24 fevereiro, 2008

O Som do Coração (August Rush)




A música mexe com as pessoas, como poucas das artes. É possível encontrar alguém que diga que não gosta de pintura, de dança, de literatura, e até mesmo - heresia! - de cinema. Mas não se encontra alguém que não gosta de música. Ela é também a mais democrática das artes. Não apenas qualquer um pode apreciar, em qualquer lugar, como também qualquer um pode fazer, seja com instrumentos "oficiais", inventados, ou apenas com a própria voz. Estale os dedos em um determinado ritmo, e você está fazendo música. E a relação das pessoas com a música já foi tema de muitos filmes - que não são necessariamente musicais. O Som do Coração é uma peça belíssima, que utiliza muito bem a linguagem musical na sétima arte.

O recado principal da fita é dado já na primeira cena. Há música em todo lugar, apenas temos que ouvi-la. E os sons do filme são habilmente trabalhados para fazer a afirmação ser verdadeira. Quando o personagem principal, interpretado pelo jovem Freddie Highmore, sente-se bem, a música do cotidiano, o som das ruas, tem uma bonita melodia, que se torna uma série pouco agradável de ruídos quando ele sente-se angustiado. A interpretação do garoto Freddie coloca-o na lista dos pequenos ótimos atores, seguindo a trilha iniciada na nova geração por Haley Joel Osment e, mais recentemente, pela impressionante Dakota Fanning. Sua interpretação possui a força que só uma criança pode alcançar. Seu principal coadjuvante, Robin Williams, torna essa força ainda mais evidente. É notável também nesta produção o irlandês Jonathan Rhys Meyers, não tanto pela interpretação - que é boa, mas nada superlativo - mas especialmente por dar a sua voz a alguma das músicas do filme, e descobrimos que ele é não apenas afinado, como possui um timbre agradável. Keri Russel, conhecida do seriado de TV Felicity, completa o elenco principal, numa atuação que perde longe para a de Freddie.

E é com surpresa que recebemos bem Kirsten Sheridan, a também irlandesa diretora. Ela mostra muita sensibilidade ao conduzir muito bem uma história cheia de pequenas complexidades, que ficam ocultas no belo resultado que conseguiu alcançar. Alinhar a poesia e a música da história à linguagem do cinema não é tão fácil como pode parecer para quem assiste. Tornar todos esses ingredientes um filme tão bom é ainda mais difícil. Leve e tocante - sem duplo sentido - é um filme que os músicos irão adorar, e que vai fazer os não músicos terem vontade de passarem a sê-lo.

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