27 janeiro, 2008

A Lenda do Tesouro Perdido - Livro dos Segredos (National Treasure: Book of Secrets)




Enquanto o novo Indiana Jones não chega, uma nova série nos lembra como são as boas aventuras de caça ao tesouro. A Lenda do Tesouro Perdido - Livro dos Segredos, recupera os personagens da boa investida da Disney no gênero, quase quatro anos atrás. Quando Indiana Jones despontou para o sucesso no longínquo 1981, não tardou para ser seguido pelos famigerados "genéricos" - sim, eles já existiam então. O mais famoso destes é a série de aventuras de Allan Quaterman, em um filme B que beira o ridículo, interpretado pelo feminino Richard Chamberlain. Um fiasco. Felizmente não se pode dizer o mesmo desta nova série.

A sequência é dirigida pelo mesmo Jon Turteltaub do primeiro, com o mesmo ritmo. As referências à história norte-americana continuam o mote e são ainda bem utilizadas, como também o roteiro recheado de perseguições, alta tecnologia e planos mirabolantes. O humor, novamente, é muito bem utilizado, e a principal marca do filme para diferenciá-lo do velho arqueólogo. Estão de volta Nicholas Cage, Justin Bartha, Diane Kruger e Jon Voight, todos muito bem. Ao elenco original, todo de volta, somam-se os peso-pesados Helen Mirren e Ed Harris, ambos excelentes como sempre.

Comparando este com o seu primeiro, há um pouco menos de surpresas, um pouco menos de referências históricas, um caminho um pouco mais curto para o tesouro, com menos contratempos. Resumindo, um pouco menos de diversão que o original. Mas isso ainda é bastante, o suficiente para valer o ingresso. Mas é bom que, para o quase certo terceiro, o roteiro traga algo de novo ou seja muito bem trabalhado. Ben Gates pode não ter o mesmo charme rude de Jones, nem o mesmo potencial para marcar gerações, mas ainda oferece distração à altura.

26 janeiro, 2008

Desejo e Reparação (Atonement)




É muito comum que diretores de cinema - especialmente os bons - tenham suas marcas de estilo. Às vezes é uma certa preferência por elementos dos anos 70 e 80, como no caso de Quentin Tarantino; outras vezes são detalhes e formas de trabalhar o roteiro, como Wes Anderson. Joe Wright tem a sua marca, já visível em apenas dois longas de sucesso. Sua preferência é por histórias com personagens femininas fortes, ambientadas em um passado recente, utilizando poucos diálogos e fazendo da fotografia quase um personagem. Desejo e Reparação, seu filme mais recente, tem a marca Wright.

O mote principal poderia nos levar a uma produção romântica blasé que seria pouco mais que tola. O tratamento do diretor - e também do roteirista Christopher Hampton - leva-nos a um envolvente drama com pinceladas de suspense. A fotografia é primorosa. Poucas vezes no cinema recente se viu uma utilização tão soberba da luz - ou uma ambientação tão cuidadosa, para abrangermos também o cenário e o figurino. Uma outra marca do diretor, o uso de uma cena particularmente longa que percorre todo um cenário deixando por alguns instantes os personagens de lado, é fantástica. A exemplo de Orgulho e Preconceito, seu filme anterior, essa cena é também a que determina o "início do fim", o ponto do qual devemos prestar especial atenção.

Wright é também excelente com seu elenco. A jovem Saoirse Ronan, que interpreta a imaginativa Briony quando criança, atua tão bem que podemos perceber a mesma personagem quando a excelente Vanessa Redgrave a mostra já bem mais velha. Uma pena que o mesmo não se pode dizer de Ramola Garai, que interpreta a personagem aos 18, e é a atuação mais fraca da fita. Keira Knightley e James McAvoy estão também ambos muito bem.

O filme é excelente e merece pouquíssimas ressalvas. Suas 7 indicações ao Oscar foram mais que merecidas, incluindo a atuação excelente de Saoirse e, claro, a fotografia, que é o ponto alto. Claro que há quem vá dizer que o filme se parece muito com o anterior do diretor, ou que a história não passa de um romance bobo. Mas é exatamente nesse ponto que precisamos defender o que ainda podemos chamar de sétima arte: a utilização inteligente e hábil dos aspectos particulares de uma linguagem é o que faz de Desejo e Reparação um deleite para os sentidos.

