21 dezembro, 2009

Avatar (Avatar)




É comum que um filme em que se gastou muito dinheiro na produção faça uma extensa campanha promocional. E, em tempos de mídias sociais e ações interativas, é comum que use-se de artifícios cada vez mais criativos para fazer com que o filme seja não apenas esperado, mas ansiado - e Dark Knight é possivelmente o melhor exemplo disso. James Cameron e sua equipe, para promover o mais novo filme dirigido por ele, e o primeiro desde Titanic, fez, como se esperava, uma vasta campanha de marketing. Mas, ao contrário dos outros que mostram pequenos trechos e contam detalhes apimentados da trama, que fazem os espectadores contorcerem-se até que possam finalmente assistir o filme, eles optaram por bradar os atributos de inovação que o filme supostamente trazem, anunciando uma “nova forma de fazer cinema”, “uma experiência completamente nova em assistir filmes”, e marcando a data em que o cinema não mais poderia ser feito se não usasse 3D e outras tecnologias que o próprio Cameron teria ajudado a desenvolver. Muito antes de qualquer cena do teaser trailer ser divulgada, essas expressões já estavam na internet sendo repetidas à exaustão por todos. Fizeram uma “estreia do trailer” e outras ações para convencer, especialmente a crítica, de que o Avatar era mesmo tudo isso. E, depois da estreia, parece que todo o barulho funcionou, e a crítica está quase toda embasbacada.

Quase. Vou tentar ser o mais justo e imparcial possível aqui. E, fazendo justiça, a produção é excelente. Se levarmos em conta que praticamente nenhum cenário é real, e que a animação por computador toma quase todo o filme, é de fato espantoso. Os personagens digitais – muitos, diga-se de passagem – são praticamente uma obra prima, em modelagem e na perfeição dos movimentos, inclusive e especialmente os faciais. A complexidade de algumas cenas de ação, e também de alguns trechos dramáticos, é imensa, e se pensarmos que em pouquíssimos momentos nos damos conta de que tudo o que estamos vendo é resultado de criações digitais, é realmente uma evolução e tanto no cinema. Mas, voltando à realidade, nada disso foi de fato criado por Cameron. Toda a parte de animação digital foi feita pela Weta, a produtora de efeitos criada por Peter Jackson especialmente para O Senhor dos Anéis – que espantou o mundo com um Gollum excepcionalmente realista, e um King Kong talvez ainda melhor. A captura de movimentos, por sua vez, é ideia de Robert Zemeckis, que a usa desde O Expresso Polar. Mas, sim, Cameron levou a tecnologia a um ponto que Zemeckis não tinha ainda atingido. E, também, a profundidade do 3D é mesmo sensacional – e posso apenas imaginar como é a experiência em Imax, que infelizmente ainda não pude conhecer. De realmente novo, no entanto, só uma coisa: as legendas em filmes 3D. Por isso, muito obrigado, Cameron.

E assim chegamos à história em si, e à parte em que o diretor começa a fazer mais diferença. E aqui temos nada mais nada menos do que James Cameron. Se nos lembrarmos de outras produções famosas e faladas do diretor, vamos chegar sempre à mesma conclusão. Alien, O Segredo do Abismo e Titanic conquistaram fãs pelo mundo e ganharam prêmios, mas são todos filmes que se penduraram nos efeitos especiais e na ambientação para funcionar. Um olhar um pouco mais treinado acaba sempre pensando “imagine isso nas mãos de um diretor bom de fato”. Isso se reflete no tratamento da história, no ritmo, na atuação, um pouco na edição. Em tudo isso, Avatar é não mais do que um filme de médio para bom. Um filme de James Cameron. Há, sim, momentos ótimos e grandiosidade aqui e ali. Sam Worthington, é preciso dizer, é um talento a ser bem melhor explorado. Sua atuação se destaca em meio a performances médias – que são influências diretas do diretor, como o casal principal Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em Titanic.

Voltamos assim à expectativa criada ao redor de Avatar. Para o público em geral, a promessa era de diversão cinematográfica como nunca vista. Passado o impacto inicial, acredito que essa etapa foi apenas quase atingida, e o filme não resistirá a um segundo olhar mais atento. Para a crítica e os cinéfilos, anunciaram um cinema totalmente novo, em forma e conteúdo. Essa não aconteceu. Como em outros filmes de Cameron, o que eu consigo pensar são coisas como “o que faria um diretor que sabe tratar melhor a história e dá-la profundidade? Ou alguém que saiba extrair dos seus atores as performances excelentes que eles podem dar? Ou mesmo um que saiba pesar a ação e o drama em um composto equilibrado de diversão e reflexão?” E há vários nomes que se encaixam. No fim das contas, parece que o maior talento de Cameron é conseguir reunir um ambiente excepcional para a confecção de um filme, e conseguir montanhas de dinheiro para realizá-lo, características que fazem dele um produtor sem igual.

Mas, como disse no primeiro parágrafo, todo o barulho em torno do filme funcionou – como quase sempre funciona. E a crítica em geral adoro;, o público, como em Titanic, assiste repetidas vezes sem se preocupar com a qualidade do produto. Também como em Titanic, é possível que Avatar praticamente monopolize o Oscar em 2010, e com isso passamos à frente a mediocridade cuidadosamente planejada para parecer grandiosidade. Não entendam mal, medíocre quer dizer na média. E é essa a nota que, no fim das contas, o filme merece.

18 dezembro, 2009

A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog)




A Disney volta à animação desenhada à mão com A Princesa e o Sapo – o último longa para cinema da gigante foi Nem Que a Vaca Tussa, de 2004. Voltou para cumprir uma promessa antiga, de apresentar uma princesa negra. O primeiro roteiro – onde a princesa chamava-se Maddy – teve que ser mudado por críticas sugerindo escravidão e por ser “clichê demais”. Depois de conseguir se acertar com o roteiro – apesar dos clichês estarem, como sempre, presentes – a história ficou bastante simpática e envolvente. E, claro, totalmente Disney.

No bom sentido. Afinal, é o mínimo que se espera da produtora que é praticamente a responsável por tornar a animação uma forma séria de cinema – sim, podemos dizer que mesmo as animações europeias e asiáticas não encontrariam distribuição se não fosse pela Disney ter aberto a estrada. Toda a fofura e atmosfera de sonho que uma história de princesa requer estão lá, deliciosamente ambientada na Nova Orleans do começo do século passado e recheada dos personagens sempre memoráveis, transformados pelo contexto. A fada madrinha aqui é uma feiticeira vodu, o grilo falante é um gentil vagalume apaixonado, e a festa no castelo é na verdade a parada do Mardi Grass, o carnaval da cidade.

Apesar disso – ou talvez por conta disso – não é a melhor animação da Disney, nem mesmo uma das melhores. Mas nem por isso deixa de ser muito boa. Para os adultos que cresceram com os filmes do grande estúdio, é sensacional a pequena volta ao mundo da infância. Para os nossos filhos, é diversão garantida, mesmo em meio à revolução que a animação por computador continua promovendo.