24 outubro, 2009

Jogando com Prazer (Spread)




Um filme em que Ashton Kutcher representa um rapaz aproveitador que vive de golpes em ricaças, que ele nutre com gentilezas e favores sexuais. Em outras palavras, um filme feito para que Kutcher não precisasse gastar nada do pouco talento. Feito por ele inclusive, já que sua produtora assina a fita. Assim é jogando com prazer, possivelmente o mais tolo de 2009.

O diretor David Mackenzie uniu-se ao roteirista estreante Jason Dean Hall para tentar convencer com a história do jovem aproveitador que se apaixona de verdade e, por isso, se arrepende. Mas encheu o filme de clichês e esqueceu de acrescentar conteúdo, e também estilo. No começo, as sequências de cenas de sexo dão a entender que é um filme para garotos adolescentes. Mas depois que ele se apaixona, vira quase um romance típico de garotas adolescentes.

E parece que tentaram convencer com o elenco, escalando Anne Heche para contracenar com Kutcher. Apesar de que colocá-la no poster foi uma jogada ruim, já que é Margarita Levieva que realmente importa na história. Enfim, uma salada pouco organizada, daquelas que mereciam ir direto para a sessão da tarde.

17 outubro, 2009

Te Amarei Para Sempre (The Time Travaler's Wife)




Viagens no tempo costumam ser tema de ficção científica e, no máximo, comédias bobagentas. Quem diria que poderia se prestar a um drama romântico? Pois Te Amarei Para Sempre - péssima tradução para The Time Travaler's Wife - mostra que, sem dúvida, uma boa história pode surgir de qualquer bom mote. O livro de 2003 teve os direitos comprados para o cinema antes mesmo de ser lançado, em um golpe inteligente do então casal Brad Pitt e Jennifer Aniston, que pretendia estrelar a produção, cuja direção foi oferecida a Steven Spielberg, Gus Van Sant e David Fincher. Demorou, mas ganhou as telas, em uma tímida estréia no momento morno da indústria.

Toda a produção é marcada por nomes de segundo escalão. O diretor, Robert Schwentke, tem apenas um outro filme mais ou menos conhecido no currículo, Plano de Vôo, com Jodie Foster. Ele comandou Eric Bana e Rachel McAdams em um filme bem fotografado e com um ritmo excelente para um filme com as idas e vindas típicas das viagens no tempo. Além do ritmo, ele não faz feio no controle dos atores, inclusive da ótima Hailey McCann com seus apenas 13 anos.

Mas o sabor maior do filme está mesmo na história. Bem contada, capaz de utilizar com inteligência mesmo os paradoxos da existência de viagens no tempo, e de contornar com graça alguns dilemas morais dos viajantes - não gosto de contar cenas, mas esta vale a pena, e não é essencial na trama: em uma das viagens ao futuro - que são involuntárias e imprevisíveis - o personagem principal volta com os números da loteria.

Confesso que entrei na sala pensando apenas em passar o tempo. Mas saí surpreendido com a qualidade da narrativa, e ainda assim com a simplicidade e aparente superficialidade do filme, que ainda é capaz de deslocar o problema central para a velha questão do relacionamento e da vida a dois. Depois de passar pelos outros bons títulos em exibição - que vergonhosamente ainda não assisti - vale a pena conferir este.

08 outubro, 2009

Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy With a Chance of Meatballs)




A Sony entrou na briga da animação por computador com O Bicho Vai Pegar, em que tinha uma história interessante e um belo visual. Depois avançou um pouco com Tá Dando Onda, novamente com uma história interessante, mas com o tempero do estilo documentário e uma modelagem impressionante. Mas nenhum fez mais sucesso do que este Tá Chovendo Hamburguer - ignoremos a estranha preferência dos tradutores brasileiros pelo "tá". Aqui, o visual parece ter dado um passo atrás. Parece, porque, apesar das texturas realmente não estarem tão boas quando Tá Dando Onda, a complexidade dos elementos e dos cenários aumentou muito. E a história também.

O mote principal é, coincidentemente ou não, basicamente o mesmo dos outros da Sony: alguém tentando se encaixar no mundo. Pode ser uma indicação de que o estúdio busca seu lugar no CG, depois de ter entrado tardiamente. Com poucas produções, ainda não temos uma "cara" Sony nas animações. Por isso, por melhor que seja o filme, ainda não é páreo para a Dreamworks ou para a Blue Sky - a Pixar já se descolou do grupo, não vale mais como comparação.

Como o primeiro com a tecnologia 3D, e com uma história perfeita para abusar disso - coisas caindo do céu - é preciso dizer que ainda não foi a melhor utilização. Sim, há a profundidade - e em algumas cenas ela é realmente importante - mas o aproveitamento muitas vezes deixa a desejar. O roteiro é cativante e bastante divertido, mas faltou alguma coisa, aquele toque especial.

Também não foi a melhor época para o lançamento - ou talvez tenha, já que esperou passar o caminhão das férias e das outras animações que são bem melhores. Em resumo, é a Sony ainda testando o seu caminho. Há potencial, mas ainda faltou mostrar a que veio.