20 janeiro, 2008

Eu Sou A Lenda (I Am Legend)





Toda história pode ser contada de diversas maneiras, sob diversos prismas. Quando leram a sinopse de Eu Sou A Lenda, certamente muitos produtores pensaram estar diante de mais um daqueles filmes de monstros, em que um homem sozinho luta contra todos e salva o planeta no final. Na mão das pessoas erradas, tornaria-se exatamente isso. Felizmente alguém percebeu que uma história muito mais interessante poderia ser contada, colocou o roteiro no foco certo e entregou a um diretor competente.

Francis Lawrence tem um currículo curto, muito curto. Das 10 entradas no IMDb, uma está em pré-produção, outra apenas anunciada, há este filme e mais seis videoclipes. Sobra apenas um outro longa, seu primeiro: Constantine. Envolto em diversas críticas por pegar um personagem querido dos quadrinhos adultos e mudar não só sua região como sua aparência, sua transcrição recebeu elogios do próprio criador do personagem. Isso por si só já o tarimba como alguém que sabe fazer adaptações em uma história sem perder o seu sabor original. Para Eu Sou A Lenda ele, junto com os roteiristas e produtores, escolheram o caminho certo: o foco no homem que, inexplicavelmente, sobreviveu ao ataque de um vírus mutante e agora vive sozinho em Nova York tentando criar uma cura.

À exemplo de Tom Hanks em Náufrago, Will Smith consegue nos passar com habilidade a angústia de um homem que não tem outra companhia humana. Seu cachorro e alguns manequins que ele espalhou pela cidade distraem o suficiente para evitar que ele fique louco. Smith, que nasceu nos filmes de ação mas já mostrou uma boa performance nos dramas, sabe dosar bem o herói com o cientista assustado. A boa surpresa do filme é a brasileira Alice Braga, atuando bem em um papel importante, e falando um inglês muito bom.

Há o acerto de resistir à tentação de mostrar os humanos infectados que agem como vampiros, mas há também alguns erros. Fica a vontade de querer ver um pouco mais da história, algumas explicações a mais - como entender melhor a aparente sociedade que os infectados parecem ter desenvolvido que, ao contrário do que o personagem de Smith fala, mostram algum resquício de comportamento humano, com a presença clara de um líder. E também saber o que torna o cientista imune. Não chegam a ser problemas graves, já que a função do filme é apenas a boa e velha diversão despretensiosa.

12 janeiro, 2008

P.S. Eu Te Amo (P.S. I Love You)




Imaginem-se chegando ao escritório de uma grande produtora norte-americana para apresentar uma idéia de filme. Você começa dizendo que é um drama romântico levemente divertido, sobre uma mulher cujo marido morre de tumor cerebral e, antes de morrer, prepara uma série de cartas que serão entregues a ela ao longo do ano seguinte à sua morte. Se soou um tanto mórbido para você, imagine para o taciturno produtor atrás da sua cadeira, com mais algumas dezenas de roteiros para analisar. Há que se ter um forte argumento secundário para aprovar uma produção com esse mote. Aqui esse argumento chama-se Richard LaGravenese. Se o nome não lhe diz nada, é porque ele está mais acostumado a atuar em uma parte que, apesar de importantíssima no cinema, ainda é pouco notada. Ele é responsável pelo roteiro de algumas obras primas, como Pescador de Ilusões, As Pontes de Madison, O Espelho tem duas Faces e O Encantador de Cavalos. Em quase todos ele trata de temas tão ou mais propensos à interpretações nada boas, e em todos mostra que seu texto consegue levar a história para a direção certa.

