15 abril, 2007

300 (300)




Robert Rodriguez prestou um grande serviço ao cinema em 2005. E não estou falando aqui do excelente Sin City, mas sim do fato de conseguir trazer Frank Miller para o mundo do cinema novamente. Sim, novamente. Miller, um dos - senão o - maiores escritores de histórias em quadrinhos, foi convidado em 1990 a fazer o roteiro da continuação de Robocop, e em 1992, do terceiro também. Algumas diferenças criativas e imposições do estúdio desagradaram Miller, que afastou-se completamente da sétima arte, respondendo com um "não" pronto a qualquer investida de qualquer pessoa que quisesse qualquer coisa dele nos cinemas, inclusive suas maravilhosas histórias em quadrinhos. Para quem não o conhece, ele é o autor de pelo menos três HQs que figuram entre as 10 melhores de todos os tempos na percepção dos fãs da nona arte, incluindo a história que é considerada a melhor de todas: O Cavaleiro das Trevas. Quando se desligou do cinema, nenhuma de suas obras tinha ganhado as telas. Rodriguez, em uma manobra arriscada mas certeira, conseguiu atrair Miller para as telas novamente, inclusive dividindo a direção do Sin City - que, ainda hoje, é a melhor adaptação de uma HQ para o cinema. O resultado foi tão bom que já há duas continuações "no gatilho".

Enquanto isso, outra das grandes obras de Miller ganha agora sua versão na tela grande. Pelas mãos de Zack Snyder, um novato com apenas um outro filme no currículo, o terror-trash Madrugada dos Mortos. Snyder adaptou o roteiro dos quadrinhos de Miller, e arquitetou um esquema para conseguir produzir um épico com orçamento de comédia romântica. Foi tão bem sucedido que já começa a ser usado como modelo para as futuras produções do gênero, e sendo aclamado como um "divisor de águas". Exageros à parte, seu 300 é realmente espetacular.

O que se vê na tela é uma tradução muito fiel não apenas da estética do quadrinho, mas também da força narrativa. A fotografia com contrastes extremamente realçados, com cores como o vermelho e o amarelo sobressaindo, a utilização de câmeras de alta rotação - resultando em belíssimas cenas em um perfeito slow motion - é um deleite para os olhos. A história, por sua vez, é um deleite para a mente. Antes que um historiador queira argumentar, vale lembrar que a origem é a história em quadrinhos, e não os fatos históricos em si.

Os atores escolhidos, todos do "segundo escalão" de Hollywood - e nisso fica a marca do brasileiro Rodrigo Santoro, num papel pequeno mas importante na fita - demonstram boa desenvoltura em ótimas atuações. O cenário digital foi muito bem aplicado, e todo o resto se encaixa com exatidão.

Mais importante do que isso, é a manutenção da linguagem. As primeiras adaptações de quadrinhos levavam em conta apenas os personagens para contar histórias novas. Agora começamos a ver histórias inteiras traduzidas fielmente para as telas, e isso fez toda a diferença. Para a maioria que não leu os quadrinhos, é a chance de conhecer histórias tão boas como a dos melhores livros, contadas em conjunto com o que, nas HQs, também conta muito, que é o visual. Snyder já tem preparado outro projeto envolvendo os quadrinhos: Watchmen, outro dos que figuram entre os 10 melhores. Se o resultado for parecido com o de 300, será também imperdível.

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