01 novembro, 2011

O Palhaço - por Adelino Neto

Às vezes um amigo seu assiste a um filme que você quer muito ver antes de você. Às vezes esse amigo tem também um senso crítico aguçado para a sétima arte. Às vezes você faz uma oferta sem pensar muito, e depois tem que cumprir. Sem mais delongas, é com orgulho que o Parada Crítica apresenta seu primeiro post de convidado, com a crítica de O Palhaço por Adelino Neto:



Eu acredito muito em dom. E quando um dom é reforçado por estudo e trabalho duro, essa pessoa acaba se tornando um gênio. Eu estou falando do ator, diretor e roteirista Selton Mello. Não que eu o considere um gênio, mas é notório o seu dom. E já que ouvi e li por aí sobre o seu excessivo comprometimento com o trabalho, é apenas uma questão de tempo para poder afirmá-lo como gênio.

Já vi várias séries e filmes protagonizados pelo ator. Dentre eles, Lavoura Arcaica e Cheiro do ralo são os meus preferidos. Atuações que eu o senti mais “dentro” do personagem. E até o momento, havia visto apenas um filme que ele escreveu e dirigiu. O curta-metragem Quando o Tempo Cair. Ali eu percebi uma veia mais, digamos, poética e intimista. Com a pretensão de ser despretensioso. Trocadilho pode, Arnaldo? No seu currículo, se não me engano, ele escreveu e dirigiu mais dois longas e alguns vídeo-clipes.

Mas eu estou fazendo esse preâmbulo todo apenas para dizer que no fim de semana eu finalmente assisti seu último longa-metragem, O Palhaço. Fui ao cinema sabendo que assistiria algo bom. Mas, vi bem mais do que isso. Vi uma obra madura, de um cara que, atrás das telonas, nem é tão maduro assim.

O filme, escrito, dirigido e protagonizado pelo próprio Selton, narra as aventuras da trupe de um pequeno circo, que leva o nome de Esperança, pelo interior de Minas Gerais. Inclusive por Passos, cidade natal do Diretor. A responsabilidade de gerir a empresa está nas mãos, melhor, nas costas do filho do dono do circo, Selton, que luta contras suas inseguranças, angústias e dúvidas. Um triste palhaço que nasceu no circo e tem a responsabilidade de cuidar do mesmo. De resolver todos os problemas técnicos e logísticos da empresa sem uma participação ativa do pai, dono do circo e dupla de “palhaçada” no picadeiro, o sempre excelente Paulo José.

A fotografia impressiona por mostrar a beleza de um cenário que, a olho nu, as pessoas nem reparariam: morros, campos, canaviais e pequenas cidades interioranas. O figurino, maquiagem e direção de arte são outros pontos que merecem destaque. Junto com o texto timidamente cômico e dramático, e, claro, a impecável atuação de todo o elenco.

Palmas para a sacada genial de homenagear artistas que estavam desaparecidos do grande público e que deram um verdadeiro show: Jorge Loredo, mais conhecido como Zé Bonitinho, Luiz Alves Pereira Neto, o famoso Ferrugem, Moacir Franco, Teuda Bara e o próprio Paulo José.

O Palhaço passa a sensação de simplicidade, apesar dos detalhes complexos. Fato que só os bons roteiros conseguem. A leveza e o intimismo parecem a de um filme despretensioso. Mas, não se engane. Se você entrar na sala com o intuito de apenas se entreter, ótimo. Sairá da sessão leve, tranquilo e feliz. Nada de mais. Mas, se por acaso decidir se envolver com o personagem, ou com os personagens, prepare-se. Você se surpreenderá.
______________________________________________________________________________
Adelino Neto é Diretor de Criação e sócio da FCS Bem Pensado, de Cuiabá, além de cineasta inconformado, prestes a iniciar seu primeiro curta-metragem.


Nenhum comentário: