26 junho, 2011

Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris)


É impressionante que um diretor com 75 anos faça um filme por ano com tal qualidade. Mas não estamos falando de um diretor qualquer. Woody Allen, desde Match Point, parece ter renovado sua fonte de inspiração ao mesmo ponto do início da sua carreira. Inclusive, suas últimas três produções, incluindo esta, são agradáveis viagens ao Allen dos velhos tempos.

Meia-Noite em Paris traz de volta o personagem caricato, ansioso e levemente esquizofrênico que antes o próprio Allen interpretava. Aqui há como sempre uma mistura de comédia com drama, e aquela maneira de dizer algumas verdades que só um veterano das telonas consegue. O contraste entre os dias e as noites na Cidade Luz são bem explorados com os ângulos de câmera típicos do diretor.

No elenco, um Owen Wilson bem explorado como talvez só Wes Anderson tenha conseguido, explorando o lado cômico sem precisar ser exagerado. Suas contrapartes, Rachel McAdams e Marion Cottilard, são quase opostas em personagens e qualidade de atuação, com clara vantagem para a última. Aliás, a presença de atores franceses no elenco é sempre excelente, com destaques para Gad Elmaleh, que sem um único diálogo ganha suas cenas. Mas não podemos deixar de citar participações excelentes de Michael Sheen, Corey Stoll e Katy Bates.

A trama explora bem o ambiente cultural europeu do início do século XX, e um conhecimento prévio da época ajuda bastante a temperar o humor, mas não chega a ser obrigatório. Como um Woody Allen mais maduro, é um filme capaz de agradar um público mais amplo tanto quanto os cinéfilos. Excelente e imperdível.

15 junho, 2011

Kung Fu Panda 2 (Kun Fu Panda 2)


Hollywood é, antes de tudo, um negócio. Então, se um filme fez sucesso, é bastante provável que uma continuação será feita. Se isso pode gerar resultados péssimos como Se Beber Não Case 2, felizmente no mundo da animação a perda é um pouco menor - salvo no caso do Shrek, que foi piorando até ser salvo pelo número 4. Kung Fu Panda 2 é a típica continuação feita para arrancar nosso precioso dinheirinho: a mesma fórmula, o mesmo ritmo e, como tudo hoje em dia, 3D.

A direção saiu das mãos de Mark Osborne e John Stevenson para as de Jennifer Yuh, que foi uma das artistas responsáveis pela história no primeiro, e que antes disso só tinha experimentado dirigir em um episódio da série animada Spawn. O visual do filme enriqueceu com mais cenários e uma iluminação mais atenciosa. E isso é quase tudo que há de evolução.

Claro, continua divertido, e muito. É impressionante a qualidade da animação, especialmente nas cenas de luta, e o humor é bem afiado - o suficiente para fazer adultos rirem também. A história, que agora gira em torno da dualidade salvar o kung fu e conseguir a paz interior, tem as moralidades de sempre, mas sem ser muito piegas. Pela lista de dubladores originais, pode-se imaginar que as atuações são muito boas - infelizmente este crítico não assistiu a versão legendada. Mas como o Brasil é um dos melhores dubladores do mundo, a qualidade da versao nacional é muito boa. Típico filme de férias, abrindo a temporada dos grandes lançamentos do verão no hemistério norte, Kung Fu Panda 2  é um bom programa para quem tem crianças por perto - ou para quem secretamente quer alimentar a criança interior.

13 junho, 2011

X-Men - Primeira Classe (X-Men: First Class)



Num não tão longínquo 2000 estreava a primeira adaptação na nova geração de filmes baseados em quadrinhos da Marvel, o primeiro X-Men. Como sempre, críticos e fãs divergiram quanto ao embate entre qualidade cinematográfica e fidelidade à origem da história. Três continuações depois, nem todas bem sucedidas, caímos na quase inevitável “prequência”, o filme que mostra o início de tudo. Para o desespero ds puristas dos quadrinhos, a First Class desses X-Men não tem Cíclope, Jean Grey, Iceman e Arcanjo.

Felizmente, há qualidades. A história, baseada nos diferentes começos de Charles Xavier e Eric Lansherr, e na relação entre eles, usa de forma inteligente eventos reais da época da Guerra Fria em seu auge. Usa bem os efeitos especiais, e também o elenco.

Inicialmente, este filme seria sobre Magneto. O alemão Michael Fassbender dá um tom bastante convincente à tortuosa história do personagem, em uma atuação compatível com seu talento pouco utilizado. O mesmo não acontece com Charles Xavier. Apesar de bem interpretado por James McAvoy, a personalidade não combina em nada com o que já se viu do Professor X, mesmo pensando em como ele seria como um jovem adulto. As atuações, de forma geral, estão bastante boas. Infelizmente, a performance de Nicholas Hoult é sublimada pela péssima maquiagem do Fera - especialmente tendo como referência p excelente resultado do mesmo personagem no terceiro X-Men.

