12 janeiro, 2008

P.S. Eu Te Amo (P.S. I Love You)




Imaginem-se chegando ao escritório de uma grande produtora norte-americana para apresentar uma idéia de filme. Você começa dizendo que é um drama romântico levemente divertido, sobre uma mulher cujo marido morre de tumor cerebral e, antes de morrer, prepara uma série de cartas que serão entregues a ela ao longo do ano seguinte à sua morte. Se soou um tanto mórbido para você, imagine para o taciturno produtor atrás da sua cadeira, com mais algumas dezenas de roteiros para analisar. Há que se ter um forte argumento secundário para aprovar uma produção com esse mote. Aqui esse argumento chama-se Richard LaGravenese. Se o nome não lhe diz nada, é porque ele está mais acostumado a atuar em uma parte que, apesar de importantíssima no cinema, ainda é pouco notada. Ele é responsável pelo roteiro de algumas obras primas, como Pescador de Ilusões, As Pontes de Madison, O Espelho tem duas Faces e O Encantador de Cavalos. Em quase todos ele trata de temas tão ou mais propensos à interpretações nada boas, e em todos mostra que seu texto consegue levar a história para a direção certa.

Não é a estréia de LaGravenese na direção, nem é sua melhor incursão atrás das câmeras. Mas ele consegue imprimir um bom ritmo ao filme, e aproveitar mesmo as deficiências do seu elenco. Hilary Swank, no papel principal, mostra uma leve tendência a atuar além do que a história e o estilo de produção exigem. Quando ganhou seu primeiro Oscar, em 2000, falou-se muito sobre uma certa "maldição" do prêmio precoce, relembrando atrizes que ganharam a estatueta e nunca mais fizeram nada notável na carreira. Mas ela deu a sorte de encontrar Clint Eastwood em seu caminho, e com ele ganhou seu segundo Oscar em 2005 pelo extraordinário Menina de Ouro. Talvez por querer mostrar que ainda pode ganhar outro - e pode - ela passou um pouco do ponto aqui. Seu parceiro também. Gerard Butler está quase caricato demais como o irlandês de jeitos brutos mas profundamente romântico - imaginem-se novamente na sala do produtor dizendo "E para o papel do marido, pensamos naquele cara que fez o Rei Leônidas em 300". Já o elenco de apoio merece apenas elogios. Gina Gershon, Harry Connick Jr., Lisa Kudrow - a eterna Phoebe de Friends, em um papel bastante parecido - e, especialmente, Kathy Bates suportam Hilary e Gerard com primazia.

E o que soa estranho e mórbido passa levemente, com doses certas de humor e drama. O tipo de filme que as namoradas adoram e os namorados "engolem". Observando um pouco abaixo da superfície - não que a história seja muito profunda - encontramos uma bela maneira de fazer cinema sem compromissos. Um pouco de pipoca, algumas lágrimas e risadas, e alguns minutos agradáveis. Algumas vezes, é só isso que queremos ao entrar em uma sala de projeção.

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