25 abril, 2009

Eu Odeio o Dia dos Namorados (I Hate Valentine's Day)




Era uma vez a esposa de um grande ator que, ao assistir a um monólogo feminino, recomendou a seu marido que produzisse uma versão para o cinema da peça. Parece história de Hollywood, e é. O monólogo em questão era My Big Fat Greek Wedding, que Rita Wilson, esposa de Tom Hank, assistiu e fez a recomendação. Conta-se que quando Hanks ligou para a atriz, Nia Vardalos, ela desligou pensando que fosse trote. Para sorte dela, não era, e o delicioso Casamento Grego nasceu assim. Depois veio uma série baseada no filme, e Nia ficou um pouco afastada da telona. Agora ela volta não apenas escrevendo e atuando, mas também dirigindo.

O gênero é o mesmo, comédia romântica. Nia faz tudo em um passo acelerado, com muitos diálogos cortados - e vários excelentes. Usa e abusa das referências novaiorquinas, fazendo algumas piadas ficarem mais difíceis aqui. E usa e abusa das gagues; são várias, em alguns momentos, demais, a ponto de alguns se perderem para logo dar lugar ao próximo. Só no terceiro quarto é que o ritmo fica melhor.

Nia estrela no papel principal, com muito charme, e contracena novamente com John Corbert, que está quase no mesmo papel que em Casamento Grego. A estrutura dos personagens é boa, mas a relação entre eles em alguns momentos parece um pouco forçada. O elenco de apoio dá o tom em várias cenas, fazendo um ótimo suporte. Dos ajudantes gays aos amigos esquisitos, os pequenos papéis coadjuvantes são todos muito bons.

Em uma rara inversão, o filme foi lançado aqui antes que nos EUA. Mas, com esse nome, é possível que o plano inicial fosse lançar antes do Dia dos Namorados deles - o Valentine's Day lá é em 14 de fevereiro. Da forma como foi, nem para nós nem para eles usou a referência da data, mas sem problemas. Acabou pegando uma entressafra interessante aqui no Brasil, mas vai sofrer um bocado no lançamento em junho nos EUA, época dos blockbusters. Bonitinho e despretensioso, é um bom filme para as tardes chuvosas ou para um fim de noite sem grandes idéias.

12 abril, 2009

Che (Che: Part One)




Não é simples filmar a história de um ícone. Sem entrar aqui nas opiniões a respeito do personagem, há que se respeitar a figura de Che Guevara. Na América, é uma figura mais conhecida que muitos popstars - certamente figura em mais camisetas que qualquer um. Há várias facetas e formas de abordá-las, e talvez a mais difícil seja justamente a do momento que o tornou mais famoso, a Revolução Cubana. Quando Steven Soderbergh iniciou o projeto do filme, vários torceram o nariz e muitos foram contras - o que fez com que as filmagens fossem seguidamente adiadas. Mas eis que finalmente saiu. E, como quase tudo que Soderbergh faz, é uma pequena obra-prima.

Nesta primeira parte, chamada de O Argentino - o filme foi rodado como uma única peça de mais de quatro horas, e apresentado assim em Cannes; para o circuito comercial, foi partido em dois - Soderbergh coloca lado a lado dois acontecimentos: o início da guerrilha em Cuba, até a tomada de Sierra Madre, e a viagem de Che aos EUA em 64, quando discursou na ONU. Há um interessante diálogo entre os pedaços, quando vemos que o que ele fala nos EUA é corroborado pelas ações em combate. A variação técnica é uma das ótimas jogadas do diretor. Na guerra, ele filma em cores, com bela fotografia e a técnica de sempre. Nos EUA, imita um documentário antigo em preto e branco, com granulação e tomadas "ruins", com closes excessivos e alto contraste.

Benício Del Toro encarou o desafio de interpretar Che. A semelhança física proporcionada pela barba e cabelos crescentes ajudou, mas há por trás uma força artística impressionante, que mais uma vez faz jus ao excelente ator que ele é. É a sua imagem que vemos o tempo todo na tela, mas devemos reparar também nas ótimas atuações do mexicano Demián Bichir como Fidel Castro - também bastante parecido - e de Catalina Sandino Moreno, que com apenas cinco anos de carreira - ela estreou no tocante Maria Cheia de Graça - mostra uma técnica muito madura. Nosso Rodrigo Santoro está lá, numa ponta como Raul Castro, mandando bem no espanhol.

