05 maio, 2010

As Melhores Coisas do Mundo




Há tempos os cinéfilos admiram o cinema europeu e, por consequência, o de alguns países que optaram por seguir o modelo, como a Argentina. A grande qualidade das produções desses lugares está na capacidade de contar uma boa história a partir de muito pouco, de um mote que, substancialmente, não pareceria interessante. Ou, em outras palavras, contar histórias tão cotidianas que precisam ser muito bem trabalhadas para gerarem bons filmes, diversas vezes a partir de quase nada. Quando o Brasil optou por utilizar o cinema como veículo de conscientização social, expondo suas mazelas no afã de comunicar com um público que, na prática, não é o que entra nas salas para esse tipo de filme, perdeu a chance de entrar com o pé da arte no cenário mundial – entrou sim, mas aos solavancos. Felizmente, já a alguns anos, surgem vez por outra iniciativas que valem-se do princípio de simplesmente contar bem uma história, que pode ser a de qualquer um.

As Melhores Coisas do Mundo é um desses casos. Pelas mãos de Laís Bodansky, que nos deu a pérola Bicho de Sete Cabeças e, recentemente, o Chega de Saudade que é também representante da vertente que citei acima. Ela coloca na tela a história de um adolescente. Nem rico, nem pobre, mas de uma classe “média média” que raramente se encontra na ficção. Com as dúvidas e comportamentos típicos de um adolescente, e problemas também – exceto por um, não tão típico, mas que não é o centro da trama. O centro, aliás, é nada mais do que um retrato de um período curto de tempo na vida de Mano.

E isso funciona como um bom filme? Se for bem feito, como é o caso, sim. Nada de conflitos épicos, nada de problemas sociais, apenas uma história capaz de nos tocar a todos. Porque, não importa quais as diferenças entre as nossas vidas e a de Mano, quase todos fomos adolescentes com as mesmas dúvidas, comportamentos e problemas. Não é um filme de atuações espetaculares. Francisco Miguez, o protagonista Mano, ainda precisa de algum trabalho, e também o seu irmão na trama, o ídolo teen brasileiro do momento Fiuk. Grandes nomes como Denise Fraga e José Carlos Machado, os pais de Mano e Pedro, são coadjuvantes no filme da mesma forma como os pais devem se sentir na vida dos filhos jovens. A turma da escola como um todo segue a mesma qualidade.

Mas, ainda assim, há um quê de documentário. Se não pelas atuações, mas pelos acontecimentos. Nada de muito trágico – exceto pela visão dos próprios adolescentes – acontece. É um retrato que poderia muito bem acontecer ao seu filho. Retiradas as referências tecnológicas que só hoje são possíveis, poderia ter acontecido a você. E é nas lembranças, ou na relação íntima que conseguimos rapidamente fazer com Mano e sua turma, que o filme se sustenta. É excelente vermos As Melhores Coisas do Mundo não só no circuito comercial, mas com bons números e expressão na mídia. É um sinal de que, ao menos no cinema, estamos amadurecendo.

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