31 outubro, 2008

Um Segredo Entre Nós (Fireflies In The Garden)




O tema já é batido: a volta para casa depois de alguns anos longe, e o enfrentamento de algo que aconteceu no passado. Mas tudo bem, é possível encontrar desdobramentos diferentes para motes parecidos. Aqui, há o tal segredo - que a tradução ruim do título faz o desfavor de introduzir precocemente - e também uma já conhecida disputa entre pai e filho. Dennis Lee, diretor e roteirista, faz um filme bonito, mas sem destaque.

O diretor é um novato, estreando em longas, mas com um curta premiado no currículo. Sua história autoral - dita quase autobiográfica - é interessante e comovente, capaz de prender o espectador, apesar de para isso utilizar um expediente comum. Ele aproveita bem a fotografia do interior dos Estados Unidos, e também as várias referências usuais das cidades pequenas, mas consegue, de forma inteligente, utilizar o cenário como um bom pano de fundo, deixando a história fluir, na técnica dos flashbacks intercalados.

Um elenco de primeira para um primeiro filme. Inclui Willem Dafoe, Emily Watson, Carrie-Anne Moss, Julia Roberts e Ryan Reynolds, este em um dos seus melhores papéis - se não o melhor. Percebe-se que Lee valeu-se da experiência dos seus atores para não se preocupar em dirigi-los muito. Não que isso seja desabonador, na verdade é um ponto interessante de ser notado para um diretor novo. Com isso, ele conseguiu atuações boas sem serem extraordinárias. É preciso notar, entretanto, que os atores mirins estão muito bem - e nesse caso dificilmente não há um toque do diretor.

O roteiro segue o esquema de liberar as informações aos poucos, deixando algumas brechas para o público preencher por si só. Não há nada essencialmente ruim no filme, mas o excesso de fórmular, mesmo para um drama desse tipo, poderia ser um pouco evitado. Ainda assim, é um bom filme, daqueles que, quando o pegamos por acaso começando na TV, sentamos para rever.

17 outubro, 2008

As 2 Faces da Lei (Righteous Kill)




Quando se quer reunir grandes nomes do cinema, há que se ter uma história que valha à pena. Se forem dois ícones, que só estiveram juntos antes duas vezes - sendo que só contracenaram em uma - temos uma situação ainda mais especial. Robert De Niro e Al Pacino, juntos no mesmo filme, deveria ser um acontecimento. Foi assim e, 1995, quando Michael Mann filmou Fogo Contra Fogo. Mann soube construir a história de forma hábil, colocando-os como inimigos, fazendo uma única cena juntos. E essa única cena foi um acontecimento, um momento memorável. Jon Avnet quis ir mais longe, colocando os dois atuando juntos quase o tempo todo, mas achou que isso por si só bastaria.

Avnet começou sua carreira muito bem. Filmes excelentes como Tomates Verdes Fritos e A Árvore da Guerra, e muito bons como Íntimo e Pessoal, estão no seu currículo. Mas de uns tempos para cá ele não tem feito nada de muito notável. Tomou gosto pelo gênero policial com um pouco de ação e outro de psicologia. É assim, inclusive, seu primeiro filme com Al Pacino, 88 Minutos. E neste As 2 Faces da Lei ele tenta seguir o mesmo caminho. Chega a ser interessante, no início, a maneira como ele constrói rapidamente as caracteristicas dos personagens principais, mas é quase só isso.

Pacino e De Niro divertem-se em seus papéis, que fazem sem muito esforço. Como seus personagens, apesar do esforço do roteiro, não são muito profundos, não há muito a ser trabalhado, o que dificulta, mesmo para grandes atores, uma interpretação memorável. O elenco de apoio, formado por Carla Gugino, Jon Leguizamo, Donnie Wahlberg e Bryan Dennehy, tem atuações boas, também restritos pelo roteiro.

E o que deveria ser um acontecimento, resulta em uma produção regular. Colocar dois atores do porte e Al Pacino e Robert De Niro atuando juntos, uma situação rara, merecia um cuidado maior. Quando Michael Mann colocou-os juntos pela primeira vez, foi bastante feliz. E todas as novas chances de reunir os dois vão sempre ser comparadas àquela. Avnet tenta, mas não consegue nem mesmo uma menção honrosa.

12 outubro, 2008

A Guitarra (The Guitar)




A arte de contar histórias, algumas vezes, se apega ao mínimo necessário. Esse é o caso de A Guitarra, filme que dificilmente chegará ao circuito comercial, mas que vale a pena ser assistido. Amy Redford - sim, filha do Robert - estréia na direção, depois de vários papéis secundários em filmes diversos e seriados. E escolhe para seu debut um roteiro bastante intimista, daquela simplicidade que só se atinge com muito esforço de cortar as aparas.

Assina o roteiro Amos Poe, que tem vários trabalhos no currículo, da atuação à edição, mas nada do que nos lembremos. Mas isso é o suficiente para termos uma boa idéia de quem seja: um daqueles cineastas independentes, de onde as idéias brotam, mas que muitas vezes não prestamos atenção. Ele teve a sorte de encontrar Amy em seu caminho, e ela de encontrar um bom texto. O mote não poderia ser mais simples. Melody, uma mulher de seus 30 anos e com nenhuma conquista na vida, descobre que tem câncer e morrerá em dois meses. E resolve abandonar totalmente a sua vida e fazer tudo o que tinha vontade. Mas ela não viaja o mundo, tranca-se em um espaçoso loft novaiorquino.

A fita, na maior parte do tempo, mostra apenas Saffron Burrows, como Melody. É um rosto mais ou menos conhecido, já o vimos em papéis coadjuvantes algumas vezes. Sua Melody passa do soturno da descoberta à liberdade alcançada com as mudanças com muita habilidade. Contracenando com ela, apenas dois personagens: o entregadores Roscoe, interpretado por Isaach De Bankolé, e Cookie, por Paz De La Huerta. O apartamento vazio vai sendo preenchido, como a vida da personagem, apesar de não abandonar aquelas paredes.

Os pequenos flashbacks servem para mostrar uma única coisa: a paixão antiga de Melody por uma guitarra vermelha. Tudo dito assim, pode dar a impressão de um filme monótono e pedante. Mas a condução da história não deixa isso acontecer. Não há atuações soberbas, nem movimentos inovadores, nem uma fotografia impressionante. Mas há uma mão muito boa segurando o roteiro que poderia facilmente descambar para aquele chato intelectualóide. Boa estréia, Amy.