participando como coadjuvante em alguns longas, e com diversas participações em séries. Ele achou no livro da amiga de infância Kathryn Stockett o mote perfeito para chamar atenção para seus outros talentos. Seu roteiro é ótimo, e sua forma de filmar é bem eficiente.

Um bom olho para o elenco, por exemplo, é um bom começo. Viola Davis, em um dos papéis principais, está ótima. Ela mostrou como pode fazer um bom papel em Dúvida, onde com poucos minutos de presença na fita conseguiu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante - e, na opinião modesta deste crítico, deveria ter levado a estatueta. Aqui ela novamente desponta, novamente com uma indicação da Academia, entre outras. Jessica Chastain faz também um ótimo papel, talvez até melhor que a colega. Estão igualmente bem Octavia Spencer e Bryce Dallas Howard. Emma Stone, no outro papel principal, funciona, mas acaba sendo destronada facilmente pelas companheiras de cena.

Apesar do assundo pesado - e para eles é ainda mais que para nós - a fita se vale de boas doses de humor bem colocadas, fotografia colorida e uma montagem de época eficiente. É uma história complexa e crítica embalada num filme muito gostoso de ver. Um bom começo para Taylor - que já tinha dirigido dois antes deste, mas podemos considerar The Help sua Obra Prima. Dizem que é um forte concorrente à estatueta de Melhor Filme, e já amealhou diversos prêmios. Não é sempre que um filme conquista público e crítica, e isso por si só já vale o seu ingresso.

02 fevereiro, 2012

Os Descendentes (The Descendants)

Os Descendentes é aquele tipo de filme difícil de classificar. Num primeiro momento a expressão comédia dramática nos vem à mente, mas ela é insuficiente. É um drama, sem dúvida, com o personagem principal no meio de uma crise tripla - a esposa no leito de morte, a descoberta de que ela o traía, e a decisão de vender ou não uma propriedade familiar histórica que renderá centenas de milhões para ele e seus primos. E ele ainda tem que conseguir encontrar um meio de se comunicar com as duas filhas, pai ausente que era. Então, drama. Mas toda a estética é de comédia, com planos, expressões, diálogos e muitas cenas engraçadas, típicas das comédias inteligentes. Mas é um dos raros casos em que o todo é maior que a soma das partes, um trunfo de Alexander Payne

Payne chamou a atenção dos cinéfilos em 2002 com A Confissão de Schmidt, e logo depois novamente com o excelente Sideways. Fez em seguida um dos trechos de Paris, Te Amo, e desde então não voltava às telonas. Talvez estivesse esperando o roteiro certo, e o encontrou no livro de Kaui Hart Hemmings. Uma história assim precisa ser muito cuidadosamente trabalhada para que não se perca em uma das várias armadilhas clichês possíveis, e Payne conseguiu escapar de todas.

Primeiro, ele conseguiu fazer com que George Clooney desviasse totalmente de sua prática de galã, no que está sendo chamado de a melhor interpretação da sua carreira. De fato, o Matt King que ele coloca na tela está completamente perdido em meio à maré que o toma. Mas Clooney já mostrou várias vezes que é um excelente ator. Por isso é interessante notar que a jovem Shailene Woodley faz um ótimo papel, confrontando muito bem o veterano Clooney, digno de nota. Participações especiais como a de Beau Bridges e Robert Foster ajudam a apimentar o elenco.

O ritmo, mais voltado para o drama, acaba atrapalhando um pouco as partes mais comédia do filme, mas nada que tire o sabor da fita. A fotografia, quente e colorida como se imagina que seja o Hawaii, contrasta perfeitamente com o que se passa com o personagem, algo parecido com o que Payne fez em Sideways. Muita gente pode estranhar, e achar forçado, colocar comédia envolvida em uma história em que há alguém morrendo. Não se deixe levar por esse tipo de preconceito, se o tiver. Os Descendentes é excelente, e merece o seu ingresso.

31 janeiro, 2012

J. Edgar (J. Edgar)

 
Cinebiografias são mais interessantes quanto mais se conhece o personagem retradado. Infelizmente, o personagem do novo filme de Clint Eastwood não é muito conhecido por nós brasileiros. John Edgar Hoover foi o primeiro diretor do FBI, a polícia federal investigativa dos Estados Unidos. Foi o responsável por tornar o bureau o que ele é hoje, e ocupou o cargo até sua morte. Suas ações foram sempre polêmicas, das visionárias metodologias de estudo criminal - hoje padrões em quase todo o mundo - às demonstrações ferozes de autoridade e, no ponto em que o filme de Eastwood evita a discussão, mas deixando claro sua posição, sua homossexualidade.

Um ponto forte nesse argumento é o fato do roteirista ser Dustin Lance Black, conhecido por filmes em que homossexuais tem o papel de destaque, como Milk, com Sean Penn. O Hoover retratado por Eastwood e Black não revela sua preferência, mas também não esconde na esfera privada que o filme mostra. E essa tinta permeia toda a fita, aliada à fotografia em tons levemente mais baixos, no estilo que o diretor gosta quando faz filmes de época como este.

Eastwood seleciona bem seu elenco. A escolha de Leonardo DiCaprio para o papel principal, num primeiro momento, poderia parecer leviana. Mas DiCaprio prova o que já falei outras vezes, que ele é um bom ator quando é bem dirigido. Neste caso, está excelente. Não apenas ele trabalha muito bem a linguagem corporal e as flexões de voz, como incorpora trejeitos que tornam sua caracterização bastante realista. É acompanhado de perto pela sempre muito boa Naomi Watts, pela inigualável veterana Judi Dench, e pelo novato Armie Hammer - que interpretou os gêmeos Winklevoss em A Rede Social. Todo o elenco está bem, cada um com suas nuances. E ajuda muito o trabalho primoroso da maquiagem, que os torna idosos com um nível de detalhes nunca visto.

O ritmo do filme é um ponto muito interessante. Como nos últimos filmes de Eastwood, não há um começo lento. Já nos créditos os diálogos importantes aparecem. Aqui, além disso, á uma forma de trabalhar as mudanças e as idas e voltas da história de maneira que em nenhum momento o filme cai. Parece que cada cena é primordialmente importante. É mais um filmaço de Clint, embora para nós ele não tenha tanta força quanto para quem conviveu com pelo menos a sombra da história de um personagem importante como Hoover.

28 janeiro, 2012

Medianeras - Buenos Aires na era do amor virtual (Medianeras)

Quem acompanha o cinema fora das muralhas hollywoodianas provavelmente conhece e admira as produções argentinas. Comédias bem trabalhadas, dramas bem escritos, sempre histórias profundamente baseadas em roteiro e personagens, com uma grande influência europeia. Não sei como anda o ritmo de produção por lá hoje por conta da crise deles, mas historicamente eles produzem bem mais que nós, e já tem um mercado bem avançado, mesmo para o cinema alternativo. Da última vez que li uma pesquisa sobre o assunto, a proporção de poltronas em cinemas em relação à população deles era mais que três vezes maior que a nossa. Um cenário propício, salvo a tal crise, para produções interessantes.

Que, como sempre, chegam atrasado aqui no vizinho Brasil - ou nem chegam, na maioria das vezes. Medianeras, o longa de estreia do cineasta Gustavo Taretto, foi lançado em setembro passado, nos festivais daqui, e agora apareceu em uma sala de um complexo alternativo. Vale à pena. Taretto, que escreveu, produziu e dirigiu o longa, mostra um olhar certeiro nas pequenas coisas que deixamos passar, mas que reconhecemos facilmente. O monólogo inicial, que relaciona a arquitetura de Buenos Aires com o estado de espírito da população, poderia ter sido dita por um paulista ou por um carioca, mas encontra aprovação em qualquer um que já visitou uma grande cidade brasileira.

A história gira em torno de Martín e Mariana, duas jovens ilhas cercadas de gente por todos os lados, separados pelas respectivas paredes inúteis dos seus prédios - as medianeras do título. À sua maneira, cada um conta como vive, e como chegaram àquela situação, em um vai e vem de narrativas em que eles sempre se encontram, sem se conhecer e sem saber que o outro esteve lá. Ao contrário do que faria uma comédia romântica de Hollywood, esses encontros são sutis e nunca dão em nada. Suas respectivas visões da cidade, e dos micromundos que são seus apartamentos, é tão complementar quanto oposta. E por isso mesmo o vai e vem de narrativas torna-se um diálogo curiosamente feito de monólogos. É isto, e a atuação dos protagonistas Javier Drolas e Pilar López Ayala, ele um novato, ela uma jovem veterana das telonas, tendo inclusive estrelado a produção hispano-brasileira Lope.

