05 abril, 2008

Chega de Saudade




Quando Laís Bodansky lançou Bicho de Sete Cabeças, coincidentemente há sete anos, todos nos espantamos com a força da sua narrativa. Seja nos festivais em que amealhou prêmios pelo país, seja nas - infelizmente poucas - salas comerciais em que saiu, a história real do adolescente que fuma maconha e vai parar em um hospício mostrou ao Brasil uma diretora com um pulso e uma sensibilidade que há muito não se via no cinema brasileiro. Estamos desde então esperando por seu próximo filme, e agora finalmente temos Chega de Saudade. Bem diferente da sua produção anterior, esta é um retrato de uma noite em um salão de baile em São Paulo.

Esse mote quase simplório desdobra-se em inúmeras camadas, onde percebemos a profundidade que existe em qualquer microambiente. Bodansky nos apresenta, pouco a pouco, a todos os personagens típicos das chamadas gafieiras e, com bastante habilidade, nos dá os seus diferentes contextos. Cada pessoa ali tem a sua própria história, suas próprias paixões, e seus próprios motivos para estar no salão. Sem a necessidade de citá-los, a diretora nos mostra que é nas entrelinhas que os bons roteiros acontecem.

O olhar detalhista é o principal ponto de contato com Bicho de Sete Cabeças. No salão do baile, passeamos tanto por planos gerais quanto por closes inusitados, como as mãos nervosas da mulher ansiosa por ser tirada para dançar, no olhar saudoso de um veterano da pista, nos pés do casal que dança, na anacrônica mas sempre presente bola de espelhos. A gafieira é devassada e explicada pelos seus próprios frequentadores. Um excelente time de veteranos das telas diverte-se com a possibilidade de encarar tipos tão peculiares. A jovem Maria Flor baila junto aos veteranos, e talvez o único ponto baixo da fita seja a fraca presença de Paulo Vilhena, claramente destoando com sua atuação pobre.

Acima de tudo, Chega de Saudade é um filme divertido. Leve e engraçado, quase não deixa ver a beleza que permeia a produção. Sem piadas e sem gagues, é ainda assim um filme em que se ri muito. E, claro, há a trilha sonora, uma excelente mescla das mais tradicionais músicas dançantes brasileiras com nomes mais atuais, sempre fantasiada pela bandinha do baile. Enfim, um filme brasileiro que é capaz de prestar uma bela homenagem à nossa cultura, sem apelar para nossas mazelas, mas também sem fugir delas. E tudo isso embrulhado em uma deliciosa embalagem.

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