26 maio, 2010

Fúria de Titãs (Clash Of The Titans)



Praticamente todo jovem adulto de hoje assistiu a um dos maiores clássicos da Sessão da Tarde, a versão de 1981 de Fúria de Titãs. A história épica de Perseu e sua luta para salvar a Princesa Andrômeda encantou crianças nas suas várias reapresentações na TV, com sua animação no clássico stop-motion de Ray Harryhausen – sem mencionar os cenários e figurinos mambembes da época. A intenção de refilmar Fúria de Titãs foi recebido com uma rara euforia – remakes não costumam ser bem vistos de cara. Mas, afinal de contas, não seria de todo ruim sermos novamente encantados pelo potencial incrível que a tecnologia de hoje permite a um filme desse tipo.

As primeiras notícias animaram ainda mais os ansiosos cinéfilos. Louis Leterrier, responsável pelo último Hulk e pelo ótimo Cão de Briga, é um bom nome para dar vida ao projeto. Sam Worthington, o atual queridinho de Hollywood, poderia encarar um Perseu eficiente. A primeira notícia ruim veio nas primeiras imagens reveladas da produção: Perseu tinha o mesmo cabelo curtíssimo militar que mostrou em Avatar. E pior, no meio de todos os outros personagens com madeixas generosas, como era de se esperar na época. Pouco depois, a segunda bomba: depois de terminadas as filmagens, resolveram transformar o filme em 3D. Ou seja: ele não foi filmado no formato, foi convertido, e isso não dá nem de longe o mesmo efeito. Descobrimos depois que o roteiro passou por diversas mudanças – no sentido de mudanças demais para estar bem resolvido. E aí só nos restava esperar a estreia.

O elenco tem nomes muito bons, que incluem Liam Nesson, Ralph Fiennes, Pete Postlethwaite e Jason Flamyng, junto a algumas novidades promissoras como Alexa Daval. Há, certamente, bastante aventura. Na verdade, há talvez aventura demais. Além do visual anacrônico, a motivação que faz Perseu afinal ir à luta não fica clara. A participação da personagem Io ainda mistura mais as coisas, ora uma espécie de oráculo ora uma brava guerreira à altura dos melhores homens de Argos. Enfim, uma série de confusões que consegue fazer de uma história mítica algo inverossímil, mesmo para o cinema.

E, nesse ponto, desejamos que o remake propriamente dito fosse mantido. Talvez uma simples atualização, tentando ater-se ao máximo ao roteiro original, tivesse funcionado melhor. Não deixa de ser divertido e visualmente deslumbrante mas, especialmente para quem ainda tem alguma lembrança da Sessão da Tarde, parece que algo se perdeu.

21 maio, 2010

Robin Hood (Robin Hood)



Existem basicamente dois motivos para filmes uma história que já tem uma porção de versões: fazer muito melhor, ou fazer uma versão muito diferente. Mas, notem, diferente mas ainda a mesma história básica. Ridley Scott optou por uma terceira via, contar a história que acontece antes da história. Antoine Fuqua tentou algo parecido em 2004 com o seu Rei Arthur. O resultado de Scott é também parecido, um filme sobre um personagem conhecido em que ele está irreconhecível.

Praticamente nenhuma das características clássicas de Robin Hood está no filme, salvo alguns personagens – na verdade, seus nomes. Nenhum problema nisso por si só, é possível mostrar de forma interessante a construção de personalidade do herói. O problema é que não há a formação da sequência lógica que se imagina num caso como esse, aquela sensação de “Ah, então é por isso que ele é assim”. O Robin Hood de Scott é um truculento soldado sisudo. Ou, em outras palavras, é o Maximus Decimus. Inclusive interpretado por um desmotivado Russel Crowe. Sua atuação parece ainda pior quando comparada ao trabalho de Max von Sydow e Cate Blanchett que, mesmo sem o roteiro permitir, conseguem alguma profundidade nos seus personagens. E também são os únicos a demonstrar algum esforço.

O filme tem um ritmo terrível, quebrado e cansativo, e conta uma história inverossímil de forma fraca. De realmente bom na fita, só a fotografia sempre muito boa nas produções de Scott. Comparado com as duas últimas versões da história dos homens de Sherwood, que se diferenciam pelos sobrenomes “Herói dos Ladrões” e “Príncipe dos Ladrões” e são ambas bastante aceitáveis, a nova parceria Scott-Crowe perde de longe.

18 maio, 2010

Querido John (Dear John)




Nicholas Sparks é um escritor com um pé no cinema. Dos seus 16 romances publicados, metade foram ou estão para ser filmados. Na última adaptação já terminada, A Última Canção, ele arrisca também como roteirista. Sparks escreve bem, com bastante foco nos personagens e gosto pelos conflitos causados por problemas de saúde, psicológicos ou desastres que levem à separação do casal. O tipo de história que costuma das bons dramas no cinema. Assim são Diário de uma Paixão, Noites de Tormenta e Um Amor para Recordar. Querido John chega às salas quase junto com A Última Canção, mas aparentemente partindo para caminhos opostos em trabalho cinematográfico.

Querido John é um drama típico. Estudantes e interessados em cinema conseguem reconhecer facilmente cada parte do roteiro, seguindo cada ato e cada marcação, cada alto e baixo da história. E, por isso mesmo, conseguem reconhecer também uma assustadora perda de ritmo no final do segundo ato, a ponto de podermos praticamente suprimi-lo sem perda. Assustador porque estamos falando do diretor Lasse Hallström, que nos deu os ótimos Regras da Vida e O Vigarista do Ano, e os excelentes Gilbert Grape e Chocolate.

Ele apostou em um elenco variado para Querido John. A mais nova candidata a Namoradinha da América, Amanda Seyfried, está presente. Depois de despontar em Mamma Mia!, começou a aparecer pouco a pouco em cada vez mais filmes. Fez Garota Infernal, este e em breve volta às telonas em Chloe – aqui chamado O Preço da Traição – e em Cartas a Julieta. Alternando entre o doce/inocente e o forte, ela faz sua Savannah andar conforme o ritmo do roteiro – inclusive perdendo-o naquele terceiro quarto. Channin Tatum foi uma escolha quase arriscada para o John do título. Sua atuação pouco treinada casou bem com o papel do militar sisudo e distante, mas cai por terra nas cenas em que tem que demonstrar emoção de fato. A pequena salvação vem de Richard Jenkins como o pai limítrofe, um papel difícil que ele preenche sem esforço. O resultado final é um filme que parece ter sido feito como um passatempo despretensioso para a equipe. E é justamente assim que deve ser assistido.

09 maio, 2010

Homem de Ferro 2 (Iron Man 2)




Quando o primeiro Homem de Ferro foi lançado, ainda não se sabia dos planos da Marvel de, mais à frente, filmar Os Vingadores. Então as pequenas referências – e a grande referência final – foram recebidas com entusiasmo pelos fãs dos heróis ao redor do mundo. E o melhor: o filme, por si só, mesmo para quem não era familiar às referências, era excelente. De lá para cá, a história se confirmou, já sabemos quem será o Thor e o Capitão América. Fazer um segundo Homem de Ferro precisava ser mais do que pegar carona nos ganhos financeiros. E isso só se faz continuando muito bem a história.

E continuam tão bem que o fazem do exato ponto em que o anterior acabou, acrescentando as pitadas certas de novas informações e algumas surpresas. A dupla Jon Favreau e Robert Downey Jr. Está de volta, com a mesma forma do primeiro, em uma fita com nem tanta ação quanto se espera de uma continuação de filme de herói. A trama continua bem trabalhada e contada. Acrescente a isso uma estonteante Scarlett Johansson, um eficiente Mickey Rourke e um sarcástico Sam Rockwell. Uma pena que não conseguiram manter Terrence Howard como Rhodey – apesar de que a troca por Don Cheadle trouxe ganhos na atuação.

Tudo o que havia no primeiro está no segundo, melhorado. Especialmente o humor, bem trabalhado no Tony Stark narcisista de Downey Jr. Evitaram, felizmente, a mal afamada transcrição para 3D – quando não há filmagem com duas câmeras, mas uma conversão feita em computador, depois – e reforçaram os efeitos especiais. Com isso, conseguiram o fôlego necessário para esperar pelo ainda distante 2012, quando supostamente o filme dos Vingadores será lançado. Mas, se quiser ter um gostinho do que está por vir, como sempre na última safra de filmes da Marvel, não saia antes de terminar os créditos.

05 maio, 2010

As Melhores Coisas do Mundo




Há tempos os cinéfilos admiram o cinema europeu e, por consequência, o de alguns países que optaram por seguir o modelo, como a Argentina. A grande qualidade das produções desses lugares está na capacidade de contar uma boa história a partir de muito pouco, de um mote que, substancialmente, não pareceria interessante. Ou, em outras palavras, contar histórias tão cotidianas que precisam ser muito bem trabalhadas para gerarem bons filmes, diversas vezes a partir de quase nada. Quando o Brasil optou por utilizar o cinema como veículo de conscientização social, expondo suas mazelas no afã de comunicar com um público que, na prática, não é o que entra nas salas para esse tipo de filme, perdeu a chance de entrar com o pé da arte no cenário mundial – entrou sim, mas aos solavancos. Felizmente, já a alguns anos, surgem vez por outra iniciativas que valem-se do princípio de simplesmente contar bem uma história, que pode ser a de qualquer um.

