15 fevereiro, 2007

Babel (Babel)




São poucos os artistas capazes de deixar sua marca com poucas peças. O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu realizou apenas seis produções desde que estreou no cinema, em 2006. Dessas, uma é um segmento de um filme múltiplo sobre os ataques de 11 de setembro, e outra um dos curtas da campanha promocional The Hire para a BMW. Isto nos deixa com apenas quatro longas, sendo que do primeiro pouco pode-se falar. Os outros três, incluindo o seu último, Babel, têm a marca de Iñárritu. São sempre histórias múltiplas com uma conexão, nem sempre muito clara, mas sempre muito importante. Todos eles tratam, em suas múltiplas histórias, de um assunto bem específico.

Babel, como o nome bíblico sugere, trata de comunicação. Ao contrário da história da Bíblia, porém, não da comunicação entre idiomas diferentes. As quatro histórias que o filme apresenta mostram pessoas com problemas para conversar. O casal americano que perdeu um bebê e culpa-se mutualmente; os irmãos marroquinos de uma família criadora de cabras; a babá mexicana e ilegal que cuida dos filhos do casal americano como se fossem seus, mas não deixa sua família, no México; pai e filha japoneses, ela surda-muda, vivendo sob a sombra da mãe e esposa que cometeu suicídio. Eles conversam, mas não se entendem. Será preciso um acontecimento trágico para que isso aconteça.

Como nos filmes mais conhecidos do diretor, é o roteiro que tem o papel principal. A edição, carregada de cores e emoções, é coadjuvante, como os atores. Sem bandidos, sem mocinhos, sem rodeios. Quem não for atento, terá a impressão de que o diretor e o roteirista se desentenderam, e o filme virou uma salada. Pelo contrário. Apesar dos distúrbios conhecidos entre o diretor e o seu roteirista parceiro Guillermo Arriaga, Babel mostra que, entre eles, ainda há entendimento.

Outra marca de Iñárritu é não ser um diretor para muitos. As chances de você sair do cinema acompanhado por críticas categóricas vindas das outras pessoas na sala são grandes. O diretor não se esforça para explicar, e isso deixa alguns espectadores desconfortáveis com a responsabilidade de atar os nós da trama. Quem consegue vencer o desconforto e mirar no grande cenário, no tema mesmo do filme, sairá agradavelmente satisfeito do cinema, e com a vontade de ligar imediatamente para aquela pessoa cuja última conversa saiu pelo lado errado

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