16 setembro, 2007

O Vigarista do Ano (The Hoax)




Boas histórias têm que ser contadas, mesmo que não sejam verdadeiras. Nada de mais até aí, mas e quando você tem uma história que seria boa demais se fosse verdade, e a vende como se de fato fosse? Esse é o mote de uma das mais incríveis publicações que o mundo jamais viu: a autobiografia do excêntrico milionário Howard Hughes. Para quem não o conhece, ele é o personagem interpretado - muito bem, diga-se de passagem - por Leonadro DiCaprio em O Aviador. Mas aqui a história é sobre outro excêntrico, Clifford Irving, que nos anos 70 foi do inferno ao céu, para voltar logo depois, com uma das maiores mentiras já contadas.

Richard Gere interpreta o notório enganador, que quase levou um milhão de dólares com sua farsa. Não se via uma atuação tão boa de Gere desde Chicago em 2002, bem longe das comédias românticas e dramas melosos que lhe deram fama. Ele aqui dispensa seu charme natural para encarnar Irving em uma atuação notável. Alfred Molina, seu comparsa na trama, está como sempre muito centrado em seu papel, que aqui é de coadjuvante. Molina é um dos raros grandes atores que podem ser escalados para papéis menores e ali sentirem-se confortáveis. À frente da trama está Lasse Hallström, que também dirigiu os ótimos Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador, Regras da Vida e Chocolate - este também com Alfred Molina - entre outros muito bons.

A forma como a mentira se construiu, e a dimensão que ela ganha a cada movimento que Irving é obrigado a fazer para garantir sua credibilidade, são o ponto mais interessante da história. Mas é igualmente interessante a sugestão da forma como o autor foi consumido pelo monstro que ele mesmo criara, às vezes quase acreditando de fato no que dizia, a ponto de alucinar sobre alguns acontecimentos que legitimariam a farsa que começou. E é interessante, também, notar a fragilidade que uma personalidade tão forte como era a de Hughes pode ganhar face à sua extravagância - a suposta maior autoridade sobre o milionário, o último jornalista a conseguir entrevistá-lo, parabenizou Irving pelo excelente trabalho, garantindo que via claramente nas palavras o próprio Howard.

E tudo isso interligado a um dos maiores escândalos políticos norte-americanos, o caso Watergate. Enquanto uma mentira ganhava vida, outra era escondida nos não tão indevassáveis arquivos do governo. A nova onda de filmes baseados em fatos reais - ou contando histórias de personalidades - tem gerado frutos muito bons. Este é um deles.

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