17 junho, 2007

Shrek Terceiro (Shrek the Third)




Quando o primeiro Shrek foi lançado, em 2001, sua intenção era, claramente, desafiar a supremacia da Pixar nas animações por computador. O intento foi alcançado a ponto de, hoje, não se poder definir claramente quem possui a melhor técnica de animação. Mas, nos roteiros, a coisa muda. A Pixar ainda está à frente, dividindo o páreo com a Dreamworks e vendo a Blue Sky logo na cola. Shrek Terceiro é a tentativa do estúdio de Steven Spielberg de levar as animações um pouco adiante.

Se antes o público era claramente o infantil, primeiro, e o adulto logo depois, com as inúmeras referências na trama, agora temos uma animação mais, por assim dizer, adolescente. Os temas tratados neste vão confundir um pouco os pequenos, mas sem deixar de ser divertido. A história ficou um pouco mais complexa também, com divisões no roteiro e ação simultânea em duas partes. Claro, ainda estamos falando de uma animação voltada, no final das contas, para o público geral, portanto não esperem inferências filosóficas e grandes assuntos.

Mas esperem, sim, muitas risadas. Como sempre nessa série, os adultos que conhecem um pouco mais de cinema, música e livros vão se divertir um pouco mais com as referências - um aviso: referências musicais, só na versão legendada. Os talentos vocais também são muito bem aproveitados - novamente, a observação só é válida para o filme com o som original - inclusive o do "cara novo", Justin Timberlake como o Arthur.

Voltando ao ponto da dublagem, mesmo entendendo que há muita qualidade nas dublagens, se puder, assista na versão original. Aproveita-se as músicas, os trejeitos vocais totalmente coerentes com os personagens - para quem nunca ouviu as vozes originais, ou não presta muita atenção ao inglês, Shrek tem o sotaque de um irlandês do interior, enquanto que sua contraparte, o Príncipe Encantado, fala com a pompa e o ovo na boca da corte inglesa, para citar alguns exemplos. Não ouça, entretanto, as críticas negativas que já surgem. Se gostou dos dois anteriores, vá e divirta-se.

16 junho, 2007

Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (Pirates of the Caribbean: At World's End)




O cinema já se inspirou em livros, músicas, histórias reais, histórias em quadrinhos, pinturas e até em videogames. No início deste século, um certo Gore Verbinski, diretor com apenas três filmes no currículo e nenhuma linha criativa aparente - o bobo Um Ratinho Encrenqueiro, a interessante comédia A Mexicana, e a versão norte-americana do terror japonês O Chamado - atendeu o produtor Jerry Bruckheimer na criação do primeiro filme inspirado em um parque de diversões. Ou um pedaço dele, para ser mais exato. Assim, nasceu Piratas do Caribe, fruto de um dos megabrinquedos da Disney. Inicialmente, o nome seria somente esse, mas resolveram aplicar um "sobrenome" caso viesse a fazer sucesso e, assim, incentivasse continuações. Dito e feito. Agora temos o final da trilogia - sempre ela - com No Fim do Mundo.

A primeira parte, por assim dizer, não tinha muitas pretensões além de ser divertido. Nesse ponto sobressaiu-se o ótimo Jhonny Depp como o pirata Jack Sparrow. Ele foi o grande foco do segundo, e é também o grande trunfo deste terceiro. Para fechar a série, decidiu-se por uma história um tanto mais complexa, que começou a ser filmada antes de ter o roteiro finalizado. As três horas são demasiadamente longas, especialmente porque há vários trechos lentos - e isso fica ainda mais evidente lembrando-se da energia sem fim da segunda parte.

Mas há Jhonny Depp, e o também ótimo Geoffrey Rush, e vários outros bons atores. E há o humor. É o que impede que o filme naufrague antes do seu final, o humor às vezes fino, às vezes escrachado, que nos mantém sentados à espera da solução daquela teia que o roteiro se tornou. Não é ótimo, está longe disso. Também deixa um pouco a desejar comparando-se com seus antecessores. Mas é o suficiente para alguma diversão, e isso, no final das contas, é o que importa. Mas bem que poderíamos ter um pouco mais de ação, um pouco menos de duração, e bem mais comédia.