Medianeiras é daqueles filmes feitos com pouquíssimos ingredientes, mas muito, muito bem aproveitados. Divertido e tocante, leve e agradável. Cinema pela beleza de se contar bem uma história interessante. Como sempre recomendo nesses casos, se você tem a sorte de tê-lo passando em um cinema por perto, vá assistir. Se não, torça para que chege logo às locadoras. Muito recomendado.

27 janeiro, 2012

Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl With The Dragon Tatoo)

Quando o cara é bom, o cara é bom. Temos que reconhecer: David Fincher não cometeu muitos erros na sua carreira. Nos oito últimos filmes que dirigiu, há apenas um mais fraquinho, O Quarto do Pânico, que ainda assim não é de todo ruim. E tem muitos acertos que mais que compensam essa derrapada, incluindo a obra prima O Curioso Caso de Benjamin Button. Sua versão de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, a primeira história da trilogia Millenium, do escritor sueco Stieg Larsson, é excelente.

Tive o prazer de ler toda a trilogia, muito bem escrita por sinal. Tive a chance de assistir também o primeiro filme na versão sueca - os outros, sabe-se lá por que, não foram lançados aqui, nem em DVD. O filme sueco, curiosamente, é fraco. Bem fraco, aliás. Pouco do clima do livro é resgardado, o que é uma pena. Então fiquei animado ao saber que Fincher faria a versão hollywoodiana. Felizmente, estava certo, supera com larga vantagem o sueco, num novo exemplo de versão, não de remake, já que as mudanças entre um filme e outro são muitas e claras. A maioria das mudanças em relação ao livro é compreensível e apreciada para a telona, mas não todas. Correndo o risco de cair em um spoiler aqui, não gostei de ver algumas coisas do segundo livro já ditas no primeiro filme, nem da forma como a relação Salander-Blomkvist se desenvolve - faltam coisas essenciais para a confiança que Mikael consegue conquistar em Lisbeth, e que é crucial para a história que segue nos livros seguintes.

Inicialmente não fiquei muito satisfeito com Daniel Craig no papel principal, mas sou obrigado a dar o braço a torcer. Salvo o fato de que ele é um tanto mais atlético que o personagem do livro, todo o resto ele faz muito bem. Mas, claro, é Roonei Mara quem domina. E não se enganem, as incríveis mudanças físicas exigidas para a personagem não adiantariam nada com uma atuação fraca. Não apenas Mara realmente colocou todos aqueles piercings, ela também vestiu completamente a pele de Lisbeth Salander. Tudo que falta à personagem, falta ao roteiro - as mudanças que citei no parágrafo anterior. É preciso fazer justiça, entretanto, a Noomi Rapace, a melhor coisa da versão sueca. Ajuda muito esta versão também o fato de que todo o elenco de apoio foi escolhido com cuidado. Do excelente Christopher Plummer ao sueco Stellan Skarsgård, passando por Steven Berkoff e Robin Wright, todos estão bem.

O melhor da fita, entretanto, é o clima e o ritmo que Fincher imprime, capaz de manter a surpresa mesmo para quem lembra vividamente do livro, além de manter o espectador grudado na poltrona. A fotografia acinzentada e a edição acurada são ótimas, e a trilha, pesada demais para o meu gosto musical, encaixa perfeitamente bem. Mal posso esperar pelos próximos.

14 janeiro, 2012

Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras (Sherlock Holmes: A Game of Shadows)

Todo mundo sabia, no final do primeiro filme de Guy Ritchie com Sherlock Holmes, que haveria um segundo. Aparentemente, foi uma exigência do estúdio, e inclusive adiantaram a produção de Jogo de Sombras para conseguirem manter o elenco. Guy nem mesmo teve tempo de fazer outro filme, o que é uma pena. Mas parece ter valido a pressão. Parafraseando o próprio filme, com algumas aparas ainda soltas, o resultado deste é levemente superior ao primeiro.

Novamente, se você conhece o Sherlock Holmes dos livros de Sir Arthur Conan Doyle, guarde muito pouco das personalidades e descrições físicas. Apesar das várias referências às várias histórias, o Sherlock Holmes que vemos aqui é outro personagem, quase completamente. Uma das pontas soltas, por exemplo, é a falta do Inspetor Lestrade, que sempre faz um contraponto bastante cômico com Holmes ao apresentar suas teorias diametralmente opostas à realidade que o detetive depois revelará. Ritchie, entretanto, acertou o ritmo, fazendo um interessante filme de ação, com uma edição sensacional, e um trabalho de produção primoroso. A escala cromática reforçou ainda mais os tons de cinza do primeiro, e os múltiplos indícios de um jogo de xadrez, muitas vezes ocultos, ficaram bastante bons.