Não é a estréia de LaGravenese na direção, nem é sua melhor incursão atrás das câmeras. Mas ele consegue imprimir um bom ritmo ao filme, e aproveitar mesmo as deficiências do seu elenco. Hilary Swank, no papel principal, mostra uma leve tendência a atuar além do que a história e o estilo de produção exigem. Quando ganhou seu primeiro Oscar, em 2000, falou-se muito sobre uma certa "maldição" do prêmio precoce, relembrando atrizes que ganharam a estatueta e nunca mais fizeram nada notável na carreira. Mas ela deu a sorte de encontrar Clint Eastwood em seu caminho, e com ele ganhou seu segundo Oscar em 2005 pelo extraordinário Menina de Ouro. Talvez por querer mostrar que ainda pode ganhar outro - e pode - ela passou um pouco do ponto aqui. Seu parceiro também. Gerard Butler está quase caricato demais como o irlandês de jeitos brutos mas profundamente romântico - imaginem-se novamente na sala do produtor dizendo "E para o papel do marido, pensamos naquele cara que fez o Rei Leônidas em 300". Já o elenco de apoio merece apenas elogios. Gina Gershon, Harry Connick Jr., Lisa Kudrow - a eterna Phoebe de Friends, em um papel bastante parecido - e, especialmente, Kathy Bates suportam Hilary e Gerard com primazia.

E o que soa estranho e mórbido passa levemente, com doses certas de humor e drama. O tipo de filme que as namoradas adoram e os namorados "engolem". Observando um pouco abaixo da superfície - não que a história seja muito profunda - encontramos uma bela maneira de fazer cinema sem compromissos. Um pouco de pipoca, algumas lágrimas e risadas, e alguns minutos agradáveis. Algumas vezes, é só isso que queremos ao entrar em uma sala de projeção.

05 janeiro, 2008

Meu Nome Não É Johnny




O filme Tropa de Elite, lançado oficialmente em outubro do ano passado - e extraoficialmente bem antes - jogou na cara dos brasileiros o papel que a classe média consumidora tem no tráfico de drogas. Com um timing quase perfeito, outra produção conta o outro lado da história, o caso dos próprios consumidores de classe média, e de um em especial para quem o vício tomou uma dimensão bem maior. Meu Nome Não É Johnny não tem o apelo chocante do seu quase primo, mas porque tem o foco mais fechado em seu personagem principal que na denúncia dos esquemas do tráfico.

O livro do primo de João Guilherme Estrella foi disputado por produtoras tão logo foi lançado. É uma história bastante atrativa, que poderia ser utilizada para fazer aquele velho estilo de cinema brasileiro que ainda insiste em se mostrar, e tentar mostrar a todo custo as mazelas do nosso país. Felizmente, caiu nas mão de Mariza Leão, que soube tratar bem a biografia, e nos mostrar o que há de mais interessante nela, que é o personagem principal e sua postura com relação a tudo que lhe aconteceu.

Selton Mello faz o papel principal, e praticamente passeia pela tela com uma desenvoltura que só faz provar sem sombra de dúvidas que ele é um dos maiores atores brasileiros - da sua geração e também fora dela. Seu misto de carisma e deboche foi elogiado pelo próprio João Estrella, é tudo que se precisa dizer. Contracenando com ele está Cleo Pires, em uma atuação que não consegue exatamente evoluir, e sofre um pouco com o talento exacerbado do seu companheiro de cena. Bem melhor está o resto do elenco, ancorado por nomes de peso como Julia Lemmertz, Cassia Kiss e Eva Todor - no inusitado papel da velhinha traficante.

O filme utiliza o humor de maneira muito inteligente, faz a história seguir o ritmo correto e se preocupa apenas em contar a história de João. Todo o resto - inclusive a denúncia que, sim, está presente - são secundárias, acontecem naturalmente. O diretor Mauro Lima, que até então não tinha produções tão abrangentes no currículo, mostra uma boa mão, deixando o roteiro fluir e aproveitando bem o clima anos 80 da fita. Mas, mais do que tudo que está escrito acima, Meu Nome Não É Johnny é uma muito bem vinda prova de que o cinema brasileiro pode amadurecer, que sabemos trabalhar uma boa história e utilizar temas pesados sem precisar apelar. Vale cada minuto na poltrona.