20 julho, 2008

Nome Próprio




Um filme que poderia ter sido escrito pela sua personagem. Assim é Nome Próprio, um filme brasileiro bastante alternativo que ganhou rara divulgação - ainda que ela não tenha se refletido nas salas onde é exibido. Com todos os toques e trejeitos do nosso cinema-cabeça, usa e abusa da metalinguagem, levando às telas um misto de literatura, cinema e internet. Sim, tudo isso afasta um bocado boa parte dos espectadores, mas não tira nada da qualidade. Apesar da impressão de "já vimos isso antes" - afinal nem a linguagem, nem a forma, são de todo desconhecidas de quem gosta desse tipo de filme - somos levados muito facilmente pelos devaneios de Camila, a jovem problemática e impulsiva que usa seu blog para expiar seus demonios.

Murilo Salles, o diretor - do excelente Como Nascem os Anjos - soube adicionar alguns temperos extras, e temos um humor um pouco mais elaborado e ácido. E soube, principalmente, escapar aos mais que batidos clichês dos filmes brasileiros, sem nem mesmo citar nossas conhecidas mazelas. Ele não precisa disso. Na cabeça de Camila, só existe a necessidade de escrever, de se expressar, a necessidade de algo que nem mesmo ela sabe ao certo o que é. A nós, só resta acompanhá-la.

Camila é interpretada por uma espantosamente intensa Leandra Leal. Mesmo quem já a viu em outros filmes, ou nas novelas, e já sabia que ela é uma ótima atriz, vai se espantar. Leandra se entrega à personagem, e dá à Camila contornos tão reais que quase não é necessário que haja mais alguém em cena. E olha que estamos falando de vários nomes de peso contracenando com ela na fita, como a também alternativa Rosane Mulholland, do recente Falsa Loura; Juliano Cazarré, do explosivo A Concepção, do qual Rosane também participou; e até mesmo uma pequena ponta de Milhem Cortaz - olha só, ele também esteve em A Concepção, mas é mais conhecido pelo seu papel em Tropa de Elite. Mas é Leandra Leal que domina a tela, e a história pede exatamente isso dela.

Sem apresentar necessariamente muita novidade, Nome Próprio é, ainda assim, um sopro muito bom no cinema brasileiro. Baseado nos livros e no blog da escritora Clarah Averbuck, é um exemplo de que se pode fazer bom cinema no Brasil sem ter que apelar para os assuntos que já filmamos tantas vezes. É um filme feito pelo prazer de se contar uma boa história, ainda que não da forma que todos gostariam de ouvir. Não é fácil acompanhar a eletricidade de Camila. Mas, aos que ousarem, estão reservados alguns minutos bastante interessantes.

3 comentários:

Anônimo disse...

"Nome Próprio" nem estreou por aqui infelizmente, mas parece ser bom. Quando chegar na locadora daqui uns meses quero alugar.

Abraço
Mateus

Tiago Mota disse...

É uma pena que o circuito estritamente comercial de algumas cidades impeça que filmes como este tenham a distribuição que poderiam. Felizmente, estamos vivendo um silencioso boom de novas salas surgindo, e, quem sabe, em breve você não tenha um box office alternativo perto de você.

Anônimo disse...

Oi Ti.
Provavelmente vc conheça, mas como não sitou no texto:

www.adioslounge.blogspot.com

Esse é o blog da Clarah Averbuck, que por sinal está com um post sobre Cuiabá.

Grande Abraço! Saudades.

Leandro M. Moraes.