20 julho, 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2)



Como negócio, a franquia Harry Potter é certamente um dos maiores acertos tanto no mercado editorial quanto no cinematográfico. Basta dizer que a autora J. K. Rowling é hoje uma das pessoas mais ricas da Inglaterra. Dividir a última aventura do bruxo em duas para o lançamento no cinema foi uma tática excelente – sem muito esforço, mais que dobrou o faturamento da parte final da história. Já falando em qualidade de cinema, foi uma série com altos e baixos bem marcados. Tomo a liberdade de iniciar esta crítica com uma revisão rápida dos outros filmes.

O primeiro, a Pedra Filosofal, merece o mérito de ter apresentado o universo a todos aqueles que, como este crítico, não leram os livros. Também deve ser lembrado por ter, de cara, convidado alguns nomes chaves muito bons para o elenco, que se repetiriam ao longo de toda a série. Mas, mesmo lembrando que o público alvo era principalmente crianças na mesma idade dos personagens principais então, não chega a ser um filme excelente, em boa parte por conta das limitações do diretor Chris Columbus, o que faz do segundo, a Câmara Secreta, até um pouco menos empolgante que o primeiro. É exatamente isso que espanta com o Prisioneiro de Azkaban. O salto em qualidade, que vai do cuidado na fotografia à exploração dos atores, é notável, fazendo dele claramente o melhor e, à época, causando uma empolgação com o futuro da série que, infelizmente, não se concretizou por completo. Alfonso Cuarón dirigiu apenas esse, deixando um legado que seus sucessores não foram capazes de honrar. Mike Newel, que dirigiu o seguinte Cálice de Fogo, aparentemente foi chamado apenas para tapar o buraco, já que depois dele David Yates assumiu até o final. Newel até fez um bom trabalho, superando um pouco Columbus, mas claro que não ao ponto em que Cuarón deixou. Mas a bomba caiu com o primeiro dirigido por Yates, a Ordem da Fênix, o mais fraco. Provavelmente por inexperiência, já que antes desse não havia nada de muita qualidade no seu currículo. Faltou praticamente tudo aqui, gerando um filme insosso. Ele se recuperou no seu segundo, o Enigma do Príncipe, que mesmo sendo melhor que o anterior, ainda é médio demais para uma franquia desse porte. Aparentemente, ele estudou bem - ou foi muito bem assessorado - para os dois filmes da parte final, que subiram o tom a ponto de salvar a despedida do bruxo das telonas.

Com os personagens todos já exaustivamente apresentados, e com boa parte da evolução inicial deixada na primeira metade, o derradeiro filme pode começar com o ritmo certo - um dos problemas maiores de Yates. O filme flui bem, apesar de uma certa confusão de resolução no terceiro ato. Um dos problemas - na verdade causado já na origem, no livro - é a quantidade de personagens que participam em pedaços muito curtos. Felizmente, o elenco foi muito bem escolhido, e nomes do porte de John Hurt, David Thewlis, Jim Broadbent, Gary Oldman, Emma Thompson e o novato na série Ciarán Hinds fazem suas pontas com desenvoltura. Emma Thompson, aliás, mal faz uma ponta, aparecendo menos de dois segundos na tela. Uma pena que os jovens atores não tem ainda a experiência para dar um pouco mais do que o diretor consegue extrair. Familiarizados com seus personagens mas sem uma tutela forte, Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint acabam não sendo páreo para Helena Bonham Carter - que numa das cenas iniciais mostra o quanto talento e experiência contam - e Ralph Fiennes. Fazendo uma comparação, o mesmo não aconteceu em Prisioneiro de Azkaban. Radcliffe, sob a batuta de Cuarón, divide a tela com Oldman quase em pé de igualdade.

A história tem algumas falhas aqui e ali, claramente por conta do livro, com algumas escolhas feitas apenas para o óbvio final feliz, que acabam enfraquecendo a trama. A escolha do 3D justamente para esse final foi só para aproveitar o restante de hype sobre a tecnologia. Não assisti em 3D mas, como o filme é bastante sombreado, com a maioria das cenas com pouca iluminação, imagino que os óculos deixem tudo escuro demais. Mas tudo isso, claro, vem de uma análise que ninguém, exceto críticos - ainda que autointitulados - farão. A aventura e a diversão estão garantidas, e as emoções de um final grandioso estão todas lá.

03 julho, 2011

Carros 2 (Cars 2)


Carros sempre foi o filme mais fraco da Pixar. Claro que, no nível da Pixar, ser o mais fraco ainda é bastante bom. Mas não o suficiente para gerar uma continuação. Aliás, continuações não são a onda da Pixar. Salvo este, apenas Toy Story teve continuações - diga-se de passagem, muito bem sucedidas. Parece que o pesadelo dos amantes do estúdio ao saber da compra da Pixar pela Disney, afinal, deve ser considerado, já que tudo indica que não havia outro motivo que não o financeiro para um segundo Carros.

A animação continua excelente, claro. É notável, inclusive, o avanço em relação ao primeiro, não apenas na quantidade dos impressionantes cenários, mas nas próprias texturas dos carros. Uma das cenas na Inglaterra mostra a bandeira britânica flamulando com um realismo inimaginável. O roteiro, apesar de mais complexo, é tão superficial quanto o primeiro.

A impressão de um filme mais complexo vem também da adição de vários novos personagens. Na verdade, personagens demais. Apesar da trama de espionagem feita para os amantes dos filmes antigos do James Bond, o excesso de novas caras - ou novos parachoques - atrapalha. Apesar disso, gostaria de ter a oportunidade de ver os talentos vocais de atores do calibre de Michael Caine e John Turturro. Na versão brasileira, a dublagem do agente secreto Finn McMissile não convence.

Bem, cinema é, afinal, um negócio, antes de ser arte. E uma coisa é certa, Carros 2 faz sucesso com a criançada, que no fim das contas é o que importa. Mas que todos os que acompanham a sequência de sucessos da Pixar gostariam de ver algo com a qualidade de sempre na telona, isso também é certo. Vale só pela diversão.