É uma pena que o filme tenha ficado tão longo e partido em dois. A história flui muito bem, no ritmo certo, e por isso o final é um pouco abrupto, nos dá vontade de ver logo o resto - que não tem ainda data de lançamento no Brasil. Claro, essa espectativa tem lá o seu lado comercial - e sabemos que Soderbergh sabe como poucos como unir a vontade comercial dos estúdios e distribuidoras à boa forma cinematográfica. Como tudo leva a crer que a qualidade será mantida, teremos um ótimo motivo para voltar aos cinemas em breve.

10 abril, 2009

Presságio (Knowing)




Pelo trailer, parecia que ia ser um filme muito interessante, com algum mistério e emoção. Depois, as sinopses começaram a aparecer e, claro, tem o poster. Não dava mais para enganar, seria mais um daqueles filmes catástrofes, e daqueles em que o mundo acaba mesmo. Uma pena, pois o mote principal - uma sequência de números escrita há 50 anos por uma garota estranha que contém dados precisos sobre desastres ainda por ocorrer - poderia ser melhor utilizada. No começo - bem no começo - poderia até ser um dos bons filmes do Shyamalan.

Quem comanda a produção é Alex Proyas. Apesad do nome não soar conhecido, ele já realizou algumas peças muito boas, em especial O Corvo - o primeiro e original, com Brandon Lee, e o único que vale a pena ser assistido - e Cidade das Sombras, um bom filme não muito conhecido que inspirou algumas coisas do Matrix. A última grande produção de Proyas foi Eu, Robô, em que saiu muito bem. Em Presságio, ele dá uma bela derrapada.

E é acompanhado por um recorrente nas derrapadas, Nicholas Cage. Cage tem dois talentos. Um é o de ator, já bastante comprovado. Outro, talvez até mais comprovado, é o de entrar em furadas. Parece que ele gosta de projetos ousados, ou simplesmente de estar na tela não importa no que seja. Aqui, ele nem mesmo atua bem. Passa a maior parte do tempo com um olhar assustado extremamente artificial. O garoto Chandler Canterbury, que faz seu filho na trama, dá um banho no veterano.

O estilo muda levemente durante a fita, uma falha grave. Ora é thriller, ora é catástrofe, tenta em alguns momentos ser terror, falha em todas. E é previsível - chegamos a pensar em alguns momentos "tomara que agora ele não faça isso", e sempre faz. A menos que você seja pego despreparado por uma chuva repentina - o meu caso - pode deixar este passar.

03 abril, 2009

Monstros Vs Alienígenas (Monsters vs Aliens)




A nova fase da animação por computador está ótima. Não que a inicial não tenha sido, mas agora estamos em um nível técnico que permite que se leve os roteiros um pontinho adiante. Não tanto no quesito qualidade - alguns dos melhores ainda são lá do começo - mas no quesito diversão. Monstros Vs Alienígenas é daqueles filmes feitos para os pais que hoje tem seus 30 a 40 anos levarem os pimpolhos novinhos e todos saírem satisfeitos. A nova animação da Dreamworks bebe em uma fonte muito específica, os filmes B de monstros e aliens, especialmente os produzidos entre os anos 60 e 70, e que viraram febre cult nos 90.

Para os grandinhos, uma porção de referências que vão de A Bolha Assassina, passando, claro, pelo Ataque da Mulher de 15 Metros. Podemos citar ainda entre as mais óbvias a Monstro da Lagoa Negra, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T. O Extraterrestre e, incrivelmente, Um Tira da Pesada - sim, aquele com o Eddie Murphy. Não para por aí, mas não cabe citar todos. O fato é que isso, seja para quem reconhece apenas uma das referências, seja para quem reconhece várias, é muito divertido.

E para os pequenos, há aquela trama mais fácil, com monstros bonitinhos e várias gagues. Além de, nas cidades privilegiadas, poder ser assistido em 3D - várias cenas são especialmente desenhadas para te dar aquele susto quando parece que algo vai sair da tela. E muita correria, confusão e final feliz, o de sempre, que faz a criançada cair na gargalhada. Diversão depretesiosa, mas deliciosa.