01 dezembro, 2007

A Lenda de Beowulf (Beowulf)




Robert Zemeckis foi o primeiro dos bons diretores já conhecidos a aventurar-se no universo das animações em 3D. Em 2004 ele estreou a animação O Expresso Polar, que apresentava uma requintada técnica de animação por captura de movimentos reais, além de usar atores de verdade - no caso, Tom Hanks, em diversos papéis. O filme chamou pouca atenção, mas a técnica foi aplaudida - e utilizada novamente no ótimo A Casa Monstro, que Zemeckis produziu. Agora o diretor de De Volta para o Futuro, Forrest Gump, Contato e Náufrago, para citar alguns dos seus maiores sucessos, volta à animação para trazer às telas uma versão do épico inglês Beowulf.

A história é mais antigo poema escrito em língua moderna - o inglês - datando de mais ou menos 1500 anos. É um marco na literatura pelo estilo da história, pelo uso intenso de aliteração, e foi a inspiração de diversos outros textos, incluindo o Senhor dos Anéis de Tolkien. Não é a primeira vez que ele é filmado. A primeira é uma animação em "tradicional 2D" de 1981 que se chamou Grendel Grendel Grendel. A segunda, uma bobíssima adaptação ambientada em um futuro estranho e estrelada pelo highlander Christopher Lambert. A terceira, lançada a apenas dois anos, é uma desconhecida versão canadense, com ninguém menos que o Rei Leônidas Gerard Butler no papel principal. A versão de Zemeckis tem a vantagem de ter o escritor de quadrinhos Neil Gaiman como um dos roteiristas, e o fato de ter sido feito em uma ultra realista animação por computador, usando novamente atores de verdade.

A modelagem está soberba. Há mesmo alguns momentos em que podemos confundir com uma cena filmada, inclusive em alguns closes - que normalmente mostrariam a excessiva perfeição dos modelos, causando a impressão de algo irreal. A técnica dos movimentos, que parecia ter progredido muito em A Casa Monstro, aqui aparentemente deu um passo atrás. Em alguns momentos o filme é bastante fluído, com ótimas expressões corporais, mas na maior parte do tempo guarda aquela certa dureza das primeiras animações por computador. O tempo curto da fita para uma história tão longa e complexa causa algumas confusões em certos trechos - mas é preciso ressaltar que, da forma em que está, não suportaríamos um tempo muito além do utilizado. Fica bastante claro que o roteiro ficou limitado às capacidades técnicas da animação, apesar do patamar alto que foi perseguido.

Provavelmente teríamos um filme bem melhor se ele fosse feito filmando os atores reais e utilizando a computação gráfica para os efeitos especiais. Mas o Beowulf de Zemeckis deve ser reverenciado não pela qualidade cinematográfica, que deixa um pouco a desejar, mas pela quebra de paradigmas que pode ter iniciado. Muito do que acontece no filme é inédito na animação para o grande público e, repetindo, a modelagem está fantástica. Por hora, funciona melhor como uma curiosidade que como exemplo de um filme excelente.

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