Robert Downey Jr. repete seu papel com a desenvoltura de sempre, aproveitando-se das liberdades criativas dos roteiristas sobre o personagem original para imprimir comédia no tom certo. Jude Law, por sua vez, sobe também um tom, com um Dr. Watson já profundamente marcado por seu longo tempo ao lado do amigo. Três adições importantes ao elenco merecem destaque. Primeiro, Noomi Rapace, que, se você conhece, provavelmente é da versão sueca de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres. Ela está ótima, como também está Jared Harris com seu Professor Moriarty. Mas a melhor participação vai para o sensacional Stephen Fry como Mycroft, irmão de Sherlock, também aproveitando bastante as liberdades da história para exercitar o humor.

Como o primeiro, é um filme divertido, com cenas belíssimas e bem produzidas, capaz de conquistar o público. Particularmente, senti falta de um pouco mais do Holmes detetive, com suas deduções incríveis, mas aceito que para efeito desse tipo de produção um Holmes mais ação funcione.

13 janeiro, 2012

O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy)

Tenho uma confissão a fazer. Algo difícil de admitir para um amante de livros tanto quanto de cinema. Nunca li nada do John le Carré. Sempre soube que seus livros são ótimos, que mostrar uma visão bem diferente - e, pelo que sei, mais realista - do serviço de inteligência britânico, em contraste com o a moralidade imbatível e as cenas de ação e romance do James Bond de Ian Fleming, e que seu estilo de escrever é delicioso. Nunca li. E preciso corrigir isso o quanto antes. Infelizmente, não podia esperar para assistir o que está sendo considerado a melhor adaptação cinematográfica de uma de suas obras, O Espião Que Sabia Demais - tradução blasé que, desta vez, não é culpa da distribuidora brasileira, mas sim da editora brasileira que traduziu o livro bem antes do filme.

O próprio le Carré participou como produtor executivo, então podemos esperar que as liberdades criativas que certamente houveram foram com o seu aval. A direção foi entregue ao sueco Tomas Alfredson - e aí outra confissão, também não assisti ainda Deixa Ela Entrar, só encontro a versão norte-americana nas locadoras, e faço questão de ver a original primeiro. Alfredson usou muito bem o esquema de idas e vindas na história para montar o cenário, e a fotografia meio lavada funciona muito bem para ambientar a trama, melhor até que a excelente produção de cenário. A opção de trabalhar as câmeras quase sempre à meia distância, como se o espectador estivesse espionando a cena, foi também sublime.

O elenco, quase todo masculino, foi escolhido com cuidado. Gary Oldman, no papel principal, faz provavelmente a melhor atuação da sua carreira. Colin Firth e Mark Strong estão muito bem, embora ambos já tenham estado melhor em outros filmes. Benedict Cumberbatch e Tom Hardy fazem bons papéis, com personagens quase opostos, e vários nomes veteranos como John Hurt, Ciarán Hinds e Toby Jones fazem ótimas participações.

O filme se passa como imagino que o livro também.Só descobrimos as coisas aos poucos, e até o momento em que o tal espião é de fato revelado, todos são suspeitos. É um filme de diálogos cuidadosos e movimentos idem, como se qualquer ato tivesse que ser exaustivamente pensado. Não chega a ser um filme tenso, mas definitivamente nos deixa grudado na poltrona à espera da próxima revelação. Recomendadíssimo.

12 janeiro, 2012

Imortais (Immortals)

Eu sempre gostei muito da mitologia grega. Quando criança, lia tudo que via pela frente sobre o assunto - nos tempos pré-internet não era tão simples encontrar referências. Sabia várias das histórias de cor, e sabia inclusive relacionar os nomes dos deuses gregos com os romanos. Desnecessário dizer que adorava também os filmes com o tema, quase todos um tanto trash na época, como o saudoso Fúria de Titãs. Pois se você, como eu, se interessa pelo assunto, uma recomendação: antes de assistir Imortais, simplesmente esqueça tudo. Ignore as aventuras, as relações entre os personagens, as origens, a personalidade. Esqueça. Imortais bebe numa falsa fonte mitológica, pegando apenas alguns nomes e nada mais.

A produção é excelente. Tons de laranja e dourado dominam a fotografia, supercloses para todos os lados - ao ponto do exagero - e cenários virtuais muito bem feitos. Cenas de ação usando o efeito propagado por Zack Snyder com seus 300 e Watchman, e usados também por Guy Ritchie em alguns de seus filmes, incluindo Sherlock Holmes. Efeitos especiais bem aplicados, cuidado no figurino e na maquiagem. Tudo para ser um grande épico.