É uma pena que em um filme com tantos bons detalhes, sejam os ruins que sobressaem. Mas é fato. A impressão geral que se tem ao final da fita é algo como “até que é legal, mas o que fizeram com o Fera?”. Esse e outros pontos falhos acabam dando um produto final regular, ainda que muito superior ao filme solo do Wolverine que o antecedeu.

10 junho, 2011

Eu Não Quero Voltar Sozinho

Nunca tinha me passado pela cabeça usar este espaço para promover alguns curta-metragens, que você pode assistir aqui mesmo no blog. Pois hoje deparei-me com o belo e sensível Eu Não Quero Voltar Sozinho, curta de Daniel Ribeiro premiado em vários festivais nacionais e exibido também lá fora.

O filme, em pleno 2011, foi censurado no Acre, onde a Assembleia Legislativa proibiu sua exibição na escola Armando Nogueira, esta semana. Sem debate, simplesmente desqualificaram a produção, o que gerou uma carta de repúdio que você pode ler na íntegra aqui.

Assista e veja, além do excelente trabalho de Daniel Ribeiro, o quanto nossa sociedade precisa evoluir.


06 junho, 2011

Se Beber Não Case 2 (The Hangover 2)




Quando Se Beber Não Case saiu em 2009, o ritmo louco e o aparente nonsense alinhado a um ritmo de comédia como há muito não se via conquistou o público. Mas há casos em que não é possível repetir a fórmula, e este é um deles. Saber que haveria uma continuação já era prelúdio para olhares tortos por parte da crítica. E tudo se confirma assim que o filme se desenrola na tela.

A produção nem mesmo se esforça em tentar evoluir um pouco. Ao contrário, a própria construção é exatamente a mesma, o mesmo tipo de apresentação, os mesmos ângulos, os mesmos cortes. Muito pouco foi acrescentado, e tudo o que há de diferente só torna o filme ainda pior.

Agora, misturado ao mistério da ressaca que os personagens devem descobrir, juntaram-se cenas extremamente apelativas - desnecessárias, como o primeiro bem prova. E só. Todo o resto é cópia do original piorado. Sim, há algumas cenas engraçadas, mas tudo poderia ter sido mais em feito - ou, pensando melhor, não deveria ter sido feito. Os talentos envolvidos na produção certamente poderiam ser direcionados para um material original, capaz de, ao menos, aspirar superar o sucesso do filme de 2009.

Um Lugar Qualquer (Somewhere)



Quando Francis Ford Coppola abriu sua produtora independente American Zoetrope, a ideia era dar vazão aos talentos ocultos de cineastas desconhecidos, levando mais arte para o cinema norte-americano. Mas pedidos insistentes dos grandes estúdios - sem falar nas somas também grandes de dinheiro oferecidas a ele - acabaram por desviá-lo do objetivo inicial, e ele ficou mais conhecido por grandes produções como a série Poderoso Chefão e Apocalipse Now. Foi sua filha, Sofia Coppola, quem conseguiu, enfim, seguir o caminho que seu pai gostaria. Cineasta de ideias e estética próprias, em seu currículo só há, por enquanto, um filme que pode chamar-se de grande produção, Maria Antonieta. Os demais são todos um pouco estranhos ao público geral, seja por não chegar às salas comerciais, seja por não fazerem o estilo que agrada à maioria.

Sua última produção, Um Lugar Qualquer, é talvez o mais artístico dos seus filmes. Centrado todo em um único personagem, que é atormentado pelo que não acontece em sua vida, pela falta de perspectivas, o longa tem um ritmo lento, poucos diálogos, e diversas tomadas com vários segundos em um único foco. O suficiente para desavisados saírem da sala antes de terminar o primeiro ato.

Stephen Dorff interpreta o ator sem rumo com bastante eficiência, e as lentes de Sofia não falham em transmitir a angústia do personagem para o público - muitas das tomadas lentas são closes nele. O contraponto é feito pela excelente Elle Fanning - atriz tão boa quanto sua irmã mais famosa, Dakota - que espanta com o realismo com que faz a filha do ator. Uma boa sequência do filme a mostra conversando com um dos amigos do ator, interpretado por Chris Pontius, em um diálogo totalmente improvisado, excelente.

O roteiro é bem trabalhado para fazer com que o público preencha algumas lacunas, e termina exatamente no ponto em que a história precisaria mudar muito para funcionar. Infelizmente, são exatamente essas qualidades que espantam o público acostumado aos roteiros mastigados das produções hollywoodianas, o que faz com o que o filme fique restrito, ao menos no Brasil, aos poucos cinemas de arte, aos festivais, e às sessões cult que algumas redes ainda arriscam fazer.