29 março, 2009

Ele Não Está Tão A Fim De Você (He's Just Not That Into You)




Quando se fala de filmes para passar o tempo, as comédias românticas são as primeiras lembradas. Ele Não Está Tão A Fim de Você atende o gênero. Não é dos melhores do estilo – sim, há alguns filmes memoráveis e excelentes – mas é bom o bastante para aqueles momentos em que tudo que você quer é duas horas fora do mundo. Baseado em um livro que, por sua vez, foi baseado em um episódio de Sex and The City, é uma amostra de que as referências modernas podem chegar rápido aos cinemas – ao menos nos casos em que a história não dá tanto trabalho.

O diretor, Ken Kwapis, tem um longo currículo em seriados e outras comédias românticas, nenhuma especialmente marcante. Ele reuniu um elenco bastante interessante, que inclui nomes grandes como Jeniffer Aniston, talentosos como Jeniffer Connelly, e protagonizou com uma novata com potencial, Ginnifer Goodwin. Essa profusão de “Jenifers” está bem misturada a Scarlett Johansson, Bradley Cooper, Justin Long e conta com participações especiais de Ben Affleck e Drew Barrymore. É no elenco que está o melhor do filme. Bem conduzido e à vontade, divertem-se com seus diálogos medianos e levam a história adiante.

Há, como em todas as comédias românticas, uma ou outra cena especialmente engraçada e que fica na memória – neste caso, o discurso da personagem de Drew Barrymore sobre entrar em contato e ser dispensada por uma mesma pessoa através de sete modernos meios de comunicação. Para os atores, parece ter sido uma espécie de “interlúdio”, entre um trabalho maior e outro. Da mesma forma, para o público, pode ser visto assim. Depois de assistir Gran Torino e antes do Che de Soderbergh, vale uma pausa com um desses para relaxar.

21 março, 2009

Gran Torino (Gran Torino)




Há alguns anos, saindo para ir ao cinema, topei com meu pai no corredor de casa. Quando disse onde ia, ele perguntou que filme iria ver, e disse que era o novo do Clint Eastwood. Ele respondeu que não sabia que faroestes me interessavam. Era 2003, e o filme, Sobre Meninos e Lobos. Disse rapidamente a meu pai que Eastwood, há tempos, era muito mais que faroestes e Dirty Harry - não consigo me lembrar a última vez que soube que ele foi ao cinema. Você, leitor deste singelo blog, provavelmente sabe que um dos mais velhos cineastas em atividade - ele tem hoje 78 anos - é também um dos mais importantes. Eastwood não erra há algum tempo, não seria aqui que ele iria errar.

Gran Torino é espetacular. Fruto de anos de aprimoração cinematográfica, de um estilo sem muitas marcas mas ainda assim difícil de copiar, e do fato de que há um bocado de talento por trás. Já a algum tempo podemos dizer que vale a pena assistir qualquer coisa que Clint Eastwood faça, seja ele o autor do projeto ou apenas o diretor convidado. Neste, ele teve a difícil tarefa de impor um ritmo suave a uma história cheia de tensão - e ainda atuar nela como um velho ranzinza. É impressionante o número de vezes em que caimos na risada com este filme, mesmo sem ser uma comédia, e mesmo sabendo o que virá mais a frente. É algo que não se aprende na escola de cinema, só na da vida do cinema. Conseguir colocar a comicidade bem medida nos contrapontos culturais de um veterano de guerra norte-americano e seus novos vizinhos Hmong, e fazer desses mesmos contrapontos, mas desta vez de gerações, o ponto central da trama, não é para qualquer um.

Com um elenco principal formado de novos atores - Hmong e descendentes - Eastwood consegue, como sempre, atuações excelentes, incluindo aí a sua própria. Imagine você ser um jovem não-ator e contracenar com Clint Eastwood num papel nada amigável. Foram papéis difíceis, mas muito bem conduzidos, mesmo, e principalmente, nas cenas em que os diálogos são no idioma Hmong - aqui ele usa a experiência de ter dirigido um filme todo em japonês.