Mas, além do fato de que não usa nada das já fantásticas histórias da mitologia grega apesar de usar os personagens, tudo acontece muito rápido, mas ainda assim sem ritmo. Tarsem Singh, em seu terceiro longa, tenta construir um estilo de narrativa fanstástica, que já mostrou no seu primeiro A Cela - que dividiu opiniões entre o bastante bom e o ingenuamente pretensioso - e com o segundo The Fall. Mas é preciso mais do que abusar de efeitos especiais para criar uma marca. Apesar do elenco bem escolhido, com grandes nomes como Mickey Rourke e John Hurt juntanto-se a novatos talentosos como Stephen Dorf e Freida Pinto, e a novos rostos como o futuro Superman Henry Cavill, a história parece sofrer de estrutura.

Singh, e os irmãos roteiristas Parlapanides, tentaram dar um contexto ao herói Teseu - que, nunca é demais falar, não tem nada a ver com o personagem mitológico da história do labirinto - mas não conseguem. As cenas de ação são muito boas, com alguma violência gráfica desnecessária, mas os interlúdios dramáticos, e a pífia tentativa de incluir um romance “proibido”, levam o filme para baixo. Não ajuda também o desfile de moda conceitual dos deuses. É preciso mais para fazer um filme grandioso. E, se vai inventar sobre personagens já tão bem estruturados como os da mitologia grega, que faça direito. Singh já está com outra produção em andamento, uma das duas adaptações da história da Branca de Neve, com o sugestivo nome de Mirror Mirror e Julia Roberts como a Rainha Má. Vamos esperar que ele se recupere com esta nova tentativa.

08 janeiro, 2012

Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche)

Amizades inusitadas costumam fornecer bons ingredientes para histórias interessantes. Este é o mote principal do excelente Minhas Tardes com Maregueritte, um daqueles filmes que infelizmente não chegam ao circuito comercial. Construído de maneira muito simples, a trama gira em torno do encontro entre Germain, um quarentão que deu pouca atenção à também pouca educação que recebeu, e Margueritte, uma adorável senhora que sempre tem um tomo à mão. Aparentemente opostos, os personagens se reconhecem tanto na bondade quanto no apreciar das tardes das praças francesas, ao redor dos pombos.

Jean Becker, o diretor, é daqueles nomes pouco conhecidos aqui, mas bastante respeitados na Europa. Ganhador de alguns César, e indicado para a Palma de Ouro em Cannes, Becker gosta das amizades contrastantes, como já tinha demonstrado no também excelente Conversas Com Meu Jardineiro. Como o bom cinema francês, ele se aprofunda no personagem principal e toma seu ponto de vista como guia.

Gérard Depardieu é o mais conhecido ator francês, com merecimento. Nos papéis em filmes mais conhecidos aqui, ele costuma ser o grande, forte e caricato - como Portos, dos Três Mosqueteiros; Obelix, nos dois filmes da turma do Asterix; e Cirano de Bergerac, numa das filmagens mais conhecidas da famosa peça. Aqui, ele é grande e forte, mas representa a bondade daqueles de vida mais simples, e o faz com grande maestria. Sua contraparte não deixa a desejar, com a veterana Gisèle Casadeus no papel de Margeritte, usando e abusando dos trejeitos que o arquétipo do idoso marca em todos nós.

Lançado aqui em meados de 2011, provavelmente já está nas prateleiras das locadoras, além de uma ou outra sala alternativa. Como sempre recomendo, se você tem a sorte de tê-lo em exibição por perto, vá assistir. É cinema de qualidade, e de mensagem universal, daqueles que você sai com um sorriso leve da sala.

03 janeiro, 2012

Compramos Um Zoológico (We Bought a Zoo)

Além dos blockbusters, o período de férias, especialmente o final do ano, sempre traz os famosos filmes família, normalmente histórias água com açúcar que os pais mais conservadores podem assistir com os filhos - digo mais conservadores porque a nossa geração não vai se furtar a acompanhar os filhos nas animações e filmes de herói. Compramos um Zoológico é um típico representante desse formato, mas com um tempero especial ou dois.

