

O filme mostra, em uma atmosfera intimista, a vida de um tradutor de russo desempregado, que vive em uma vida vazia em um apartamento vazio, acompanhado por um cachorro sem nome que o seguiu da rua até em casa, e esporadicamente por uma modelo iniciante. Somos, no filme, intrusos na vida de Ciro, e por isso estamos sempre um tanto incomodados com a nossa "presença". Brant mostra, com muita habilidade, como mesmo com relações e posses tão poucas, uma pessoa pode perder tudo. Marcela, a modelo que visita Ciro, descobre que tem câncer e afasta-se para um tratamento. Essa ruptura mostra que, mesmo com pouco, as pessoas podem perder tudo.
O elenco, com tão poucos atores quantos são os objetos no apartamento de Ciro, sai-se muito bem, dando ao filme aquele tom de "vida real" que praticamente todo filme alternativo tem. Não há nomes famosos, nem atuações particularmente excelentes. Tecnicamente, o filme segue quase à risca o lema "idéia na cabeça e câmera na mão" tão seguido pelos cineastas brasileiros.
Cão Sem Dono é um filme que agradará muito poucos - percebe-se isso facilmente na saída do cinema. Entretanto, é um exercício de estilo, e é assim que deve ser julgado. Como um livro que poucas pessoas conseguem terminar, um filme alternativo tem o seu papel na construção da arte em que se encontra. Uma produção em que o sentido está muito escondido entre os vazios da trama e da vida do personagem principal não se presta ao grande público, mas ajuda na formação de um diretor em que ainda devemos prestar muita atenção.
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