20 março, 2011

Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached)




Ivan Reitman está na memória de todos que viveram nos anos 80. Você talvez não conheça o nome, mas certamente já viu alguns dos seus filmes. Pode não ter sido os tolos Almôndegas - sim, existe um filme com esse nome - e Recrutas da Pesada; talvez o OK Irmãos Gêmeos, possivelmente algumas das suas comédias dos anos 90 como Junior. Mas, mesmo que não tenha assistido, você sabe que existiu Os Caça Fantasmas.

É bem verdade que nenhum outro comandado por Reitman tenha alcançado tanto sucesso. Não ajuda a sua preferência por comédias muito muito bobas como as citadas acima. Mas aqui ele muda um pouquinho de direção com uma comédia romântica bem trabalhada. Não é extremamente inteligente nem profunda, mas está alguns níveis acima de seus outros trabalhos.

O casal principal é formado por Natalie Portman e Ashton Kutcher. Portman sai da sua excelente performance em Cisne Negro, que lhe consagrou finalmente como atriz, para um papel bastante confortável para artistas como ela. Kutcher, bem, como sempre, parece representar a si mesmo. E leva uma lavada de atuação de Portman em literalmente todas as cenas. Aliás, não só dela como do elenco de apoio, que vai de Kevin Kline aos não tão conhecidos Ludacris e Jake Johnson. Ainda assim, guardadas as proporções artísticas, a química do par funciona.

Funciona por não ser pretensioso. Pelo contrário, parece que Reitman conhece bem seus limites e não arrisca fora da zona de conforto. Feito na medida para agradar as mulheres, não vai entrar para o panteão das comédias românticas excelentes, mas diverte.

12 março, 2011

O Besouro Verde (The Green Hornet)




Todo mundo que gosta muito de cinema, do Bruce Lee, ou de ambos, sabe que o começo da carreira cinematográfica do mais famoso lutador de artes marciais da 7ª arte começou em uma série dos anos 60 chamada Besouro Verde. A série começou no rádio dos anos 1930 nos Estados Unidos, virou série pela Universal nos anos 1940, ganhou um filme em 1941, e renasceu, finalmente, como a versão coestrelada por Lee. Diz a lenda que Lee não respeitava a coreofrafia indicada para suas cenas pois as considerava falsas, e fazia na hora os movimentos que acabaram indo ao ar - e também dando a Kato mais destaque que o personagem principal.

Depois de virar cult e aparecer em quadrinhos e referências inúmeras em diversos filmes - sendo a mais famosa na primeira parte do Kill Bill de Tarantino - um novo filme do Besouro Verde esteve em vias de ser produzido desde o início do século XXI, quando a Miramax adquiriu os direitos. Inicialmente Kevin Smith seria responsável pelo roteiro e direção - o que de cara agradou muitos fãs e desagradou outros tantos. Muitas reviravoltas depois, coube ao comediante Seth Rogen escrever o roteiro, e a Michel Gondry - novamente para alegria e tristeza do público cativo.

A dupla Rogen-Gondry, com o apoio de Evan Goldberg - que trabalhou em todos os roteiros que Rogen já escreveu - fez um bom trabalho. O quanto a história respeita as origens dos personagens nos detalhes não é importante - há que se atualizar a trama, afinal. É tudo muito divertido.

O próprio Rogen faz o papel título, bem mais magro do o usual, mas engraçado como sempre, conferindo um tom tragicômico ao herói que agora é totalmente destituído de habilidades. Seu ajudante Kato é interpretado por um desconhecido - por aqui - Jay Chou, um cantor bastante famoso na Ásia em seu primeiro papel ocidental. Ele faz uma bela homenagem a Bruce Lee, inclusive ganhando a tela em todo momento - é certo que, neste caso, o roteiro também trabalha para isto. O elenco é muito bem completo por Tom Wilkinson e pelo excelente Christoph Waltz, a última descoberta de Tarantino.

Ainda que você conheça o personagem, é muito difícil que tenha visto mais do que alguns pequenos trechos em documentários da versão do Bruce Lee, portanto desfaça a cara feia e assista esta nova versão. Para quem não conhece, é um divertido contraponto ao universo de heróis que só cresce nas telonas.

06 março, 2011

O Mágico (L'Illusionniste)




Jacques Tati foi um dos grandes cineastas franceses do começo do século passado. Escreveu, dirigiu e atuou em várias ótimas comédias, marcando presença como o impagável personagem Sr. Hulot. Quando morreu, em 1982, deixou uma pequena obra-prima roteirizada, que por muito tempo ficou esperando alguém corajoso - e talentoso - o suficiente para realizá-la. Coube a Sylvain Chomet transformar a história em uma bela e sensível animação.

Chomet fez O Mágico no mesmo estilo do seu excelente As Bicicletas de Belleville. Animação clássica, com pouquíssimas e bem feitas interferências de CG apenas nas partes em que seria mais penoso animar à mão, e praticamente um filme mudo. Ainda assim, cheio de diálogos subentendidos.

O personagem principal, o velho e um tanto decadente ilusionista de salão, foi feito à imagem e semelhança de Jacques Tati, e há outras diversas referências ao cineasta pelo filme. Como sempre no cinema europeu, o ritmo não é aquele a que nós, criados sob altas doses das produções norte-americanas, estamos acostumados. Mas não dá para imaginar a história feita de outra maneira. Além de muito bonita, a animação nos toca com muita facilidade. Imperdível.

05 março, 2011

Rango (Rango)




Um dos maiores estúdios de efeitos especiais, o Industrial Light & Magic, de George Lucas, uniu-se a um dos maiores canais infantis para, juntos, entrarem no mercado das animações longa-metragem por computador - que ainda é quase monopolizado por Pixar, Dreamworks e BlueSky. Começaram por Rango, uma paródia dos faroestes spaghetti dos anos 1960 estrelada por animais capitaneada por Gore Verbinski, diretor da série Piratas do Caribe, com roteiro de John Logan, que tem no currículo grandes produções como Gladiador, O Aviador e O Último Samurai.

Um belo time, portanto, absolutamente necessário para tentar qualquer briga que seja com os três grandes. E percebe-se que o esforço foi grande. Do lado da modelagem e animação, tudo ficou ótimo. Detalhes, iluminação, física, está tudo ali enganando nossos olhos direitinho. O roteiro, como fazem a Pixar e a Dreamworks, trabalha ao mesmo tempo a diversão para os pequenos e as sutilezas para os adultos - mas a balança pende ligeiramente para o lado destes.

Infelizmente, a maioria das cópias nos cinemas brasileiros será dublada, mas espera-se - e há alguma confirmação por parte das críticas nos sites de lá - que os trabalho de Johnny Depp, Isla Fisher, Abigail Breslin, Alfred Molina e Bill Nighy tenham sido muito bem feitos. O roteiro poderia ter sido um pouco melhor trabalhado - e é justamente esse o maior trunfo dos concorrentes. Faltou um pouco de continuidade e aprofundamento, a impressão é de que quer-se resolver tudo em apenas um punhado de cenas. Ainda não é páreo para os grandes, mas foi um bom começo.

02 março, 2011

Bruna Surfistinha




Fruto da então primeira onda de blogs muito famosos - além, claro, da sua própria semi-trágica história particular - Bruna Surfistinha foi também uma das primeiras web-celebridades brasileiras. Soube aproveitar muito bem o momento em que seu blog deixaria de ser interessante para “escrever” um livro. Muitas cópias vendidas e muito assunto discutido, era apenas questão de tempo até alguém resolver transformar em filme.

Coube ao publicitário Marcus Baldini estrear no cinema com a transcrição. Ele evita qualquer ousadia: não há nada excepcional na fita, inclusive as previsíveis cenas de nudez e sexo. A história é linear, com algumas interferências de narração que não chegam a compor um estilo, e o ritmo parece tirado de um manual de roteiro.

Nem no elenco houve ousadia. Inicialmente a modelo-e-atriz Karen Junqueira estaria no papel principal. Talvez por medo que a moça não desse conta do papel, passou à experiente Deborah Secco, que exagera tanto para o lado da antes tímida adolescente Raquel quanto para a transformada Bruna. Tanto que leva um banho de interpretação por todos os lados: Fabíula Nascimento, nas poucas cenas em que aparece, Drica Moraes, Cassio Gabus Mendes, todos superam se dificuldades a performance de Deborah.

Mas é, de qualquer forma, uma história interessante. Talvez, com mais coragem, pudesse se tornar uma peça muito melhor - difícil não pensar em algumas produções européias ou independentes norte-americanas que exploram o mesmo tema. É um filme apenas OK, o suficiente para chamar atenção apenas pela personagem.

Bravura Indômita (True Grit)




Os Irmãos Coen estão entre os melhores realizadores de cinema em atividade hoje. Olhando para o currículo deles, pode-se dizer que nunca erraram. Claro que nem sempre agradam o grande público, mas sempre fazem excelentes filmes. Bravura Indômita não foge à regra. Ao contrário do que se tem falado, não podemos considerar esta versão um remake. Há uma outra versão, filmada em 1969 com John Wayne no papel principal. Mas os Coen foram à origem da história, o livro de Charles Portis. Por isso, neste, o papel principal não é do marshall-pistoleiro Cogburn, mas da jovem Mattie Ross em busca de vingança.

Ela é interpretada por uma bela descoberta, Hailee Steinfeld, que infelizmente foi injustiçada no Oscar. Mas não por não ter ganho o Oscar, e sim por concorrer como Atriz Coadjuvante. É claro que deveria ter sido Atriz Principal - que ela não ganharia da mesma forma, mas seria ao menos mais correto com a importância do seu papel na fita. Ela não perde em nada, em interpretação, para o experiente Jeff Bridges e o talentoso Matt Damon, ou nenhum dos outros mal-encarados personagens bem retratados.

Mas Hailee não é o único trunfo do filme. Como em todas as produções dos Coen, há um delicado e dedicado trabalho cinematográfico que vai dos aspectos técnicos invisíveis ao público, à maestria em explorar os cenários naturais e recriados para nos transportar para o batido velho oeste norte-americano. E há, como sempre, o humor, presente mesmo na mais soturna das histórias filmadas por eles. Bravura Indômita é bem feito em vários níveis, capaz de agradar tanto o cinéfilo exigente quanto o frequentador eventual das salas de cinema.