Primeiro, é um filme de Cameron Crowe, que desde Elizabethtown não fazia um longa - exceto o documentário The Union. Crowe não tem muitos títulos no currículo, mas seu Quase Famosos e o remake Vanilla Sky valeram o status de diretor a ser observado. Seus filmes são sempre bons, com bom tratamento de roteiro, e excelente trilha sonora - herança da sua época como repórter da Rolling Stone.

O elenco é excelente. Matt Damon, mais gordinho e maduro do que estamos acostumados, está praticamente perfeito no papel. Thomas Haden Church, como seu irmão, mais uma vez mostra que é um ator que merece mais atenção. Colin Ford faz um papel difícil, como filho de Damon, mas sai-se muito bem. Só não melhor que sua irmã no filme, a pequena Maggie Elizabeth Jones - onde, onde eles conseguem arrumar essas crianças tão talentosas, sempre? Elas crescem, mas sempre aparece outra. Maggie é praticamente a vida do filme com sua forma incrivelmente charmosa de dizer cada linha de diálogo, e suas expressões absolutamente adoráveis. E fica ainda melhor quando aparecem Scarlett Johansson, sempre linda, e Elle Fanning, ela própria uma agora ex-criança prodígio - não mais criança, mas ainda prodígio, excelente atuação. Patrick Fugit, que fez o papel principal em Quase Famosos, faz uma boa partiricação aqui. E o elenco de apoio todo está muito bem.

Mas esse não é o segundo tempero. Saber que a história é baseada em fatos reais, isso sim. Parece algo tão inusitado e inventivo que só poderia ter saído da cabeça maluca de algum cineasta, mas, com alguma romantização, claro, aquilo aconteceu. Apesar dos momentos melancólicos quando a esposa falecida do personagem principal é lembrada, é um filme divertido do início ao fim, válido mesmo para aqueles que ainda não têm os próprios filhos.

Tudo Pelo Poder (The Ides Of March)

Há muito tempo atrás, pouco mais de 10 ano, um tal de George Clooney era só mais um dos atores de séries televisivas tentando ganhar seu espaço nas telonas. Quando era o Dr. Doug Ross de ER - Plantão Médico no Brasil - ninguém dava muita bola pra ele. Não melhorou muito o fato dele ter estrelado a possível pior adaptação de um herói de quadrinhos no cinema, o hediondo Batman & Robin de Joel Shumacher. Felizmente ele fez melhores escolhas para sua carreira depois, estrelando grandes filmes como Além da Linha Vermelha, E Aí Meu Irmão, Cadê Você?, e Mar em Fúria. Não demorou muito e ele começou a também dirigir. Foi aí que os cinéfilos começaram a de fato reparar nele.

Seu primeiro longa como diretor, Confissões de Uma Mente Perigosa, é excelente. Mas mostrava vícios de outros diretores, não deixava uma marca. Três anos se passaram e, depois de alguns episódios de uma série de TV, Clooney voltou à cadeira com o estonteante Boa Noite, E Boa Sorte. Desta vez, estava tudo lá: estilo, tratamento, tom, fotografia. Como diriam os artistas da Renascença, Boa Noite foi a sua obra prima, aquela que o batisou realmente como diretor. Depois viria uma experiência nas comédias românticas com o levemente divertido O Amor Não Tem Regras, e com Tudo Pelo Poder ele volta com tudo. Parece que a política é um tema que não só atrai Clooney, mas que também desperta nele seu melhor talento na direção.

Falar do elenco é fácil. O próprio Clooney está muito bem, Ryan Gosling no papel principal está muito bem, Philip Seymour Hoffman, como sempre, está muito bem. Paul Giamatti idem. O mesmo para Evan Rachel Woods e Marisa Tomei. E para todo o resto. Não há atuação mais ou menos para qualquer um com mais de poucos segundos e uma linha de diálogo. É um feito difícil de alcançar. Especialmente em uma fita sobre os bastidores mais recônditos do cenário político dos Estados Unidos.

Clooney, que também co-assina o roteiro, dá contornos muito claros aos personagens, o que não significa que eles possam ser distorcidos durante a trama - afinal, estamos falando de política. O título original, inclusive, The Ides Of March, é uma dica do que podemos esperar - na peça de Shakerpeare Júlio Cesar, o personagem título é recomendado a tomar cuidado com “os idos de março” (ele seria assassinado no dia 15, por seu amigo e conselheiro Brutus). Assim como em Boa Noite, aqui não há espaço para diálogos engraçadinhos e truques para prender a atenção do espectador. Não é necessário. Como bom filme, ainda que sério, ainda que um tanto revoltante, Tudo Pelo Poder prende até o fim. Imperdível.