02 janeiro, 2007

Eragon (Eragon)




Quando J.R.R. Tolkien criou seu mundo fantástico para os vários livros do universo do Senhor dos Anéis, não imaginava o impacto que teria sobre tantas outras esferas, nem a longevidade da sua criação. São inúmeras as citações e referências à obra de Tolkien presentes em coisas tão variadas como jogos, quadrinhos, filmes e, claro, livros. Uma obra que agora chama a atenção é um desses filhotes ilegítimos, Eragon.

Pela primeira vez nesta série de críticas a filmes, vou fazer uma exceção e começar pela resenha ao livro que originou o filme. Fruto de um escritor muito jovem, Christopher Paolini, de 23 anos, que começou sua obra ainda mais jovem, na adolescência, seu Eragon bebe inadvertidamente no mundo da Terra Média. Fora o óbvio, a terra fantástica com dragões e magia, o livro tem referências bastante claras ao Senhor dos Anéis, incluindo nomes de lugares e pessoas, passando pelas línguas dos diversos povos da sua Alagaesia, e fechando com o fato do livro ser planejado para uma trilogia - dos quais o segundo acaba de ser lançado. O jovem conseguiu vender sua trilogia inacabada para o cinema, e sairá em três filmes, um em cada final de ano, a começar com este Eragon. Não, não são coincidências. Para citar apenas uma das “referências deslavadas”, há uma região na Alagaesia chamada Vanilor, perigosamente próximo da terra dos elfos na Terra Média, Valinor. O livro não é ruim, mas tem as marcas da juventude do seu autor na falta de requinte em algumas passagens, na escolha das palavras e nas descrições. Mas tem um bom ritmo, aliás um dos melhores pontos do livro, que deixa sua batalha apenas para um único capítulo, o penúltimo. É um livro escrito por um adolescente, para adolescentes - não que adultos não aproveitem o que o livro tem de bom, e há coisas boas no livro. Pode-se dizer que é um começo promissor para um autor jovem.

Já não pode se dizer o mesmo do filme. O ritmo do livro foi totalmente alterado para a película, a história sofreu alterações - como é de praxe - mas muitas delas são injustificáveis, especialmente a escolha na utilização ou não de certos personagens, e na forma como muitos deles aparecem. O livro é lento, praticamente um “road book”, com o jovem Eragon aprendendo sobre o seu destino conforme viaja primeiro na companhia de um tutor, e depois de um suspeito guerreiro. O filme faz tudo às pressas, deixando partes sem explicações e não se preocupando se o espectador entende ou não o que acontece. Mesmo para quem leu o livro, o filme fica confuso, com um ritmo mal alternado, não deixando claro nem a parte mais interessante da história original, a ligação extremamente forte entre o jovem guerreiro e seu dragão.

Culpa do roteiro mal amarado, em parte, e também da inexperiência do diretor de primeira viagem Stefen Fangmeier, que antes de Eragon só tinha trabalhado como supervisor de efeitos especiais em alguns filmes. Nesse aspecto, pelo menos, o filme é bom: o dragão é extremamente realista e vivo, e outros itens de efeitos visuais são igualmente bem feitos. Mas todo o resto é fraco. As imagens do filme não se comparam à grandiosidade do livro - que a trilogia do Senhor dos Anéis provou ser possível transcrever para a tela - os exércitos são formados por apenas alguns poucos soldados, os cenários são pequenos e inexpressivos. Há algumas boas atuações, mas elas se perdem no meio da pressa do filme em acontecer.

Se há uma lição a tirar disso, é algo que o cinema já conhece muito bem, ainda que nunca deixe de fazer: não vale a pena tentar aproveitar-se do sucesso de uma produção para encadear outras no mesmo estilo, se estas próximas não forem, no mínimo, um pouco melhores que a precursora. O que poderia ser um hit de férias, e abriria espaço para o sucesso dos próximos dois filmes, pode ter enterrado precocemente o futuro desta trilogia. O único a ganhar nesse caso é o jovem Christopher, já milionário e com muito futuro como escritor pela frente.

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