E isso tudo sem mencionar os aspectos técnicos, da excelente fotografia aos cenários bem trabalhados. Cada pedaço é bem cuidado, tudo é pensado como uma peça cinematográfica única, da forma como deve ser feito. Como sempre no caso de Eastwood, é um filmaço, sem ressalvas.

20 março, 2009

Pagando Bem, Que Mal Tem? (Zack and Miri Make a Porno)




Kevin Smith é um cineasta interessante. Desconhecido da maioria, mas ao mesmo tempo daqueles que, quando aparecem, nos dão aquela sensação de "já vi esse cara antes. E, de fato, ele está no cinema há um bom tempo, escrevendo, dirigindo e atuando. São dele as comédias O Império do Besteirol Contra Ataca, o interessante Dogma, o premiado Procura-se Amy, entre outros - não se espante se você nunca ouviu falar de nenhum deles. Como um bom cineasta de estilo, ele tem as suas marcas, e todas estão neste: a referência a Star Wars e histórias em quadrinhos, cenas com hockey no gelo, referências à cultura pop. E normalmente filma com amigos, filmes baratos, com linguagem marcadamente chula.

E, também, não costuma se preocupar muito em aprofundar o que quer que seja - mesmo em Dogma, que tem como tema a religião. Pagando Bem - mais um exemplo das clássicas péssimas traduções de títulos brasileiras - não é imperdível. Não é nem mesmo apropriado para alguns espectadores mais conservadores. Mas é muito divertido.

O elenco vai do seu eterno parceiro Jason Mewes às atrizes pornôs Katie Morgan e Tracy Lords, com Elizabeth Banks e Seth Rogen nos papéis principais. Ao mesmo tempo em que não há nada notável, também não há nada ruim. Fica muito claro como todos se divertiram fazendo o filme - o que pode ser dito também como uma marca de Smith. Quando os atores se divertem em cena, a comédia passa muito melhor.

O filme ganhou algum espaço na mídia depois que o cartaz original - que foi adotado no Brasil - foi censurado nos EUA, e trocado por um que mostra os personagens como bonecos-palito. Algumas cidades pediram que o final do nome original - Make a Porno - fosse retirado, e quase nenhum meio de comunicação dizia essa mesma parte. Polêmicas, provavelmente, involuntárias, já que não chegaram a ser aproveitadas. Smith não tem pretensões de fazer um filme combativo em forma de comédia. Ele quer fazer você rir, com situações inusitadas e diálogos intransigentes. Melhor que as comédias pastelão comuns, e só. O suficiente.

08 março, 2009

Watchmen - O Filme (Watchmen)




Zack Snyder conseguiu de novo. É uma das primeiras coisas que nos passa pela cabeça depois de assistir Watchmen, logo depois de "fantástico". Quando a HQ original foi publicada - no final da década de 80, inclusive no Brasil - Watchmen foi celebrado como um dos melhores quadrinhos já feitos, título que mantém até hoje. Utilizando as figuras de super-heróis, introduziu o tipo de linguagem, ambiente e progressão que, até então, apenas os quadrinhos alternativos adultos tinham. Escrito por um dos nomes da "tríade sagrada" da nona arte, Alan Moore, a série ronda o cinema praticamente desde que foi lançada, já tendo passado por vários roteiros, elencos e diretores - para citar apenas alguns que poderiam também fazer um ótimo trabalho, foram cotados Terry Gilliam e Darren Aronfosky. Depois de muitas rodadas, e depois que os produtores viram o que Snyder fez com 300, o filme saiu do papel.

E em grande estilo. Gilliam chegou a dizer que a história era "infilmável" e propôs uma série cinematográfica com no mínimo 5 horas. Snyder espremeu o denso conteúdo em 163 minutos e, claro, deixou algumas coisas de fora. Mas, como em 300, o essencial se manteve, o suficiente para fazer a história rodar sem problemas para aqueles que nunca leram a graphic novel. Ele teve algumas vantagens também. Comparando com 300, Watchmen, a HQ, não é tão bonita, o que permitiu que ele levasse um estilo visual mais radical, com o forte contraste que já tinha usado em 300, e também com a sua técnica de cenas de ação com breves pedaços em slow motion.