Não Por Acaso




O cinema brasileiro ainda sofre de um certo preconceito, adquirido pelas produções de qualidade discutível de alguns anos atrás, especialmente as que abusavam da nudez e dos palavrões, marca do nosso cinema entre as décadas de 70-80. Esse preconceito atinge especialmente a nós mesmos, brasileiros. Mas, ainda que muitos brasileiros ainda torçam o nariz para as nossas produções, a qualidade do nosso cinema subiu espantosamente. Temos, ainda, algumas marcas a vencer, especialmente a do cinema-social, insistente nos roteiros nacionais. Não Por Acaso é uma agradável surpresa nesse meio. Um filme brasileiro que se passa em uma grande cidade não nomeada - mas que todos sabemos ser São Paulo - e conta uma história sem apelações para nossos vários problemas.

O que mais marca essa película é que ela poderia, tranquilamente, ser uma procução européia, ou mesmo norte-americana independente. O roteiro, a fotografia, os movimentos de câmera, a semi-linearidade, tudo está arranjado de maneira a ser um filme de apelo universal. O mote de um mesmo acontecimento que influencia a vida de pessoas que não se conhecem não é nova, e por isso mesmo permite ao diretor e roteirista Philippe Barcinski - brasileiro, apesar do nome - trabalhar mais em estilo que em forma. O diretor é conhecido apenas dos cinéfilos frequentadores de festivais de cinema, que já o viram com seu excelentes curtas Palíndromo e Janela Aberta.

Além da linguagem bem utilizada, ele também se mostra um bom diretor de atores. O elenco ajuda, sim, com atuações bastante competentes de Rodrigo Santoro, Letícia Sabatella e dos também quase desconhecidos Leonardo Medeiros - mais frequente nos filmes "de festival" do que em produções mais populares - e Branca Messina. Barcinski consegue dar o peso certo a cada um, fazendo um filme que quase não tem personagens principais. É o acontecimento fatal que realmente presta o papel principal, e a belíssima cena que mostra a diferença entre dois segundos na vida daquelas pessoas é especialmente notável.

Preciso me corrigir agora. Quando disse "apelo universal", estou pensando mais nos amantes do bom cinema do que no público geral, mais interessado na superficialidade e nos efeitos especiais. Mas Não Por Acaso cumpre muito bem o seu papel de chamar um pouco mais a atenção dos que realmente gostam de cinema para o nosso mercado, e imagino que isso será especialmente verdade lá fora. Felizmente, é preciso também notar que ao mesmo tempo em que estamos formando bons cineastas, também estamos formando bons cinéfilos, a julgar pela crescente visitação aos festivais e ao fato de que este filme apareceu nas salas comerciais na mesma semana de alguns blockbusters.

03 junho, 2007

Zodíaco (Zodiac)




Filmes sobre assassinos seriais são comuns. Alguns poucos são muito bons, a maioria está relevada ao Supercine no sábado à noite. Zodíaco poderia entrar para a lista menor. Poderia, porque, na verdade, não é um filme sobre um assassino serial. Pode parecer estranho, já que ele contém todos os ingredientes. Mas, na verdade, Zodíaco é sobre outro personagem, Robert Graysmith, o cartunista que escreveu o mais completo livro sobre o assassino real.

A nova fita de Dadiv Fincher mostra que, sim, ele é bom. Dirigiu poucos filmes, mas conta com pelo menos dois dignos de nota, Seven - sobre um assassino serial, vejam só - e Clube da Luta. Pode-se dizer que Fincher não acertou de primeira, com seu Alien 3. Mas, depois disso, com mais ou menos sucesso, tem feito bons trabalhos. Se você não conhece os outros filmes dele, recomendo. Neste, ele mostra-se competente em ambientar o filme, que ultrapassa décadas, e dirige bem seus atores, talvez um de seus melhores termômetros.

A escolha do elenco, aliás, é algo a ser comentado. São tantos nomes bons, e todos atuando com qualidade, que é difícil separar alguns para comentar. De Jake Gyllenhaal no papel principal às pontas de Chlöe Sevigny e Brian Cox, a performance geral é, como disse antes, um bom ponto de avaliação para Fincher.

Como o filme se baseia em fatos reais, e na vida real o assassino nunca foi pego ou mesmo identificado positivamente, o filme também não resolve o caso. Mas calma, não estou estragando o final. Este, aliás, é um dos pontos que tira a fita da lista dos bons sobre assassinos seriais. O final, aqui, não chega nem a ser tão importante. O filme trata mais da obsessão do cartunista do que da obsessão do assassino. E neste ponto é preciso afirmar: somos contagiados pela obsessão, juntando as pistas na cabeça e sendo levados às conclusões do autor. Quando uma história consegue isso, pode-se dizer sem erro que é boa.