09 outubro, 2011

Capitães da Areia



Lembro-me de ter lido - e descoberto - Jorge Amado na adolescência, com Capitães da Areia. Uma leitura deliciosa, nas passagens bem compostas, no tratamento cultural do cenário, na história rica. Confesso com alguma vergonha que não conheço a fundo a obra desse grande autor brasileiro, mas do pouco que li, Capitães sempre foi o meu preferido. Ainda é nítido pra mim o espanto de ver um livro tratar abertamente de assuntos que ainda eram controversos à época em que o descobri, e saber que a obra era ainda mais antiga, de 1937 para ser mais exato. Já havia ali uma visão que hoje ainda é rara.

Por isso recebi, como sempre, com um misto de ansiedade e apreensão a notícia de que seria adaptado para o cinema. Meu primeiro receio foi que caíssem na tentadora armadilha de atualizar a trama para os tempos atuais, mas maior ainda foi de que a profundidade da história fosse perdida em nome das bilheterias. Felizmente o comando da adaptação estava nas mãos de Cecília Amado, neta do escritor, que assina a produção, o roteiro e a direção. Ela, que já trabalhou como continuista em outra obra adaptada de seu avô, Tieta do Agreste, consegue passar para a grande tela um cenário com quase tanto sabor quando o livro - aplausos também para o co-diretor e responsável pela fotografia, Guy Gonçalves.

O elenco, a exemplo de outro grande filme nacional, Cidade de Deus, é composto em grande parte por não-atores mirins, muito bem recrutados e treinados. Toda a trupe de Pedro Bala é composta de rostos desconhecidos, mas que souberam transmitir como profissionais o misto de esperteza, maturidade e carência que forma a personalidade dos Capitães. Merecem destaque, além do próprio Pedro Bala feito por Jean Luiz Amorim, o Professor de Robério Lima, o Gato de Paulo Abade, e a Dalva de Ana Cecília. Mas o grande aplauso vai para a Dora de Ana Graciela, numa interpretação digna de prêmios.

A todos vocês que ainda viram o rosto e fazem caretas para o cinema nacional, Capitães da Areia é obrigatório, como foram o já citado Cidade de Deus e os dois Tropa de Elite. Além de ser cinema de primeira qualidade, é baseado em literatura brasileira de primeira qualidade. Claro, há concessões, e há faltas, mas o clima do livro, o charme, está todo lá. Espero que, além de levar multidões às salas, Capitães da Areia também desperte no nosso iletrado povo o desejo de conhecer mais esse grande autor.

Um comentário:

Neto disse...

Concordo. A fotografia e a atuação da atriz que fez a Dora sao ótimas. O fato do livro ter sido escrito na década de 30 e ainda se manter tao atual, é outra prova da genialidade do autor (não sei se fico feliz ou triste com isso hehe).. mas, como obra cinematográfica, na minha opinião, ficou num padrão meio "série" de canal aberto. Talvez pela montagem, talvez por alguns plots sem força. Enfim, o livro, como na maioria dos casos, deve ser mto melhor que o filme.