O elenco não teve nomes muito grandiosos. Poucos deles já foram protagonistas, e os poucos em filmes menos comerciais - talvez à excessão de Billy Crudup, que está quase irreconhecível como Dr. Manhattan. A escolha, entretanto, foi excelente. Não apenas parecidos fisicamente com seus personagens, as boas atuações - não ótimas - de todos permite o que é difícil em filmes que mostram equipes, que é ninguém roubar demais a cena, essencial num filme que tem que contar tanto em tão pouco tempo.

Claro, há lacunas. Na graphic novel, podemos ler vários trechos do livro que é apenas citado no filme, além de conhecer melhor a origem dos personagens e outras histórias paralelas. Dizem que a versão que será lançada para venda conterá uma edição inédita com mais de 3 horas de duração. Mas isso agora não tem importância. Para o cinema, Snyder não poderia lançar sua versão extra longa, e teve que fazer escolhas que, tudo indica, foram as corretas. Alan Moore já teve várias outras histórias adaptadas, como Do Inferno, A Liga Extraordinária e Contantine. Este último, junto com a versão ruim dos irmãos Wachowski, fez com que ele "desgostasse" do cinema, a ponto de não querer ser citado nos créditos. Quem sabe se ele resolver assistir Watchmen aconteça como outro da tríade, Frank Miller, que declarou divórcio da sétima arte mas foi reconquistado a ponto de ter lançado já um filme em que ele mesmo dirige.

07 março, 2009

Quem Quer Ser um Milionário (Slumdog Millionare)




É uma pena que comparem Quem Quer Ser um Milionário com o nosso Cidade de Deus, e também que critiquem como a idealização da pobreza, ou a "pornografia da miséria". Se você leu ou ouviu algo do gênero, esqueça. Concentre-se nos elogios, e mesmo assim vá ao cinema sem nenhuma expectativa. Ao menos tente. Este é provavelmente o melhor filme que você vai assistir este ano. Mesmo fugindo de vários padrões conhecidos, mesmo utilizando uma linguagem um tanto estranha, é sensacional, talvez exatamente por isso.

Danny Boyle, o diretor, é bem conhecido dos cinéfilos por sua qualidade e por sua inconstância. Ele foi o responsável pelo bombástico Trainspotting, pelo excêntrico Cova Rasa, pelo terror Extermínio, pela ficção científica Sunshine, pelo simpático Por Uma Vida Menos Ordinária e pelo comercial A Praia. Com um currículo tão bom quanto variado, é o tipo de diretor que sempre deixa a pergunta do que fará depois. E não foi um espanto tão grande quando ele resolveu fazer um filme indiano. E aqui ele mistura ingredientes da sua carreira com muito bom gosto, conseguindo ainda assim ser bastante original.

O elenco é todo indiano, o que significa desconhecido para a imensa maioria - ainda que a indústria cinematográfica indiana seja a segunda maior do mundo. É difícil apontar alguém que se sobressaia. Dos novatos - as crianças protagonistas eram de fato da favela de Mumbai - aos adultos famosos por lá - Irrfan Khan, que faz o Inspetor de Polícia que conversa com o protagonista, é um dos maiores atores indianos - todos se saem bem, naquele estilo em que é difícil perceber a atuação. Boyle imprimiu um ritmo intenso à produção, e praticamente não há cenas fáceis.

Colorido, movimentado e às vezes cruelmente realista, Boyle também não se preocupou muito em mostrar a multifacetada cultura indiana, e manteve sua história às margens, usando apenas o que seria coerente. Não acompanhou o padrão das produções indianas, exceto pela belíssima homenagem a Bollywood nos créditos finais. Foi levemente caricato no maniqueísmo, mas a história já existia. Quem Quer Ser um Milionário é, acima de tudo, uma história de amor, mas disfarçada por vários outros gêneros. E totalmente digna de todos os prêmios que tem recebido.

04 março, 2009

Dúvida (Doubt)




Dúvida é o tipo de filme que parece que foi talhado à perfeição. De uma força espantosa, que vem de múltiplas características da produção, é um caso raro de cinema muito bem utilizado. E utilizando uma história que veio do teatro, onde também amealhou admiradores. O responsável, tanto pela peça quanto pelo filme, é John Patrick Shanley, que escreveu e dirigiu ambos os formatos. Um nome não muito conhecido aqui, Shanley só dirigiu um outro filme, a comédia romântica Joe Contra o Vulcão - o primeiro filme em que Tom Hanks e Meg Ryan atuam juntos.

O roteiro, por si só, já é de um vigor incomum. A dúvida que o título trata aparece o tempo todo, inserida em um crime que nunca é dito, e nem precisa. Somos habilmente levados a acreditar ora em uma versão, ora em outra, e cada cena tem uma surpresa para apresentar, mostrando que o autor esmerou-se em aprofundar tanto quanto pode para nos deixar extasiados mas, ao mesmo tempo, sem uma opinião formada.

Dúvida é também um espetáulo de atuação. Dois nomes gigantescos, Meryl Streep e Phillip Seymour Hoffman, em atuações praticamente impecáveis, como acusador e acusado. E dois nomes não muito conhecidos, Amy Adams e Viola Davis, também dando um show de interpretação. Viola Davis, em apenas uma cena, consegue o que muitos não atingem em uma carreira inteira. Não é à toa que todos foram indicados para praticamente todos os prêmios da indústria.

Parece que tudo em Dúvida foi feito com esmero. Os diálogos excelentes, a produção bem cuidada, a iluminação sombria, e o roteiro irreparável. Com apenas esse filme, Shanley já entra no hall da fama. É daquelas produções que nos fazem sair do cinema extasiados. Não se preocupe, ao assistir, em descobrir a verdade. No filme como na peça, Shanley disse apenas ao ator interpretando o Padre Flynn o que de fato aconteceu, e a dúvida é o fio que costura essa bem amarrada história.

01 março, 2009

Alguém Que Me Ame De Verdade (Arranged)




Apresentar diferenças culturais no cinema é sempre complicado, mesmo que seja também sempre interessante. Incluir nisso uma profundidade um pouco maior na religião já começa a ser um jogo perigoso. O que dizer, então, de duas culturas e religiões diferentes, e não só isso, em opostos temáticos, por assim dizer. Pois Stefan Schaefer resolveu escrever a história de duas mulheres, uma judia ortodoxa e outra muçulmana, que dividem a mesma sala de aula como professoras e o mesmo problema nas respectivas tradições, o casamento arranjado.

Stefan, cineasta independente, uniu-se à Diane Crespo, colega em algumas produções, para comandar uma excelente visita a dois mundos bastante diferentes. O tratamento foi bem feito, porque não há grandes discussões sobre os motivos de tal tradição - ambas as personagens optaram por seguir as suas - e, ao mesmo tempo, não há também muita religião. Acompanhamos as duas nos seus dilemas e na amizade que surge quase por acaso. Há, na verdade, uma leve tentativa de corroborar as escolhas das duas, com demonstrações rápidas e caricatas das opiniões contrárias - o único ponto em que, talvez, valesse uma revisão no roteiro.

Nos papéis principais, as desconhecidas Francis Benhamou e Zoe Lister Jones, respectivamente como a muçulmana e a judia, ambas muito bem, representando as religiões com bastante cuidado. Elas são acompanhadas por um ótimo elenco de apoio, com alguns papéis difíceis como o pretendente super tímido de Rochel. Alguém Que Me Ame de Verdade é um filme sem exageros, mas bastante eficiente na sua simplicidade. Apesar do final feliz um tanto fácil, é jovial, divertido e delicado, e mais um exemplo de que boas histórias, contadas da forma certa, rendem bom cinema.