31 março, 2012

A Dançarina e o Ladrão (El Baile de la Victoria)


Algumas vezes a reunião de características de um filme não é suficiente para enxergarmos sua qualidade. Em A Dançarina e o Ladrão, produção de 2010 do diretor espanhol Fernando Trueba que só agora chegou aos cinemas brasileiros, parece à primeira vista uma anti-aula de cinema. É basicamente como se alguém tivesse dado muito dinheiro para que um roteiro de filme B fosse rodado com produção de qualidade. A trama é recheada de clichês - o ladrão arrependido, o talento oculto pelo trauma, o personagem simpaticamente inocente - e também de aspectos técnicos repreensíveis como sentimentos e pensamentos verbalizados apenas para ocupar a cena com diálogo. Como nos filmes B, é uma história que intenciona ser um drama, mas causa risadas na platéia.

E talvez seja isso mesmo que faça, no final das contas, o filme agradar. A inocência aparente de um filme com aspecto amador - que é mentira, além da produção e qualidade, Trueba é um diretor experiente, e Ricardo Darín é um dos mais famosos atores argentinos hoje. Não há muito em que pensar. Como numa novela mexicana, tudo é entregue mastigado. Mas há lugar para algumas surpresas.

Miranda Bodenhofer é uma delas. Interpretando uma órfã muda pelo trauma de ter os pais assassinados pela ditadura chilena, ela consegue impressionar e criar um abismo artístico com seu par, o fraquíssimo Abel Ayala, que não mede bem os extremos entre o alegre e sonhador namorado e a machucada e amarga vítima de abuso sexual. Ela é a dançarina do título em português, e a Vitória do original. Darín, como sempre, está muito bem, também impondo um ritmo que o resto do filme não consegue acompanhar.

O que era para ser um drama, talvez pesado, diverte. E é aí que o filme conquista, quando consegue o que não se esperava dele. Mais ou menos como aquela obra infantil e amadora que não damos muita atenção quando vemos a primeira vez, mas que perdoamos por ser tão inocentemente despretensiosa.

Um comentário:

LuxGazz disse...

Um belo filme ...
Clichês ?? sim, e daí ??
O amor não é clichê?
O sonho não é clichê?
A mudança no olhar sobre a vida não é clichê?
Entretanto, ainda é dificil vivenciar todos estes aspectos ... estamos ainda aprendendo, engatinhando para dizer a verdade ... e por isso, o filme deve ser bem recebido sim.
Gostei muito ... e recomendo aos que tem um olhar poetico e de sensibilidade.