As Melhores Coisas do Mundo é um desses casos. Pelas mãos de Laís Bodansky, que nos deu a pérola Bicho de Sete Cabeças e, recentemente, o Chega de Saudade que é também representante da vertente que citei acima. Ela coloca na tela a história de um adolescente. Nem rico, nem pobre, mas de uma classe “média média” que raramente se encontra na ficção. Com as dúvidas e comportamentos típicos de um adolescente, e problemas também – exceto por um, não tão típico, mas que não é o centro da trama. O centro, aliás, é nada mais do que um retrato de um período curto de tempo na vida de Mano.

E isso funciona como um bom filme? Se for bem feito, como é o caso, sim. Nada de conflitos épicos, nada de problemas sociais, apenas uma história capaz de nos tocar a todos. Porque, não importa quais as diferenças entre as nossas vidas e a de Mano, quase todos fomos adolescentes com as mesmas dúvidas, comportamentos e problemas. Não é um filme de atuações espetaculares. Francisco Miguez, o protagonista Mano, ainda precisa de algum trabalho, e também o seu irmão na trama, o ídolo teen brasileiro do momento Fiuk. Grandes nomes como Denise Fraga e José Carlos Machado, os pais de Mano e Pedro, são coadjuvantes no filme da mesma forma como os pais devem se sentir na vida dos filhos jovens. A turma da escola como um todo segue a mesma qualidade.

Mas, ainda assim, há um quê de documentário. Se não pelas atuações, mas pelos acontecimentos. Nada de muito trágico – exceto pela visão dos próprios adolescentes – acontece. É um retrato que poderia muito bem acontecer ao seu filho. Retiradas as referências tecnológicas que só hoje são possíveis, poderia ter acontecido a você. E é nas lembranças, ou na relação íntima que conseguimos rapidamente fazer com Mano e sua turma, que o filme se sustenta. É excelente vermos As Melhores Coisas do Mundo não só no circuito comercial, mas com bons números e expressão na mídia. É um sinal de que, ao menos no cinema, estamos amadurecendo.

01 maio, 2010

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland)




Quando os primeiros boatos sobre uma versão de Alice no País das Maravilhas a ser filmada por Tim Burton saíram, cinéfilos do mundo todo refestelaram-se. É, afinal, um encontro ao qual se pode dar a rara qualificação de “mais-que-perfeito”. Depois do desenho da Disney e das várias versões filmadas – a maioria motivo de vergonha alheia – a história fantástica mais conhecida do mundo merecia um filme à altura, e ninguém melhor para levar os devaneios de Lewis Carrol apropriadamente para a telona que Burton. O boato virou notícia, as primeiras imagens começaram a aparecer, então os trailers, tudo ótimo, tudo parecendo levar ao que esperávamos que íamos ver. Entendemos que não seria, afinal, a história original – ou uma mescla dos livros Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho, como grande parte das produções anteriores – mas sim uma espécie de continuação, uma Alice mais velha voltando a Wonderland.

E, de fato, o Alice de Burton é tão fantástico quanto se esperava que fosse. Colorido quando se deve, sombrio quando convém, com o ritmo que o diretor sempre consegue segurar, e mesmo aplicando muito bem os efeitos digitais que ele sempre evita – mas que aqui são indispensáveis. O elenco, então, não poderia ser melhor. Os eternos parceiros Johnny Depp, como Chapeleiro Maluco, e Helena Bonham-Carter como a Rainha Vermelha – e que na verdade tem os trejeitos da Rainha de Copas – estão excelentes. Mia Wasikowska desponta com Alice, especialmente contracenando com tantos nomes bons. E nos personagens animados, dubladores de peso – Stephen Fry como o Gato de Cheshire, Michael Sheen como o Coelho Branco e Alan Rickman como a Lagarta, entre outros bons nomes. Tudo isso bem comandado.

Mas, apesar dessas várias qualidades, e apesar mesmo de ser difícil apontar defeitos verdadeiros – deixando de fora a utilização do 3D, que não é das melhores – falta algo. O roteiro tem os traços característicos de Burton, mas tem também aquele “ranço” Disney, que algumas vezes tolhe o potencial de uma história. É isto, possivelmente, o que nos incomoda, as concessões que o diretor fez à produtora, tudo o que foi retirado e evitado. Ficamos com uma sensação de que faltou “mais Burton”.